Paul in Rio 2.0 – 23 de maio de 2011: McCartney transforma o Engenho de Dentro em uma Disneylândia

Depois de toda a interação com o público na noite de domingo, com seus inesquecíveis Na Na Nas, ficou óbvio que Paul e banda viriam para detonar ainda mais na noite de segunda-feira.

O receio de que o estádio não recebesse a sua capacidade máxima terminou bem antes do início da apresentação, o que só comprova a tese de que os Beatles ainda possuem muitos fãs. Quem vai a um show numa segunda à noite na Zona Norte precisa ser muito fã. E todos provaram que eram.

Paul subiu ao palco com a pontualidade habitual, uma disposição poucas vezes e um repertório único na Up and Coming Tour. Se a apresentação do dia 22 foi burocraticamente pensada para agradar a um público variado e ávido por diversão fácil e acessível. Na segunda, a coisa era diferente. O povo estava lá para ver um dos gênios da música de todos os tempos desfilando suas criações e torcendo para que ele se renovasse, reinventasse.

Se os poucos relatos sobre como foi o soundcheck feito pela manhã revelavam que canções como Petruska e Magical Mystery Tour, ninguém poderia prever o que McCartney e banda prepararam para a noite – isso, após acordar e ter disposição para um passeio de barco na Baia de Guanabara. Num misto das set lists de 2010, Macca reservou para o Rio canções até então inéditas em seu repertório desde 2009/2010. Até mesmo a roupa – um paletó e calças pretas – foram novidade.

A disposição da plateia em cantar foi potencializada ao máximo após Back in the USSR. O coro de u-uh-uh foi tão longo que ganhou a introdução da canção seguinte, I’ve Got a Feeling. Se não tivemos cartazes com Na Na Nas, tivemos muito mais participação, tivemos Coming Up e I Saw Her Standing There.

Mesmo com o som mais pesado e rockeiro já apresentado em sua longa carreira, ficou claro que a Disneylândia montada por McCartney incomodou alguns pseudo intelectuais, que ainda pensam estar nos anos 70, que ainda pensam que todos precisam ser engajados politicamente e ter uma motivação superior. Parecem saídos de um filme em preto e branco, como o que mostra uma passeata de artistas e defensores da MPB contra a guitarra elétrica em 1967. Simplesmente ridículo.

Paul McCartney é – como diria um personagem do mesmo filme, quando perguntado sobre 1967 sobre a música pop – o que ele é: um homem com o dom da melodia. Ele já pode ter mandado os políticos se fu…., pode ter pedido pela libertação da Irlanda e até mesmo composto pensando na morte de Chico Mendes. Mas Paul, acima de tudo, é entretenimento, diversão. As pessoas precisam aceitar isso: a genialidade alheia.

Being in Rio was fantastic from the minute we landed….

Fim de espetáculo e Paul sai voando (literalmente) para a Inglaterra e sua pequenina filha. Porém, ao contrário do que aconteceu em todos os shows anteriores, deixou mensagens e vídeos sobre sua estadia na Cidade Maravilhosa (um deles podem ser vistos no fim do texto). Pelo jeito, os rumores de uma possível volta (ainda em 2011) não parecem tão absurdos assim.

Mesmo para quem ficou eternizado na primeira fila e em uma transmissão pela internet – como XG e sua indefectível camisa do Botafogo – ficou claro que o velho Macca ainda pode surpreender e se superar, quando quer.

Até a próxima.

Paul Facts (publicado em O Globo)

Zero- foi o número de garrafas d’água consumidas durante os shows. Como este senhor se hidrata?

7 – número de músicas em que a gravata resistiu no pescoço do ex-beatle no show de segunda-feira

90.000 – Totalidade do público presente aos dois shows – 45 mil por noite. Lotação esgotada no Engenhão, que finalmente, dizem as más línguas, viu casa cheia

“First time in Rio” – “Ob-la-di-Ob-la-da” foi tocada pela primeira vez no Rio no domingo

Nunca antes na história dessa turnê – “Coming up” e “I Saw Her Standing There” foram tocadas pela primeira vez na turnê brasileira no último show do Rio.

Bordão – A palavra “demaish”, com direito a sotaque carioca, foi repetida mais de uma dezena de vezes pelo Paul

Estilo – No domingo, camisa branca com gola e punhos azuis. Na segunda, camisa azul com gola e punhos brancos

Haja fôlego- quatro minutos cravados foi a duração do corinho do “Na na na” de “Hey Jude” no domingo

Melhor flash mob – Os cartazes com “Na na na”s e balões coloridos erguidos pela plateia no domingo fizeram bater mais forte o coração do velho Macca

20 trocas de instrumentos – entre baixo, três tipos de guitarra, dois pianos, violão, bandolim e até um ukulele, Paul trocou de instrumentos como Tim Maia trocava de camisa

Melhor dançarino de Macarena – o baterista Abe Laboriel Jr., que fez a clássica dancinha enquanto tocava bumbo em “Dance Tonight”

Momento vintage – a guitarra Epiphone Casino usada no show em “Paperback writer” foi a mesma usada durante a gravação da canção em 1966

Black is beautiful – “Blackbird”, inspirada nos conflitos raciais dos Estados Unidos na década de 1960, foi dedicada à luta pelos direitos civis dos negros

Peso pesado – para encantar os cariocas, Paul trouxe 80 toneladas de equipamento ao Rio

Alta definição – Os telões laterais têm altura aproximada de um prédio de 8 andares

Tamanho do palco – Cerca de 70m de largura e 24m de profundidade

Amor aos animais – No camarim, Paul exigiu que nenhuma mobília do camarim fosse feita de pele animal. Proibiu até mesmo estampas que lembrassem zebrinhas ou oncinhas. Nem couro artificial ele permitiu

As canções:

1. Magical Mystery Tour
2. Jet
3. All My Loving
4. Coming Up
5. Got To Get You Into My Life
6. Sing The Changes
7. Let Me Roll It
8. The Long And Winding Road
9. Nineteen Hundred and Eighty Five
10. Let ‘Em In
11. I’m Looking Through You
12. And I Love Her
13. Blackbird
14. Here Today
15. Dance Tonight
16. Mrs Vandebilt
17. Eleanor Rigby
18. Something
19. Band on the Run
20. Ob-La-Di, Ob-La-Da
21. Back In The USSR
22. I’ve Got A Feeling
23. Paperback Writer
24. A Day In The Life / Give Peace A Chance
25. Let It Be
26. Live And Let Die
27. Hey Jude

Encore

28. Day Tripper
29. Lady Madonna
30. I Saw Her Standing There

Second Encore

31. Yesterday
32. Helter Skelter
33. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band / The End

Fotos: Marcos Hermes / Divulgação

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