Kenneth Womack, autor de “John Lennon 1980: The Last Days in the Life”, fala sobre a obra e conta algumas curiosidades do último ano da vida de Lennon
Quem acompanha o Blog do Feroli sabe da ligação e do carinho que o autor tem com os Beatles e com John Lennon. Afinal, não é qualquer um que recebeu três correspondências do ex-beatle (leia tudo aqui).
Há toneladas de livros sobre o músico e agora, na véspera do aniversário de 80 anos (9 de outubro) mais uma série de publicações vão lembrar a sua obra (até mesmo uma nova coletânea está sendo lançada).
Infelizmente, a maioria das publicações que falarem dos seus últimos dias vai focar na sua trágica morte.
Um livro para celebrar a vida de John Lennon
Por isso, o lançamento de “John Lennon 1980: The Last Days in the Life” (John Lennon 1980: Os Últimos dias da Vida”, em uma tradução livre), de Kenneth Womack é um refresco. O livro foca na vida e não na morte.
Womack, que é historiador, pesquisador, professor universitário, Ph.D. em inglês e especialista em Beatles, além autor de vários ótimos livros sobre os Beatles e também de dois ótimos títulos sobre a carreira do produtor George Martin, conversou com o Blog do Feroli e o site Ambrosia, onde falou sobre o livro e contou algumas curiosidades contidas nas páginas desse lançamento.
— A ideia de escrever sobre o último ano de vida do John já existia faz tempo. A maioria dos livros e revistas falam da morte dele e eu queria escrever sobre como foi a vida dele, do que estava fazendo e como estava vivendo — disse Womack, no bate-papo por vídeo.
E, embora morto há 40 anos, ainda há muita coisa para descobrir sobre esse último ano de vida, quando John estava “voltando à ativa”.
Turnê abreviada
Foi no período entre o fim de 1979 e início de 1980 que Lennon decidiu sair do “retiro” ao qual se impôs após o nascimento do filho (Sean). Foram seis anos “fora do radar”, cuidando da casa e sendo um pai de família.
Em 1980, depois de ouvir a canção “Coming Up”, do ex-parceiro Paul McCartney, Lennon parece ter reacendido a velha chama da competitividade e passou a compor canções seriam incluídas nos álbuns Double Fantasy e Milk and Honey (lançado após a sua morte).
— Acho importante que as pessoas saibam como era o processo criativo de Lennon, como foi a criação das canções que se tornaram o “Double Fantasy” (último disco lançado por John Lennon em vida). Esse era um dos meus objetivos — conta o autor.
Como era a rotina de Lennon? Qual era a importância dessa volta? Quais eram os planos para uma turnê mundial? E até mesmo qual modelo de guitarra Lennon usou nas sessões de gravação de “Double Fantasy”? Estes são alguns dos pontos abordados por Womack.
— Infelizmente, nunca saberemos tudo sobre os planos para essa turnê, já que vários dos envolvidos neles já não estão mais entre nós, mas John pretendia mesmo fazer uma turnê mundial, o que poderia revitalizar ainda mais a sua carreira. Acho que detalhes como o modelo de guitarra usada são coisas que os fãs sempre vão gostar de saber — revelou Kenneth.
Um outro mundo, uma outra NY
A década de 1980 já passou faz tempo. Muitos da nova geração não devem conseguir imaginar como é um mundo sem smartphones (ou celulares), com orelhões espalhados pelas ruas e sem internet e redes sociais.
— Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi como era diferente a Nova York onde John vivia. Não é nada parecida com a cidade que conhecemos hoje, em termos de segurança, por exemplo. Era um lugar muito mais violento, com certeza — diz o escritor.
Realmente, Nova York, assim como Liverpool, são cidades que mudam a cada visita. Felizmente, estão mudando sempre para melhor, com a diminuição dos índices e criminalidade e violência e uma melhora significativa em termos econômicos (não contemos com esse estranhíssimo 2020).
A ligação entre Lennon e o Brasil
Muita gente sabe que Lennon tinha algumas conexões com o Brasil, embora singelas (ou nem tanto). Uma de suas canções com os Beatles (Across the Universe) teve os backing vocals de duas fãs, sendo uma delas (Lizzie Bravo) uma brasileira que morava em Londres e fazia parte do grupo chamado Apple Scruffs.
E, no último ano de John Lennon, ele também teve alguma conexão com o nosso país. Algumas das coisas que John gostava de fazer eram cuidar do filho, preparar pão caseiro e responder cartas de fãs de “locais exóticos”.
Bem, um desses “locais exóticos” acabou sendo o Brasil. Lennon acabou respondendo três cartões postais para um jovem da Zona Norte do Rio e essa história está lá nas páginas escritas por Womack (e aqui no blog).
— Para a pesquisa desse livro eu procurei ouvir o máximo de pessoas que tiveram contato com John, ler todo e qualquer material que tenha sido publicado sobre ele ou gravado com ele. Algumas histórias interessantes acabaram aparecendo, como essa do Brasil (risos) — revela um bem-humorado pesquisador.
Uma das coisas que não dá para entender é a razão de conseguirmos comprar um livro como “John Lennon 1980: The Last Days in the Life” por um preço mais barato nas Amazon do exterior do que na filial brasileira.
Um raio-x dos últimos dias de vida de um gênio
“John Lennon 1980: The Last Days in the Life” é uma leitura que vai dar aos fãs do músico um raio-x do estado de espírito de John Lennon e colocar em contexto como era a vida do músico.
A obra não foca nas rusgas com os ex-companheiros da banda mais famosa do mundo ou nas loucuras dos anos 1970, mas, sim, na música que Lennon estava criando e pretendia criar.
O autor de “I’m the Greatest” era um gênio e parecia saber disso desde bem jovem. Agora, chegou a hora dos leitores saberem como era a rotina de uma das figura mais conhecidas do rock em todos os tempos.
Este não é o primeiro livro que fala dos meus postais — não posso esquecer do “As Cartas de John Lennon” —, mas é sempre uma honra ser lembrado por pesquisadores sérios.
Um texto com trechos dessa entrevista foi publicado na Revista Ambrosia