Confira o que achamos de ‘Rocketman’, a cinebiografia do cantor, pianista e compositor britânico que chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, 30 de maio
‘Rocketman’ é um filme confessional.
“Sou um alcoólatra, um viciado em cocaína, um viciado em sexo, um viciado em compras e um bulímico”, diz Elton Hercules John (Taron Egerton) ao grupo de terapia em um centro de reabilitação, logo nas primeiras cenas do longa,
que chega aos cinemas nesta quinta, 30 de maio.
Enfiado em um macacão laranja salpicado de lantejoulas em forma de chamas com asas, chifres e penas, Egerton ocupa toda a tela enorme do cinema e, já nos primeiros minutos de filme, apresenta seu cartão de visitas.
A roupa é exagerada e grande. Mas Elton John é uma personalidade exagerada e grande. Os mais atentos logo observam que a cena em questão define o tom para ‘Rocketman’. Parece gritar: “Isto não é ‘Bohemian Rhapsody'”.
Com a devida licença à oscarizada interpretação de Rami Malek, que se transformou em Freddie Mercury e fez muita gente chorar nas salas de cinema mundo afora, ‘Rocketman’ não é apenas uma arranhadinha na superfície de um complexo gênio criativo.
O verdadeiro Elton John assina a produção do longa, junto com David Furnish, Matthew Vaughn, David Reid, Adam Bohling. Em recente entrevista à BBC, ele disse: “Dei meus diários para Taron Egerton quando assumiu o papel principal. Ele veio à minha casa, conversamos, e deixei que os visse. Eu sabia que ele era o homem certo quando o ouvi cantar ‘Don’t let the sun go down on me'”.
E parece ter sido um amor recíproco:
Elton John também cuidou pessoalmente para que ‘Rocketman’ não fosse para menores, simplesmente porque ele não levou uma vida “para menores”. Há sexo, drogas, bebida e alguns C-bombs — o que é bem ofensivo no Reino Unido. Não leve as crianças.
Confira, abaixo, o trailer oficial de ‘Rocketman’!
Bem mais do que uma fantasia musical
Trabalhado em flashbacks, o filme faz um recorte da vida da personagem principal desde o momento em que se sentou ao piano de sua avó Ivy (Gemma Jones), quando criança, e vai até 1990, no lançamento de “Sacrifice” — que marca a retomada do rumo da vida, da carreira e da parceria com Bernie Taupin.
E tudo isso pode ser resumido como um turbilhão de fama, fortuna e solidão desesperada.
Desprovido de amor parental, principalmente de seu pai, que abandonou a família quando o cantor britânico era ainda adolescente, a jornada emocional de Elton John é tão importante quanto a musical.
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As canções que interpretou ao longo de sua carreira de sucesso são usadas com excelente efeito no longa. Confira a trilha sonora, com produção musical assinada por Giles Martin — filho de George Martin, o quinto Beatle.
Mas ‘Rocketman’ é muito mais do que um musical no qual os personagens começam a cantar fora do estúdio de gravação ou do palco — embora haja trechos que remetem aos filmes da época de ouro dos musicais de Hollywood.
O desempenho vigoroso de Egerton nessas cenas — a estreia de Elton John cantando “Crocodile Rock”, cheio de energia e entusiasmo no palco da Troubadour, em Los Angeles, é uma delas — fará com que o jovem ator britânico festeje em todo o mundo. Especialmente suas proezas vocais.
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Ao contrário de Rami Malekp, Egerton canta cada nota de cada música. No caso de “Your Song”, a performance vocal foi ao vivo, no set, e não em estúdio. Faz toda a diferença saber disso. Só não correspondeu tanto em “Pinball wizard”. Mas o que é um grão de areia, não é mesmo?
‘Rocketman’ versus ‘Bohemian Rhapsody’
Pode parecer chato, mas é impossível escrever sobre ‘Rocketman’ sem o comparar a ‘Bohemian Rhapsody’. E vou fazer de novo, desculpem. Até porque Dexter Fletcher, que dirige a cinebiografia e Elton John, foi quem assumiu a direção da cinebiografia de Freddie Mercury após a demissão de Bryan Singer.
Sem contar que Sharon e Melina eram amigas íntimas. A Fundação Elton John de combate a Aids foi criada em 1992, um ano depois da morte de Mercury, vítima da doença.
[ngg src=”galleries” ids=”8″ display=”basic_imagebrowser”]E está lá a assinatura de Fletcher, um cineasta de floreios estilísticos — incluindo um giro de câmera de 360 graus, que realmente vende a grandiosa vida de Elton John ao som de “Pinball wizard”. Mas também está lá a parte frustrante de ‘Bohemian Rhapsody’.
O casamento de Elton John com Renate Blauel, em 1984, ganha apenas alguns minutos no filme. Starship One também faz uma aparição tímida… E o relacionamento sexual com John Reid (Richard Madden) termina abruptamente no filme — uma grande pena, porque a química de Egerton e Madden na tela é inegável (observe-os no Carpool Karaoke).
Também há um afastamento dos personagens coadjuvantes — sua mãe Sheila (Bryce Dallas Howard) e o colaborador de longa data Bernie Taupin (Jamie Bell). Especialmente porque há insinuações sobre uma história paralela de Taupin. Fica no ar a impressão de que há uma história fascinante a ser contada ali.
Mesmo assim, não há como suplantar a ambição de ‘Rocketman’. Pode não ser um filme biográfico direto em termos de tudo o que aconteceu e quando — tem o vacilo grotesco do figurino, até então perfeito, na inesquecível roupa de penas da apresentação no “Muppet Show”, a mesma que ele usou na sua participação em ‘Kingsman: The golden circle’, filme que revelou Egerton —, mas é honesto sobre a autodestruição necessária para levar Elton John à sobriedade. Algo que, infelizmente, “Bohemian Rhapsody” não pode reivindicar, apesar de, no fim das contas, também ser um grande filme.