Esta é, provavelmente, a pesquisa menos bizarra de toda a série. Porém, ela permite um número tão grande de reflexões que acho que ela se qualifica para fazer parte do rol das pesquisas voadoras.
A pesquisa, patrocinada pela News Media Association (NMA), mostrou que os ingleses confiam mais nos veículos locais (rádios e jornais, principalmente) do que nos grandes veículos nacionais e nas redes sociais. Os números mostram que 74% das pessoas confiam nos pequenos veículos locais, contra apenas 22% que disseram acreditar no que leem nas redes sociais, um território onde qualquer um escreve qualquer coisa sem o mínimo de apuração. A vantagem dos veículos de comunicação regionais também é grande quando comparado com os grandes jornais. O mais incrível é que os jornais alcançaram uma credibilidade maior que as TVs e rádios regionais (73% contra 43%).
A saída do jornalismo está nos veículos locais?
Claro que há grandes diferenças entre a mídia inglesa e brasileira. Entretanto, parece lógico que jornais locais acabem tendo a preferência das pessoas quando o assunto são notícias locais (com o perdão pela repetição). Infelizmente, no Brasil, os jornais (principalmente os menores) sofrem com uma visão distorcida do que deve ou não ser noticiado.
Muitas vezes um assunto é varrido para baixo do tapete por conta de amizades ou preferências polícias ou religiosas. Isso acaba se tornando uma bola de neve contraproducente, que vai minando a credibilidade do veículo, fazendo com que cada vez menos as notícias sejam recebidas da maneira correta.
A grande força dos veículos locais vem da proximidade. Os repórteres, editores e diretores são, na enorme maioria das vezes, pessoas que nasceram ou moram nas redondezas e que conhecem as pessoas, a cidade, a região e seus problemas. Impedir que determinada crítica seja publicada ou que determinado assunto seja impresso é de uma estupidez que me dá vergonha. Sempre há uma maneira positiva de se noticiar algo, mesmo que isso exija um pouco mais de trabalho.
Todo jornalista sabe que números, para citar um exemplo, podem dizer coisas totalmente diferentes, dependendo do viés que se pretenda dar ao assunto. O mesmo acontece com uma denúncia contra uma empresa, um segmento ou uma administração municipal. O jornalismo pressupõe que se ouçam todos os lados de uma questão, mas não impede que se tenham posições e uma linha editorial definida. O problema é que muitos jornais não possuem esse direcionamento definido.
A constante suposta crise do mercado jornalístico serve como justificativa para a diminuição das redações e a contratação de profissionais cada vez menos experientes e competentes. Enquanto na Inglaterra a confiança nos jornalistas subiu de 19% para 32%, nos últimos 6 anos, o mesmo não deve acontecer por aqui – não só pela qualidade dos profissionais, mas também pelo crescente clima de Fla-Flu que permeia quase todas as discussões sobre matérias que falem sobre temas que podem melindrar pessoas que não estão prontas para discutir, ouvir ou ler argumentos que não se encaixem na sua visão das coisas (política e futebol, por exemplo).
É bom saber que a imprensa inglesa está longe de ser um primor, mas tenho certeza de que lá tudo é feito muito mais as claras que em terras tupiniquins.
Fonte: PressGazette