Paul in POA – 7/11/2010 – A crítica do show

Foto tirada por um segurança do palco

Finalmente encontro condições físicas para escrever sobre o fim de semana do show de Paul McCartney em Porto Alegre. Como esse blog não é amarrado ao factual, vou escrever tudo de trás para frente (primeiro o show, depois o pré-show e, por último, o soundcheck do dia 7, com 1h15 de duração).

Pude até ler algumas (poucas) resenhas sobre o espetáculo. Textos de pessoas que gosto e admiro (como o amigo Leonardo Lichote, que fugiu da sua amada MPB), mas que não chegaram a influenciar nada do que escreverei abaixo.

Hope you enjoy the show

Depois de tudo pronto e sem a obrigação de escrever a cobertura do show para lugar nenhum – coisa que descobri aos 44 do segundo tempo e que deixou a cobertura bem mais pobre, já que são poucos os que sabem 1/12 do que sei sobre a carreira de Sir Paul – o negócio era relaxar e curtir cada segundo. Colocado estrategicamente na primeira fila (literalmente, como podem ver na foto), munido de minha camisa do Liverpool – embora ele torça pel Everton – e de muita expectativa, começou o show.

O início

Para a maioria das pessoas que ficou horas na fila sob um calor inacreditável – o sábado (6), domingo (7) e segunda (8) foram os dias mais quentes do ano em Porto Alegre – o espetáculo que Sir Paul McCartney realizou no ótimo estádio do Beira Rio foi uma sucessão de surpresas. Para quem acompanha esse blog, quase nada de novo.

Logo ao entrar o gigantismo do palco assustava. Eram 23 metros de altura, 28 de profundidade e 148 toneladas de peso. Para o som mais 20 toneladas – 200.000 watts de som –, com 150 caixas de som espalhadas pelo estádio. Dois telões laterais (verticais) enormes e mais um ao fundo. Tudo muito parecido com o que se pode ver no DVD Good Evening New York City – seu último lançamento.

Paul McCartney não é chegado a surpresas. Muito mais depois de três meses de hiato entre seu último concerto e o de POA e com um show tão bem formatado e testado como esse. Em março coloquei aqui no F(r)ases algumas das mudanças feitas por Paul no setlist e praticamente todas elas foram mantidas. Portanto, nada de mexer em time que está ganhando.

Com um clima quente (temperatura) mas extremamente calmo, sem brigas ou aquele costumeiro cheiro de maconha característico de shows de rock, o público, estimado em 50 mil pessoas, encheu o estádio como – me contaram vários colorados – nunca havia acontecido.

Mas, claro, nem tudo podia ser perfeito. E não foi. Por conta de uma lei local que exige que haja uma apresentação de algum artista brasileiro antes de um show internacional, a dupla Kleiton e Kleidir foi convidada para abrir o show. Entretanto, para não mexer na configuração do palco (instrumentos) tudo foi cancelado na última hora e colocaram um DJ acompanhado de um saxofonista e um guitarrista tocando versões eletrônicas para alguns rocks clássicos.

No meio da apresentação recebo um SMS de um amigo dizendo: “Entrei no estádio e estão tocando Sunshine of Your Love – música do Cream – em versão tecno”. Minha resposta imediata: “Estou quase vomitando”.

Felizmente – depois de muitos gritos de “Kleiton e Keidir” vindos da platéia – a apresentação terminou após pouco mais de 20 minutos. Acho que não deu para matar ninguém.

Showtime

Eram 21h10 quando os telões deixaram de exibir colagens de imagens sob o som de algumas canções de Macca.

Logo de cara o medley Venus and Mars/Rockshow/Jet. Assim como na abertura da turnê mundial de 1975/76 – registrada no filme Rockshow – a platéia fica de quatro na hora. Primeiro porque é uma espécie de redenção dos Wings, que ficaram meio de fora das primeiras turnês solo de McCartney, segundo porque é um início de show muito mais para cima que Hello Goodbye, por exemplo. Começar com um show com uma música dos Beatles sempre me pareceu um erro.

Logo depois Paul emenda All My Loving (a primeira dos Fab Four) deixando definitivamente todo o estádio aos seus pés. Para arrematar, solta umas gracinhas em português (Obrigado, gaúchos. Boa noite Porto Alegre! Boa noite Brasil!) inflando o ego do povo local e deixando uma imagem de simpatia que só iria aumentar durante as quase 3 horas de espetáculo.

Era óbvio que a maioria das pessoas que foram ao Beira Rio estavam sedentas por ouvir um Beatle cantando os sucessos da banda mais famosa de todos os tempos, mas, musicalmente, o melhor estava mesmo nas canções dos Wings, nas da carreira solo e nas homenagens aos companheiros John e George.

Músicas como Letting Go, 1985, Mrs. Vanderbilt, Ram On e Sing the Changes, deram a dose de frescor e atualidade a uma setlist repleta de clássicos; Something (Para meu amigo George) e Here Today (Para meu amigo John) deixaram muitos marmanjos de olhos vermelhos de tanto chorar; The Long and Winding Road, Ob-la-di Ob-la-da e Hey Jude transformaram o estádio em um grande coral; e a simpatia do quase setentão fez o resto. Ou você imaginaria alguém do Oasis falando: “Mas, Bah, Tchê” ou “Ah, eu sou gaúcho”? Pois é, Paul McCartney falou.

Ainda cantou parabéns para você em homenagem a algum fã que carregava um cartaz dizendo ser o dia do seu aniversário e autografou o braço de duas fãs – que subiram ao palco e depois transformaram os autógrafos em tatuagens.

PS: As duas estavam pouco atrás de mim. Muito engraçado ver a reação delas na hora em que Paul pediu ao chefe da segurança pra levá-las ao palco.

Lá pelo meio do show uma pessoa ao meu lado perguntou: “Ainda falta muito para terminar?”. Já estávamos com quase 2 horas de apresentação e, sim, ainda faltava muita coisa. Aos 68 anos, o músico deixa algumas canções difíceis de cantar para a parte final do show. I’ve Got a Felling – favor não confundir com o hit do Black Eyed Peas – e, principalmente, Helter Skelter são a prova de que, se alaguns agudos já são coisas do passado, a voz de Macca ainda segura muito bem um repertório onde nenhuma canção teve seu tom original mudado.

Lembrando Linda McCartney

Mas não foram apenas John Lennon e George Harrison os lembrados por Paul durante o show. Se em 1990 a frase “Minha gatinha, Linda” ficou imortalizada no CD Tripping The Live Fantastic, em 2010 Paul arrumou uma maneira de homenagear o grande amor de sua vida (morta em 1998, devido a um câncer). Antes da balada My Love, Paul disparou: “Esta música eu escrevi para a minha gatinha, Linda, mas esta noite ela é para todos os namorados”. Era o que faltava para colocar o mais reticente dos fãs no bolso.

Com o portfólio musical do calibre e do tamanho que tem, Paul McCartney nem precisaria se esforçar para agradar. Era chegar, subir ao palco, tocar, cantar e sair. Não era preciso esboçar um sorriso sequer. Mas ai, não seria Paul McCartney.

Inesquecível

No fim, um comentário que para muita gente sempre soou como uma heresia: o melhor concerto que já havia assistido foi o de Eric Clapton na Praça da Apoteose (1990). Não era nenhum dos anteriores de McCartney, apesar de toda a carga emocional dos concertos realizados no Maracanão de São Paulo (1993) nem fica no meu top 5 -, mas esse de 2010 é, DE LONGE, o mais espetacular realizado no País.

Dá orgulho gostar da música de um cara desses.

Termina o concerto e Sir McCartney vai direto para o aeroporto em direção a Buenos Aires (onde toca nos dias 10 e 11). Fica marcado o encontro para o próximo dia 22, no Morumbi.

PS final: Durante o show Paul só não executou músicas dos LPs Please Please Me e Beatles For Sale, mas no soundcheck ele foi de I’ll Follow the Sun, o que deixou de fora do fim se semana apenas um disco do Quarteto de Liverpool. Outro detalhe importante é o quanto ele gosta do disco Band On The Run. Foram cinco músicas durante o show e mais uma no soundcheck.

Setlist

Venus and Mars
Rock Show
Jet
All My Loving
Letting Go
Drive My Car
Highway
Let Me Roll It
The Long and Winding Road
1985
Let Me In
My Love
I’ve Just Seen a Face
And I Love Her
Blackbird
Here Today
Dance Tonight
Mrs. Vanderbilt
Eleanor Rigby
Ram On
Something
Sing the Changes
Band on the Run
Od-La-Di Ob-La-Da
Back in the USSR
I’ve Got Feeling
Paperback Writter
A Day in the Life
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude

Bis 1
Day Tripper
Lady Madonna
Get Back

Bis 2
Yesterday
Helter Skelter
Sgt. Pepper’s / The End

Leia também: Paul in POA – 6 e 7/11/2010 – O pré-show


Fotos: Marcos Hermes / Divulgação

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