O documentário “Rolling Thunder Revue”, de Martin Scorcese, disponível no Netflix, é como um filme para os fãs de Bob Dylan feitos por um fã de Bob Dylan
Há exatos 50 anos, Bob Dylan entrava no Studio A da Columbia Records, em Nova York, para gravar “Like a Rolling Stone” — considera por muitos como a melhor música de todos os tempos. A faixa chegaria às lojas apenas um mês depois, para ser catapultada ao número dois na Billboard Hot 100 e influenciar toda uma nova geração de astros do
rock.
Esse nariz de cera todo é só para aproveitar um super gancho de convencer os caros leitores a assistir a um segundo documentário de Bob Dylan dirigido por Martin Scorsese. “Rolling Thunder Revue”, já disponível no Netflix, começa quase dez anos após a conclusão do primeiro documentário, “No Direction Home”.
Se no primeiro é mostrada a rápida ascensão cultural de Dylan como cantor de protesto, poeta eletrificado e voz de uma geração — o ícone dos anos 1960 —, “Rolling Thunder Revue: Uma história de Bob Dylan”, traz um Dylan muito diferente. Aquele que sobreviveu à sua primeira dança mortal com o destino e e fama, e voltava a descobrir
novos caminhos a seguir.
Confira o trailer!
Um Bob Dylan leve e apaixonante
O documentário começa descrevendo a “ressaca” americana pós Guerra do Vietnã, nos anos 1970. É uma nação sem objetivos, sem convicção, com tanto medo de ser enganada que qualquer busca real por significado parece ter sido suspensa. Então Dylan aparece. “Nada… é sobre nada”, diz ele, jogando as mãos para cima.
“Rolling Thunder Revue” não é exatamente um documentário sobre Bob Dylan. Acaba sendo a história de um grupo de pessoas mais improváveis ??reunidas sob o feitiço de Dylan, sob a poesia de Dylan, sob a aba do chapéu enteitado de flores de Dylan.
A caravana cigana de personalidades inclui o famoso poeta Allen Ginsberg, as luminárias folk Joan Baez e Joni Mitchell, a madrinha do punk Patti Smith, o jornalista Larry “Ratso” Sloman, o misterioso violinista Scarlet Rivera, o ex-presidente Jimmy Carter, o ator e dramaturgo Sam Shepard, o falecido lutador peso-pesado Ruben Carter e a jovem Sharon Stone em uma camiseta do Kiss.
É uma mistura que capta momentos de ternura, como um diálogo entre Dylan e Baez, ex-amantes, explicando por que casaram com quem amavam; ou pensavam que os amavam. “Pensar vai acabar com você”, diz Dylan meio a sério. “É coração, não cabeça.” E traz entrevistas mais atuais.
Sharon Stone, lembra como desmaiou quando Dylan tocou uma música que escreveu para ela em um velho e abandonado piano nos bastidores. Baez lembra que um de seus passatempos favoritos era se passar por Dylan em traje cigano completo e enganar a comida com sua impressão nasal.
Um ponto alto, parece, é numa das apresentações mais intensas de Dylan, em transe enquanto interpreta “Hurricane”. Se Scorsese não tivesse feito nada, mas apenas achasse essas performances e as divulgasse, já teria feito um ótimo serviço para os fãs de Dylan.