Roger Waters desconstrói o muro em apresentação no Engenhão
Falar de Roger Waters e o Pink Floyd sempre é perigoso. O grupo é quase uma religião, e uma religião dividida. Há os devotos de São Gilmour e discípulos de Santo Roger. Pior, as duas igrejas se detestam e agem como se fossem dissidências de alguma seita onde pastores e bispos se engalfinham. Portanto, elogiar o espetáculo apresentado por Roger Waters nesta quinta no Engenhão, quando apresentou a íntegra do disco/opera The Wall, vai desagradar um bocado de gente, mas quem foi ao estádio não vai jamais reclamar da falta dos ex-companheiros de grupo.
Se alguns veteranos como Paul McCartney e Eric Clapton apostam na simplicidade dos palcos e na força da música, atos como os do U2 e o de Waters provam que a combinação boa música/efeitos especiais ainda tem seu lugar no show bizz.
Mas, antes de falar do show propriamente dito, vamos colocar alguns pingos nos ís:
1 – Cheguei a ouvir gente pseudo antenada fazendo ligações entre a história do muro e as UPPs do Rio, que livraram várias comunidades isoladas pelo tráfico. PELAMORDEDEUS, isso é ridículo. Intelectualizar e politizar uma obra com esse tipo de comparações rasteiras chega a ser constrangedor.
2 – Vai ter um bando de pseudo jornalistas entendidos que vai classificar o Roger Waters como o letrista do Pink Floyd. Letrista? Das 26 músicas do disco, 22 são composições solo e praticamente todas contam com o seu vocal. Waters faz parte daquela seleta e rara espécie de músico (baixista) que ou é um zero a esquerda ou é um gênio. Só para tirar as dúvidas, ele está na segunda categoria. E, lembrando, letrista do grupo é o escambau.
3 – The Wall não é o disco mais popular da banda. Preciso mesmo dizer qual é?
Bem, voltando ao show.
Desde o início do espetáculo – que começou com a pontualidade britânica de meia hora de atraso – até o Thank You derradeiro, Waters fez até os que não são grandes fãs do conceito de The Wall (conheça mais sobre a história do disco aqui) viajarem e descobrirem nuances que só o seu criador poderia destacar.
O espetáculo apresentado no Engenhão – longe da sua capacidade máxima, pelo menos nas primeiras músicas – também desfez o mito de que chegar cedo e se grudar na primeira fila vale qualquer esforço. Quem ficou na primeira fila provavelmente viu a apresentação do pior lugar possível, perdendo a maioria dos efeitos especiais e deixando de ser surpreender com a qualidade das imagens projetadas no telão e no grande muro que tomou conta do palco.
O início, com In the Flesh? já impressionava com os atores e o próprio Waters vestidos de nazistas, o coro de crianças da Escola de Música da Rocinha em Another Brick In The Wall (Parte II), foi daquelas ótimas jogadas para ganhar o público e até mesmo a (previsível) homenagem a Jean Charles (brasileiro morto pela polícia londrina em 2005 a quem o show foi dedicado) emocionou.
Foram muitas emoções, diria o Rei Roberto. Ver e ouvir Waters fazendo um dueto consigo mesmo (em uma apresentação da turnê de 1980) durante a canção Mother, ver um avião (de verdade) se espatifar contra parte do mudo, que foi sendo construído durante a apresentação até esconder toda a banda e se transformar em uma imensa tela de projeção, foi inesquecível.
Um intervalo de 25 minutos permitiu que o público se alimentasse, fizesse compras esticasse as pernas, fosse ao banheiro, tudo sem qualquer aperto, parecendo uma boa saída para os comerciantes instalados no estádio. Na volta, Roger Waters se aproveitou ao máximo dos efeitos para interpretar as canções do segundo disco, onde Confortably Numb, com um ótimo solo de guitarra de Dave Kilminste enterrou qualquer lamento das viúvas de Gilmour.
Fim de papo e, depois de uma improvisação acompanhando o público em “Olê, Olê, Olê, Olê, Roger, Roger” o homem por traz dos clássicos do Floyd deixa uma multidão extasiada. Pode até ter havido um ou dois desavisados que esperavam ouvir canções do The Dark Side Of The Moon ou I Wish You Were Here, mas a maioria do educadíssimo público deixou o estádio do Botafogo suspirando de satisfação.
Fotos: Néstor J. Beremblum / Divulgação
In the Flesh?
The Thin Ice
Another Brick in the Wall Part 1
The Happiest Days of Our Lives
Another Brick in the Wall Part 2
Mother
Goodbye Blue Sky
Empty Spaces
What Shall We Do Now?
Young Lust
One of My Turns
Don’t Leave Me Now
Another Brick in the Wall Part 3
The Last Few Bricks
Goodbye Cruel World
Set 2
Hey You
Is There Anybody Out There?
Nobody Home
Vera
Bring the Boys Back Home
Comfortably Numb
The Show Must Go On
In the Flesh
Run Like Hell
Waiting for the Worms
Stop
The Trial
Outside the Wall
Reblogged this on Boozetrooper.
Viúvas de Gilmour, NÃO! Eu estava no show, amo Pink Floyd, assim como amo Waters. Dave Kilminster é um ótimo guitarrista, como provou nos shows de 2007 (apoteose) e 2012 (Engenhão), os quais presenciei. Ele fez ótimo solo em Comfortably Numb, bem como em todo o show. Porém, com todo respeito, o “feeling” do Gilmour, o seu estilo único, e a sua presença de co-criador da obra The Wall, fazem falta por onde quer que a música do Floyd seja levada. Aliás, música do Floyd só seria mesmo completa com todos os ex-integrantes no palco!!!!!!!
Meu ilustre e querido amigo e irmão…..
Faço minhas as tuas palavras…..quanto mais ouço o Floyd mais os amo….
Pena eu não ter ido a esse grande show…
Forte abraço, amigo…..