Elza Soares comemora 50 anos de carreira com novo show

Uma das vozes mais marcantes e reverenciadas da MPB, Elza Soares continua na ativa do alto dos seus 74 (muito bem vividos) anos. A diva não para e volta nesta sexta e neste sábado, ao palco do Teatro Rival Petrobras para uma minitemporada de seu show Deixa a nega gingar, título da coletânea lançada em 2010, que comemorou seus 50 anos de carreira musical.

O Rival, local da maioria das suas últimas apresentações no Rio, deve, como sempre, receber um grande público, ansioso por ouvir os malabarismos vocais e scats da cantora.

“Elza é sempre um espetáculo. É incrível sua facilidade para brincar com a voz unicamente rouca e sua vitalidade. Ela sempre tem alguma surpresa para o público. No último show que a vi, ela trocava de roupa no palco, atrás de um biombo”, conta o empresário Aurélio da Matta, fã da cantora e que garante a presença nos dois dias de apresentação.

Mas não são apenas surpresas cênicas que aguardam o público. Elza não só viaja pelo samba e samba-jazz, como também vem flertando com ritmos e tendências mais atuais, como o house, techno, drum’nbass, dubstep e breakbeat, que estão presentes em seus últimos trabalhos, como os excelentes Do Cóccix até o Pescoço (2002) e Vivo Feliz (2004).

“Eu também sou bluseira. Gosto de Billy Holiday e Elizete Cardoso, da mesma forma que sou fanática por Chet Baker e João Gilberto. Ao mesmo tempo, quero que a nova geração conheça meu trabalho, por isso esse flerte com o hip hop, techno, etc”, explica Elza.

Presente também em vários projetos de outros artistas, Elza Soares mantém seu suingue brasileiro, mesmo com novas leituras de clássicos de seu repertório como Nega do cabelo duro, Malandro, Chove chuva e Mas que nada. As novas roupagens, que ficam a cargo de uma banda – JP Silva (violão de sete cordas), Gabriel Bubu (baixo), Marcelo Callado (bateria) – onde se destacam as presenças de dois DJs (Ricardo Muralha e Bruno Queiroz), responsáveis pelo sabor moderno das novas interpretações.

“Não importa como ela apresenta as canções, é a voz que nos hipnotiza. Elza é uma cantora única no mundo. Sua técnica é incrível e cada apresentação é uma verdadeira aula para qualquer um que queira viver de música”, diz o professor de música Antônio Pedro de Oliveira, outro fã de carteirinha da cantora.

A mesma opinião de Antônio Pedro é compartilhada por grandes nomes da MPB.

“Elza é a expressão raríssima da voz feminina num País de cantoras”, definiu outra grande musa da nossa música, Maria Bethânia.

Mas nem tudo foram flores na vida dessa mulher com seu jeito eterno de musa. Mãe de nove filhos, ela teve um início de vida difícil e chegou a pensar em abandonar a carreira, após a morte trágica do filho Manuel, em um acidente de carro quando ia visitar o túmulo do pai, Garrincha, em 1986.

Mulher vaidosa, Elza Soares também é dona de frases de efeito e orgulha-se de ser constantemente convidada para fazer ensaios sensuais.

Não tenho culpa de ser gostosa, né?”, costuma dizer.

Quem quiser entender melhor como foi a vida e a carreira dessa cantora mundialmente conhecida, a melhor pedida é assistir ao documentário Elza, dirigido por Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan (lançado em 2010). Lá, depoimentos e números musicais retratam um perfil honesto da artista. As participações ao lado de nomes como Caetano Veloso e Paulinho da Viola já valeriam o aluguel do DVD.

Reedições

Além dos lançamentos mais recentes, a discografia de Elza Soares também ganhou um reforço com as reedições de seis álbuns da cantora pelo selo DiscobertasElza Soares (1974), Nos braços do samba (1975), Lição de Vida (1976), Pilão + Raça = Elza (1977), Somos Todos Iguais (1985) e Voltei (1988) – todos com reprodução das artes originais dos LPs e faixas bônus.

Apesar da irregularidade do material que compõe os discos, fica sempre evidente o profissionalismo e a paixão com a qual Elza se entregava a cada uma das interpretações. O destaque maior fica mesmo pelo álbum de 1974, onde a versão de Quem há de dizer (Alcides Gonçalves e Lupicínio Rodrigues) já vale todo o investimento. Mas em Lição de Vida (1976), a cantora gravou o samba Malandro (Jorge Aragão e Jotabê), que se tornou obrigatório na maioria de seus shows pelo mundo.

Outro disco que merece uma audição atenta é Voltei (1988), onde Elza interpreta uma série de sambas compostos por integrantes do histórico bloco carnavalesco Cacique de Ramos.

Pode não ser muito fácil encontrar esses relançamentos (originalmente editados em 2010), mas todo o esforço será compensado pela audição de uma das intérpretes mais ecléticas e talentosas já produzidas pelo “País das cantoras”.

Serviço:

O Teatro Rival Petrobras fica na Rua Álvaro Alvim, 33/37, Cinelândia. Sexta e Sábado, às 19h30. Os ingressos variam entre R$ 30 e R$ 75. Informações: 2240-4469.

Texto originalmente publicano no jornal O Fluminense

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