Ao contrário do que pregava Nelson Rodrigues, que dizia que tínhamos um “complexo de vira-latas“, o futebol brasileiro parece estar acometido (já faz um bom tempo) de uma inexplicável soberba. Depois de termos seleções, times e jogadores de primeira linha – apesar da péssima situação econômica do país -, nossos dirigentes, torcedores e jornalistas parecem viver em uma realidade paralela que em nada ajuda o desenvolvimento do velho esporte bretão.
Parece que as péssimas apresentações da Seleção Brasileira (que está na posição mais baixa no ranking da Fifa desde que este foi implantado) e as diversas transmissões de jogos da Europa (praticamente diários) não são suficientes para fazer com que técnicos dirigentes, torcedores e (mais uma vez) jornalistas parem para refletir sobre a razão desse nosso declínio. Declínio que é maquiado sempre que algo de importância duvidosa acontece a nosso favor, como foi a classificação de seis times brasileiros para a fase de mata-mata da Copa Libertadores.
Foi um festival de declarações exaltando a força de nossos elencos, a qualidade técnica de nossos jogadores, a excelência de nossos treinadores… Afinal, o Boca Juniors está meia boca, o Tijuana é fraco, assim como o Olimpia e todos os outros times da América do Sul. Era a prova de nossa superioridade e de que podemos, sim, entrar como favoritos em qualquer competição, mesmo que alemães, argentinos, espanhóis e italianos também estejam nela.
O resultado? Das seis potências, apenas quatro passaram pelos seus adversários, sendo que um dos confrontos era entre brasileiros. O único classificado contra estrangeiro – o Fluminense – teve de suar sangue para conseguir a sua vaga. Os três paulistas – São Paulo, Palmeiras e Corinthians – não mostraram força para superar adversários mais fraco” e agora falam até em complô contra brasileiros e não em má qualidade de jogadores ou esquemas.
Até quando vão insistir em comparar o Neymar ao Messi, em convocar o Julio Cesar, em ressuscitar o Felipão, em não mudar o colégio eleitoral da CBF, em não ver que tudo precisa mudar?
Até mesmo as diferenças regionais que poderiam nos dar alguma vantagem (ou causar problemas para as outras seleções na Copa) foram abandonadas. O gramado do Maracanã foi diminuído, a grama do Mineirão – que sempre foi muito alta e fazia o jogo ficar mais lento – foi aparado e ficou parecido com os gramados ingleses, o sol que faz no Norte do país, assim como a grande distância com o Sul, deixou de ser uma arma para “cansar” nossos adversários (dane-se a logística de deslocamento). Enfim, vencer vai ser (tomara que não) impossível.
Hora de vestir as Sandálias da Humildade!