Essa coisa de escolha dos melhores do mundo na área do jornalismo ou tenologia é algo extremamente difícil. O Comunique-se falou com Gilberto Dimenstein (coordenador do projeto) e fica claro, para quem conhece o Catraca, que a iniciativa seria bem vinda em mais cidades (alô, Rio!).
Abaixo a matéria do Comunique-se
Criado em julho de 2009 por estudantes universitários sob a coordenação do jornalista Gilberto Dimenstein, o site Catraca Livre foi escolhido como o melhor blog do mundo em português, em premiação promovida pela Deustche Welle, emissora de TV pública da Alemanha. A votação, que tem a proposta de valorizar projetos com foco na cidadania, foi realizada em duas etapas: júri e, posteriormente, participação popular.
Sobre o prêmio vencido pelo site que está prestes a completar três anos de existência, o Comunique-se conversa com o idealizador do Catraca Livre, Gilberto Dimenstein. O jornalista conta como o projeto teve início, como funciona o trabalho da equipe e qual a principal proposta. A paixão pela comunicação comunitária e o “olhar diferente” que o profissional busca levar aos cidadãos por meio do jornalismo também fazem parte da entrevista. Confira a íntegra:
O site do Catraca Livre informa que a página foi desenvolvida por estudantes universitários. De qual forma você ingressou no projeto? Você participou do início?
Eu já vinha trabalhando o conceito de bairro-escola e esses estudantes da Metodista, Mackenzie, USP, FAAP e PUC tiveram a ideia de desenvolver o site com a proposta de mostrar o que a cidade de São Paulo tem de interessante e que muita gente não conhecia. Apoiei o projeto desde o começo. Andando pelo centro, eu via que as pessoas falavam que não iam a teatros e cinemas porque era tudo muito caro. Queria mostrar que há muita atividade interessante.
Qual o diferencial do Catraca Livre em comparação com os demais sites?
Acredito que o fato de desde o começo ter o objetivo de ser um espaço sócioeducativo. Investimos em dicas culturais, um site de serviços. Trabalhamos com um olhar diferente em relação à comunicação. Vemos a cidade como grande incubadora de serviços, apesar de termos notícias de outros lugares além de São Paulo. Contamos com a parceria de Harvard e Media Lab. E, além de tudo isso, o Catraca passou a ser sinônimo de eventos gratuitos; tornou-se comum ouvir alguém falar: “vamos, é um evento ‘catraca livre'”.
Os estudantes que deram origem ao Catraca Livre continuam trabalhando no site?
Boa parte deles, sim. Teve gente que saiu com o tempo, até para trabalhar em outro projeto, outro site, o que é absolutamente normal. Mas, da equipe inicial, tem muita gente que continua no Catraca Livre. E por aqui colocamos em prática o modo de cooperativa. A turma que ajudou a criar o site e continuou no projeto se tornou sócia do Catraca.
Em algum momento, desde a criação em junho de 2009, o Catraca Livre correu risco de acabar?
Sim. E posso até dizer que esse risco é contínuo. Somos um site que tem fins lucrativos e para se manter depende muito dos patrocínios. O que nos ajuda muito é a audiência, alavancada pelas redes sociais, e o perfil do nosso público. Temos média de 600 mil usuários únicos por mês, sendo que boa parte é formada por universitários. Segundo o Ibope, 28% dos leitores do Catraca são pós-graduados e 64% são do sexo feminino. Lidamos com um público formador de opinião e que é de interesse dos anunciantes.
Com a premiação realizada pela Deustche Welle (eleito o melhor blog em língua portuguesa), o Catraca Livre ganhará mais espaço e credibilidade perante o público e patrocinadores?
Um prêmio desse sempre dá maior visibilidade o que também chama a atenção das empresas a desejarem ter suas respectivas marcas associadas a um veículo como o Catraca Livre. Como disse anteriormente, nosso público é composto, em sua maioria, por formadores de opinião, pessoas com currículo acadêmico. A premiação ajuda a impulsionar ainda mais, assim como as redes sociais. Atualmente, temos mais de 120 mil fãs no Facebook e 70 mil seguidores no Twitter e passamos a ter nosso conteúdo exibido nos ônibus e no metrô de São Paulo.
Você esperava que o Catraca Livre tivesse esse reconhecimento com apenas três anos no ar?
Não esperava. Ele surgiu para ser uma experiência de jornalismo cidadão, publicar temas que fortalecessem a relação dos bairros com o que a cidade tem de melhor e de mais interessante. Criamos o Catraca para ser o laboratório de comunicação. Não imaginava essa repercussão. Ele entrou no ar em julho de 2009 com o trabalho de estudantes que estavam nos últimos períodos de suas faculdades, inclusive teve a presença dos meus filhos Marcos e Gabriel. Não poderia imaginar que teriámos essa força e nunca pensei que receberíamos um prêmio.
Qual a melhor notícia que o Catraca Livre publicou?
Não dá para citar uma única matéria. Há momentos em que damos um destaque maior a assuntos específicos. Um exemplo disso é a época da Virada Cultural (evento produzido pela Prefeitura de São Paulo que promove shows e atividades culturais durante todo um fim de semana). Sempre trabalhamos muito nessa fase pré-evento, como agora, com a produção de pautas sobre o assunto. É o ponto alto do site. Fora os eventos como o da Virada Cultural, apostamos em personagens.
O Catraca Livre pode ser considerado um divisor de águas da sua carreira no jornalismo?
Passou a ser. Eu já estava me dedicando ao jornalismo voltado ao cidadão, mas o Catraca Livre fez esse trabalho ficar ainda mais focado. Devo muito ao jornalismo investigativo, que não é menos importante e por onde ganhei diversos prêmios. Porém, queria me dedicar a outra forma de encarar a comunicação e o Catraca me ajudou muito nesse objetivo.
Fonte: Comunique-se