Paul McCartney, figura recorrente nos palcos brasileiros desde 2010, volta aos holofotes com os relançamentos do disco Wings Over America e do DVD e Blu-ray do filme Rockshow, que ainda será exibição nos cinemas de vários países do mundo, inclusive o Brasil (em julho). Os relançamentos registram a bem sucedida turnê de Paul e Wings pelos Estados Unidos, em 1976, mostrando um músico no topo da forma e em busca de uma afirmação artística que ainda não havia conseguido de maneira categórica.
Aos 71 anos recém-completados (18 de junho), Macca prepara um novo disco para ser lançado ainda em 2013, enquanto relembra o seu grande período pós-beatle.
Uma década de afirmação
Se em 2013 Paul McCartney tem o título de Sir, é reconhecido como o mais bem sucedido compositor de todos os tempos e vive fazendo shows lotados mundo afora, fazendo um tributo ao legado dos Beatles, a situação era bem diferente dessa no início dos anos 1970. Odiado por boa parte do público e da crítica por ter sido oficialmente quem anunciou o fim dos Beatles – na verdade ele foi o último a abandonar o barco, já que Ringo, George e John (na ordem) já haviam deixado a banda e algum momento – Paul foi massacrado pela imprensa e por seus ex-companheiros, por conta de seus discos e da decisão de carregar sua esposa (Linda McCartney) para o estúdio e palcos onde se apresentava com sua nova banda, Wings (instrumento de divulgação de seu trabalho entre 1973 e 1981).
É verdade que alguns dos primeiros lançamentos de Paul tinham qualidade contestável ou mesmo sofrível – casos de McCartney (1970) e Wild Life (1972), primeiro disco sob o nome da nova banda -, mas alguns, como o álbum RAM (1971), foram injustamente bombardeados por críticas negativas. Portanto, Paul era um artista que precisava mostrar ao mundo (e a si mesmo) que poderia haver vida após os Beatles e que não havia perdido o seu talento. Foi só a partir de 1973 que a coisa começou a mudar com uma série de singles bem sucedidos – Live and Let Die, My Love e Junior’s Farm – e álbuns de primeira linha – Band on the Run (1973), Venus and Mars (1975) e At the Speed of Sound (1976) – que Paul se consolidou como uma força do pop, conquistando fãs de uma geração mais jovem e que muitas vezes nem sabiam que ele já havia participado de outro grupo. Porém, ainda faltava um grande passo: (re)conquistar as plateias norte-americanas.
Depois de algumas pequenas turnês por universidades e pela Europa, e de várias mudanças na formação do grupo – nem sempre com músicos de primeira categoria -, Paul e Linda McCartney, ao lado do fiel escudeiro Denny Laine, do baterista Joe English e do guitarrista Jimmy McCulloch, iniciaram, em 1975, uma turnê pela Europa e Austrália, que iria ser coroada, no ano seguinte, com a conquista da América, dez anos depois do último show de Paul com os Beatles no país.
A turnê foi um sucesso absoluto, com estádios lotados, quebras no recorde de público e aclamação da crítica. Astros da época, como Elton John e Cher, se juntavam a milhares de fãs que estavam lá para ver não o ex-beatle, mas o artista que dominava as paradas, que havia lançado um novo disco (At the Speed of Sound) que, apesar de não ser o seu melhor, ainda produziu hits como Let ‘Em in e Silly Love Songs.
Ainda com as cicatrizes da separação abertas e para marcar posição como artista, Paul fazia questão de deixar para trás o seu passado, tanto que, das 30 canções que compõem o Wings Over America, apenas seis são do repertório Fab Four – Lady Madonna, The Long and Winding Road, I’ve Just Seen a Face, Blackbird e Yesterday -, canções que até hoje fazem parte do setlist dos shows de McCartney, além de ter aposentado o baixo Hofner e criado uma nova imagem ao lado do “também beatle” Rickenbaker.
O disco – originalmente lançado como um álbum triplo – ganhou uma remasterização caprichada, dentro da Paul McCartney Archive Collection – que vem recolocando no mercado toda a discografia de McCartney em edições cheias de músicas bônus e som estratosférico -, deixando muito mais nítida a ótima forma vocal de Paul (provavelmente a melhor da carreira), o que pode ser conferido nas interpretações de canções como Call Me Back Again, Beware My Love, Soily e, principalmente Maybe I’m Amazed, que ganhou sua versão definitiva e chegou a ser lançada como single, alcançando o 10º lugar das paradas.
Mas que não se enganem os que acham que o repertório era menos interessante por conta das poucas canções dos Beatles. Quem teve a oportunidade de acompanhar alguma das suas apresentações de McCartney no Brasil já teve a oportunidade de ouvir alguma das canções que estão contidas no disco, como Venus and Mars, Rockshow, Jet, Let Me Roll It, Live and Let Die, Bluebird, Listen to What the Man Said, Let ‘Em In, Letting Go, Hi, Hi, Hi e Band on the Run, provando que a sua produção da década de 1970 foi extremamente inspirada. A bertura dos concertos, com a trinca Venus and Mars/Rock Show/Jet é até hoje a melhor de McCartney e uma das melhores da história do rock.
No Brasil, infelizmente, só foi lançada a versão standard, que na verdade é dupla, enquanto lá fora também foi lançada uma versão de luxo, que além do disco original, há um disco com algumas versões gravadas no show de São Francisco, além de um DVD com o especial de TV chamado Wings Over the World (que mostra cenas do grupo em locais como a Austrália e Escócia) e quatro livros com fotos, histórias e tudo sobre a turnê.
Rockshow é lançado em DVD, Blu-ray e nas telas dos cinemas
Se o giro dos Wings pelos Estados Unidos gerou um álbum triplo, o registro visual da turnê – um dos primeiros projetos da Miramax (produtora responsável por sucessos como Shakespeare Apaixonado) – acabou se transformando no longa Rockshow, que por uma série de problemas de produção, só foi lançado em 1980, quando o impacto da presença de McCartney nos Estados Unidos já era bem menor. Agora, o filme volta de maneira triunfante ao mercado. Restaurado a partir das películas originais, filmadas em 35 mm e com som 5.1. O resultado é estonteante, apesar da escuridão característica dos shows de rock da época, onde os efeitos visuais eram ainda bem limitados. A maior parte da ação se concentra na performance da banda, que não deixa o ritmo cair em nenhum momento. Lançado lá fora em junho, Rockshow ganha uma versão nacional pela ST2 Music, que será lançada até meados de setembro.
Mas, para quem não quiser esperar até lá ou preferir ter a experiência de ver um ótimo concerto de rock na telona de um cinema, uma boa notícia: o filme será exibido em várias cidades do país – o Rio de Janeiro está confirmado – na rede UCI, que já confirmou a data de estreia para o dia 26 de julho, embora ainda não tenha divulgado os preços e quais cinemas receberão o longa.
Com seus discos dos anos 70 ganhando reedições luxuosas e a redescoberta de que há muitos fãs do Wings por ai – o que fez com que o site oficial de McCartney remodelasse sua loja oficial para incluir produtos temáticos da banda.
Os fãs brasileiros não têm do que reclamar. O Brasil, que já tem o seu lugar no coração do eterno beatle, seja pelos 184 mil presentes em seu show do dia 21 de abril de 1990 (no velho Maracanã) seja pela abertura de sua nova turnê (Out There), em Belo Horizonte, seja pelo show acompanhado por uma nuvem de gafanhotos, em Goiânia, ou pelas inúmeras surpresas das plateias brasileiras em seus shows. Paul anda tão brasileiro que até vem falando um pouco de português em alguns shows fora do Brasil! Para coroar o ano, ainda teremos um novo disco de inéditas e ainda há rumores sobre a possibilidade de tê-lo novamente por aqui para o encerramento da turnê, dizem, no novo Maracanã.
Uma versão deste texto também foi publicada no jornal O Fluminense
Fantástico show , tenho o vinil e o LD importado da época .Agora o cd e Dvd .