Guitarrista termina turnê no Brasil. No Rio, Cray driblou alguns problemas no som e deixou o Vivo Rio ovacionado por uma plateia escassa de minorias
A turnê brasileira do bluesman Robert Cray em 2019 comprovou que o homem que já foi considerado a esperança do blues é hoje um dos pilares do gênero.
Sua visita, que terminou em Brasília e passou por São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro deixou claro que o blues ainda é uma força (muito) viva na música. Cray também se mostrou ser um ótimo papo (que pode ser conferido nesse link).
Só música
Nesses tempos em que tudo é uma questão econômica, política, de classe social ou raça, foi bom ter um artista e plateias que se preocuparam apenas com o que realmente importava naquele momento: a música.
Cray não deu espaço para qualquer tipo de manifestação. Foi subir no palco e emendar uma canção após a outra, sem se preocupar com nenhum aspecto externo.
A banda — Richard Cousins (baixo), Terence Clark (bateria) Dover Weinberg (teclados), além do próprio Cray na guitarra, claro — é certeira. Econômica em caras e bocas e extremamente eficiente e cheia de suingue.
O show de Robert Cray no Rio de Janeiro
Vivo Rio, Rio de Janeiro, noite de 2 de agosto de 2019. Uma noite com uma temperatura agradável era um bom presságio para a boa música que estaria presente no Vivo Rio.
Com uma pontualidade quase britânica (meros 90 segundos de atraso), a Robert Cray Band começou uma apresentação na qual mostrou que poucas coisas podem impedir Cray de entregar emoção e balanço para sua platéia.
Dos primeiros acordes de I Shiver até o fechamento do bis com Time Makes Two, foi uma noite onde a força e a magia do blues tomou conta de um público que parecia mesmo enfeitiçado.
Nem mesmo alguns problemas no som — que só foram resolvidos no meio de I Don’t Care (veja o vídeo abaixo) — foram capazes de tirar o foco de um Robert Cray, que parecia genuinamente animado.
Apesar de manter a base do seu repertório tirado de canções mais recentes e de não dar muita bola para os (muitos) pedidos da plateia, o músico desfilou alguns de seus clássicos como Right Next Door (Because Of Me) e Nothin’ But a Woman.
Solos e riffs marcaram a noite. A maneira única com a qual Cray trata as suas Fender o coloca como um daqueles artistas que são respeitados até por quem não é fã.
Nada de pedaleiras gigantes ou efeitos mirabolantes. O som da guitarra de Cray é quase cru e seus vocais lembraram, em muitos momentos, outro grande nome do blues: Buddy Guy.
Plateia com poucos negros
Se alguma coisa pode ser dita da plateia era que ela era formada basicamente por pessoas de cor branca. Isso pode até soar estranho quando falamos de um ritmo criado por negros que trabalhavam em lavouras de algodão do Mississipi.
Mas é bom saber que algum grupo étnico se preocupa em preservar um traço tão importante da cultura negra. E olha que os preços nem eram altos o bastante para servirem de justificativa para essa composição de público.
Um exemplo disso foi a grande presença de pessoas negras no show do príncipe Paulinho da Viola, no dia seguinte ao show de Cray. Ficou a impressão de que, no Brasil, blues é coisa de branco.
Volte logo, senhor Cray
Foram 10 anos de intervalo entre a última visita de Cray ao Brasil e essa de 2019. Que tenhamos a oportunidade de vê-lo novamente em um espaço de tempo menos longo. O Brasil e os fãs de blues já estão com saudades.
Fotos: Fernando de Oliveira
Vídeos: Jo Nunes