Baterista termina turnê brasileira mostrando energia e que a magia do rock progressivo não morreu
Enquanto a história mostra que bandas de rock sofrem com a perda de seus bateristas (casos do The Who, com Keith Moon, e do Led Zeppelin, com John Bonham), algumas ficam com seu legado a cargo dos donos das baquetas. O Emerson, Lake and Palmer – formado pelos ingleses Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer – entra nessa categoria.
Ícone do rock progressivo, a banda tem sua música imortalizada pelo baterista Carl Palmer, que passou pelo Brasil com a sua Carl Palmer’s ELP Legacy Tour 2018, como parte da Top Cat Series, que também trouxe o guitarrista do Genesis, Steve Hackett e o grupo Premiata Forneria Marconi. Na sua última apresentação no país, o músico e seus dois ótimos escudeiros – Paul Bielatowicz (guitarra) e Simon Fitzpatrick (baixo) – fizeram uma apresentação de gala no Teatro Municipal João Caetano, em Niterói, no Rio de Janeiro.
Clássicos
Seguindo um setlist bem próximo das apresentações anteriores, Palmer desfilou uma série de clássicos de seu ex-grupo, mostrando uma vitalidade e força surpreendentes para um senhor de 68 anos e viveu o auge do sexo, drogas e rock and roll. Peças musicais como Trilogy, Lucky Man, Fanfare for the Common Man e Tarkus – o ponto alto da noite -, foram executadas com precisão e muita energia.
Recuperando o fôlego
A energia do baterista era recarregada entre as músicas, quando o britânico aproveitava para contar algumas histórias sobre as canções e sobre o grupo, e ainda recuperava o fôlego antes de atacar furiosamente a sua bateria. Normalmente a parte mais chata de um show de rock fica dividido entre a hora do solo de baixo ou do solo de bateria. Nos dois casos a surpresa foi mais que agradável. Simon Fitzpatrick fez um solo onde incluiu o clássico From the Beginning, com uma técnica de dedilhado (a lá Stanley Jordan) impecáveis. Já Palmer fez seu tour de force durante Fanfare for the Common Man, quase no fim da apresentação, marcada por vários pequenos solos.
Ataque epilético ou músicos cheios de ego e talento?
Há quem diga que o ELP não era apenas a reunião de músicos talentosos tocando música complexa e pretensiosa (no bom sentido). Para muitos o estilo do grupo se aproximava mais de um ataque epilético coletivo, onde cada um tocava de maneira egoísta. Apesar de concordar que musicalmente eles tinham um grande ego (com razão), a química e entrosamento eram inegáveis. A produtividade da banda no início dos anos 70, com a gravação de 5 álbuns de extrema qualidade – Emerson, Lake & Palmer (1970), Tarkus (1971), Pictures at an Exhibition (1971), Trilogy (1972) e Brain Salad Surgery (1973) – dentro de um período de apenas três anos é típica de uma época onde mesmo as mais complexas produções eram realizadas em uma velocidade impensável para os dias de hoje, assim como alcançar vendas de 48 milhões de discos, nesses tempos de streaming.
Teatro cheio de “combustível”
– Obrigado por terem vindo nos assistir essa noite. Sei dos problemas que vocês estão tendo com combustível e outras coisas. Nós mesmos tivemos uma carreta com equipamento parada em uma estrada e tivemos que alugar alguns equipamentos – falou Palmer para a plateia em certo momento da apresentação.
Se o país sofre com o bloqueio das estradas realizado por caminhoneiros e empresários e com a total falta de habilidade e força do Governo para resolver o problema, o público de Niterói deu uma demonstração de que mesmo com os problemas no transporte e a escassez de gasolina, a boa música vence. O belíssimo Teatro Municipal de Niterói estava praticamente lotado e, tenho certeza, suas paredes – quase bicentenárias – foram revigoradas com uma energia e uma música não muito comum para o local.
No fim das contas, os que não tiveram a oportunidade de assistir ao ELP com os três integrantes ou alguma de suas reencarnações, teve uma boa mostra da magia que a sua música ainda possui.
Ainda há grandes nomes do progressivo vivos e fazendo história. Quem tiver a oportunidade de, por exemplo, assistir ao Yes (com Rick Wakeman), não deve deixar de aproveitá-la, mas quem presenciou o Carl Palmer de 2018 pode se orgulhar de um ídolo que soube envelhecer com a força de um rapaz de vinte e poucos anos.
O show
Abaddon’s Bolero (Emerson, Lake & Palmer cover)
Karn Evil 9: 1st Impression, Part 2 (Emerson, Lake & Palmer cover)
Tank (Emerson, Lake & Palmer cover)
Knife-Edge (Emerson, Lake & Palmer cover)
Trilogy (Emerson, Lake & Palmer cover)
From the Beginning (+ solo de baixo)
Canario (Emerson, Lake & Palmer cover)
21st Century Schizoid Man (King Crimson cover)
Solo de guitarra
Hoedown (Aaron Copland cover)
Lucky Man (Emerson, Lake & Palmer cover)
Tarkus (Emerson, Lake & Palmer cover)
Carmina Burana (Carl Orff cover)
Fanfare for the Common Man (Aaron Copland cover)
Solo de bateria
Nutrocker (Pyotr Ilyich Tchaikovsky cover)
Uma versão deste texto foi publicado na Revista Ambrosia