Às vésperas do relançamento da versão comemorativa dos 50 anos do Álbum Branco, A Vida dos Beatles, única biografia autorizada dos Beatles, continua uma leitura obrigatória
Os Beatles se separaram oficialmente em 1970. Portanto, é impressionante o efeito que a música e a atitude da banda ainda têm sobre a nossa sociedade.
Vários ótimos (e vários péssimos) livros já foram escritos sobre o grupo, mas um deles continua imprescindível.
The Beatles — que no Brasil teve a sua primeira edição publicada com o título A Vida dos Beatles — é a única biografia autorizada pela banda e a única na qual o autor realmente conviveu com a banda durante sua carreira, presenciando fatos reais e não apenas através de depoimentos de terceiros.
Um pouco de história
Hunter Davies — hoje um respeitado senhor de 82 anos (que se recupera de uma cirurgia para a colocação de três pontes de safena) e autor de uma série de livros sobre turismo, esportes e, claro, Beatles — era um jovem jornalista trabalhando no Sunday Times, quando recebeu o sinal verde de Brian Epstein para escrever a biografia da maior banda de todos os tempos.
Isso, depois de ter sugerido a Paul McCartney a ideia do livro, em 1966, bem no meio da revolução psicodélica e do início das gravações de Sgt. Pepper’s, mas o OK final aconteceu apenas em 25 de janeiro de 1967, quando Penny Lane e Strawberry Fields Forever já estavam finalizadas.
— Eles sabiam que Pepper seria algo diferente e grande. Paul estava definitivamente no comando. Nesta época, John estava ficando entediado com os Beatles e se tornando preguiçoso — me disse Davies.
Lançado em 30 de setembro, o livro se tornou a única biografia da banda por conta de uma cláusula (sugerida por Brian Epstein) que garantia que nenhum outro escritor teria acesso aos Fab Four por dois anos. Como eles se separaram em 1970…
Fool on the Hill
Dentre as grandes histórias do livro está o dia no qual John falou para Paul gravar uma demo daquela música do cara da montanha e Paul respondeu que não iria esquecer dela. No fim, Fool on the Hill se tornou uma das canções mais conhecidas dos Beatles.
— Passei muitas tardes com eles no estúdio enquanto gravavam Sgt. Pepper’s e também em suas casas, observando Paul e John dando vida as canções. Infelizmente, eu nunca gravei nenhum desses momentos. Escrevi tudo em 30 pequenos cadernos de anotação e, hoje, nem consigo entender minha letra — revelou Davies.
Getting Better
Outro momento que causa inveja aos admiradores da música dos Beatles é a descrição da criação de Getting Better, até hoje uma das histórias citadas por Paul McCartney.
— Eu estava lá desde o início da composição. Eu caminhava com Paul quando ele teve a ideia pela primeira vez. Também estava em Cavendish Avenue (casa de Paul McCartney) quando ele e John escolhiam palavras e rimas para a canção — lembrou o escritor.
Álbum Branco
— Eu fui com eles para a Índia quando eles foram encontrar o Maharishi. As esposas e os rodies foram deixados para trás e eu viajei em um vagão com eles, Mick Jagger e Marianne Faithfull. Foi lá que compuseram a maior parte das canções do Álbum Branco — relembrou.
O disco que agora completa 50 anos é, de muitas maneiras, o ponto de ruptura da banda, principalmente pela presença de uma certa japonesa.
— Eu conheci Yoko antes do John. Um dia (em 1967) ela me ligou dizendo que estava fazendo um filme e se eu toparia participar. O problema é que era um filme sobre bundas nuas. Então, eu inventei uma desculpa e declinei do convite — confessou o jornalista.
E, apesar da camaradagem que Giles Martin diz ter encontrado nas fitas que ouviu para produzir a versão comemorativa do Álbum Branco, que sai no próximo dia 9, essa não é a lembrança de Hunter Davies.
— Em 68, o único que parecia ainda estar gostando de ser um beatle era Paul. Ele morava em uma casa perto de Abbey Road enquanto John e Ringo viviam bem mais afastados (em Weybridge) e George em Esher, não muito longe deles —relembrou.
Isso pode explicar tudo o que aconteceu depois e que culminou na separação do grupo.
Rebatendo John Lennon e George Harrison
Na sua famosa entrevista para a revista Rolling Stone (em 1970) John se referiu ao livro de Davies como bullshit (merda).
— Eu liguei para John em 1971, logo depois que a entrevista foi publicada, e ele me disse rindo: “Você me conhece, eu falo as coisas que me vêm à cabeça. Hunt”. Nem Paul ou Ringo tiveram objeções ao livro, embora George tenha ficado contrariado por eu não ter escrito mais sobre suas opiniões sobre o hinduísmo e crenças espirituais, coisas que achei que não se encaixavam no livro — revelou.
Outros livros
Hunter Davies é reconhecido hoje pela biografia dos Beatles, mas sua ligação com a banda vai além. Ele escreveu (e ainda escreve) vários outros títulos com relação ao grupo. Dois deles são especialmente relevantes e especiais.
As Letras dos Beatles é o livro onde Davies revela ao mundo uma série de manuscritos com versões (muitas originais) de letras de canções dos Beatles, algumas escritas em guardanapos e até mesmo no verso de cartões de aniversário. São imagens reveladoras.
O outro tem o título de As Cartas de John Lennon (The John Lennon Letters, no original), onde revela uma série de recados, cartas e cartões postais escritos por Lennon para assistentes, amigos e fãs.
Brasileiros em alta
Em Lennon Letters o Brasil ganha destaque especial em dois momentos distintos. Um quando Davies mostra algumas raridades de Lizzie Bravo — a brasileira que gravou os backing vocals da canção Across the Universe — e quando conta a história de um certo fã carioca para o qual Lennon escreveu três cartões postais entre novembro de 1979 e janeiro de 1980.
Vale conferir.
Portanto, se algum fã dos Beatles ainda não leu a biografia autorizada, acredite, ela ainda é leitura obrigatória, mesmo que existam outros títulos mais completos sobre o fenômeno que até hoje influencia o mundo.