Considerado um dos pioneiros do blues de Chicago, o guitarrista de 76 anos segue rodando o mundo com apresentações marcadas por surpresas no repertório
Se B.B. King é rei e se Eric Clapton é Deus, Buddy Guy é um mago. Esse negro, nascido no estado norte-americano da Louisiana, em 1936, é considerado um dos pioneiros do que se convencionou chamar de blues de Chicago.
Influência sempre citada por gente como Jimi Hendrix, Stevie Ray Vaughan e o já citado Clapton, Buddy Guy apareceu com seu estilo avassalador quando ainda fazia parte da banda de outra lenda do blues, Muddy Waters. Depois, foi disparando solos alucinados em discos de gente como Koko Taylor, Howlin’ Wolf e do camarada Junior Wells.
O seu jeito agressivo de tocar o faz ser lembrado em qualquer lista dos maiores guitarristas de todos os tempos, fazendo com que um grande número de fãs do blues o siga em qualquer uma das suas (muitas) passagens pelo Brasil e pelo Rio, onde já se apresentou em praticamente todas as grandes casas de espetáculos da cidade.
“Buddy Guy é um artista que não podemos nos dar ao luxo de não ir ver. Todas as suas apresentações são únicas e são sempre aulas de blues. Juntei um grupo de amigos e fechamos um camarote para assistir com o conforto e atenção que sua música merece”, afirma o engenheiro Rodrigo Cobra, que comprou seu ingresso desde dezembro do ano passado.
Indicado ao Hall da Fama do Rock’n’Roll em 2005, Buddy Guy, ao contrário de muitos artistas que se escondem da fala ou se mostram aborrecidos com ela, Buddy é uma figuraça. Sorriso aberto e gargalhada sonora, ele adora bater papo com a plateia e até mesmo se dá ao luxo de mostrar como vários outros guitarristas tocam o blues, para logo depois emendar algum clássico com uma ferocidade não encontrada em nenhum outro instrumentista do gênero.
“Houve uma vez na qual ele desceu do palco tocando, passou pelo meio do público, foi até o bar, pediu uma cerveja e voltou ao palco, bebendo e tocando. É um showman com blues na veia”, conta Cobra.
O humor de Guy arranca risadas e ameniza o teor quase sempre trágico da maioria das letras de canções de blues, cheias de sofrimento, amores perdidos e não correspondidos. Ninguém sai triste de seus shows.
A discografia de Buddy Guy é extensa e são vários os álbuns que merecem destaque como Every Day I Have the Blues (com Junior Wells), Hot And Cool (1969) e Living Proof (2010), que ganhou um prêmio Grammy (são cinco, no total da carreira) como melhor álbum de blues contemporâneo. Guy também é figura constante em vídeos e shows ao vivo de outros artistas como Santana e John Mayall. Um dos momentos clássicos aconteceu no DVD Shine a Light (2008), dos Rolling Stones, quando, após uma performance incendiária em Champagne & Reefer (uma antiga canção de Muddy Waters), Keith Richards dá a sua guitarra ao mestre, em um sincero gesto de reverência.
Aos 76 anos, Buddy segue rodando o mundo com a mesma disposição de um garoto. Suas apresentações são realmente únicas e é praticamente impossível prever o que será tocado. Ele pode desfilar uma sequência de clássicos de Muddy Waters, prestar homenagem ao também lendário John Lee Hooker, ou relembrar Peggy Lee, Cream ou Jimmy Hendrix. Os shows geralmente não apresentam mais do que 12 canções, mas que são recheadas daquilo que o público quer: solos e mais solos de guitarra.
Mas que não pensem que ele é apenas um excepcional guitarrista, Buddy Guy também é um cantor talentoso e que leva o blues para um registro bem diferente do de gente como Howlin’ Wolf ou Albert King, com seus agudos, que combinam perfeitamente com o timbre da sua Fender Stratocaster. Buddy não faz promessas, mas sempre cumpre sua missão de tornar seus shows homenagens ao bom blues.
Serviço
Buddy Guy
Local: Vivo Rio – Aterro do Flamengo
Data: 11 de Maio
Horário: 22 horas
Preços: Entre R$ 130 e R$ 320
Texto originalmente publicado no Jornal O Fluminense