Gigantes da web querem levar sinal a regiões remotas com drones

Parece brincadeira e pode até ser que seja mesmo.

Drone internetCom pouco mais de 44 anos de existência, a internet tem cerca de 2,7 bilhões de usuários (39% da população mundial), alimentando um mercado multibilionário. Os restantes 61% desconectados estão provocando uma espécie de “corrida espacial” entre os gigantes da rede. E, no mundo móvel, a briga é ainda mais acirrada. Com o celular atingindo mais de 96% dos terráqueos, uma expansão da infraestrutura da web representaria um potencial de venda de serviços monumental. Google e Facebook estão esfomeados, quase desesperados, para engolir o próximo bilhão de internautas. E, para isso, não param de bolar novas maneiras de levar sinal a rincões ainda virgens.

Equipamentos geoestacionários, drones e balões estão entre os veículos por meio dos quais os players querem conquistar territórios. Para isso, eles terão de vencer desconfianças que cercam tais tecnologias — no Oriente Médio, por exemplo, um dos potenciais mercados a explorar, com apenas 26% da população atualmente conectada à internet, drones são comumente associados pela população a ações de contraterrorismo americanas e percebidos como ameaças. Além disso, dizem especialistas, há o medo de que os exploradores desse tesouro virtual possam recolher dados de usuários indiscriminadamente de modo muito mais fácil a partir do espaço.

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, lançou em agosto de 2013 sua iniciativa “internet.org” em parceria com seis grandes companhias de telefonia móvel, com o objetivo de levar acesso à internet mais barato a todos. “A população conectada do mundo está crescendo apenas 9% ao ano. Queremos acelerar esse crescimento”, diz o documento principal da instituição, que já fechou acordos com provedores nas Filipinas e no Paraguai. Mas a internet.org investe também em outras tecnologias.

No setor de satélites, para fornecer conexão à internet, o Facebook contempla usar equipamentos geoestacionários, que orbitam a mais de 35 mil quilômetros de altitude, além de satélites não estacionários de órbita terrestre baixa (entre 400 e 600 quilômetros). A rede social está avaliando usar em seus satélites a tecnologia FSO (Free Space Optics), baseada em laser e que exige grande precisão na pontaria do feixe luminoso.

Empregabilidade ainda é incerta

Já no departamento dos drones, o Facebook tem planos ousados, mas levou uma rasteira de última hora do Google, que comprou, debaixo de seu nariz, a empresa Titan Aerospace, cortejada há muito pela companhia de Mark Zuckerberg. Este acabou arrematando a inglesa Ascenta, que produz drones movidos a energia solar.

Mesmo parecendo promissores, os drones ainda são uma tecnologia incerta para prover conectividade.

— Drones usados para internet ainda são uma aposta — afirma Nei Brasil, cofundador e presidente da Flight Technologies, empresa brasileira especializada nessas aeronaves. — Os custos são altos, e a viabilidade técnica existe, mas a modelagem econômica ainda é um mistério. Outro fator é a incerteza quanto à regulamentação pelas autoridades do setor aeronáutico, tanto no Brasil quanto nos outros países. Os próprios americanos ainda não têm regulamentação para drones na área privada. Mas Google e Facebook têm bala na agulha para se dar ao luxo de queimar US$ 50 milhões ou US$ 60 milhões em um projeto experimental de drones para implementar conectividade.

Outra seara à vista no futuro da internet são os balões. Desde 2008, o Google já vinha pesquisando modelos atmosféricos para levar conectividade à internet, mas só em junho de 2013 iniciou o Project Loon, com um experimento na Nova Zelândia envolvendo 30 balões lançados em coordenação com as autoridades locais de aviação civil. O projeto piloto fornece acesso à rede a 50 usuários da região.

No início de abril passado, o Google soltou cerca de 300 balões, que deram uma volta completa pela Terra na latitude 40° Sul, provendo experimentalmente acesso à internet a regiões ermas de Nova Zelândia, Austrália, Chile e Argentina. E um dos balões — o histórico I-167 — fez a volta completa em 22 dias. O plano da empresa é espalhar milhares deles na estratosfera, de modo a cobrir as áreas secas e habitáveis do planeta.

O Brasil também tem uma iniciativa para prover conexão à internet por balões: o Projeto Conectar, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Mas o conceito é diferente.
— Nossos balões são ancorados, ou seja, ficam presos ao solo por uma corda de aramida, bem leve — explica José Ângelo Neri, pesquisador do Inpe e coordenador do Projeto Conectar. — Eles pairam a cerca de 400 metros do solo, proporcionando conexão num raio de até 100 quilômetros e funcionando como se fossem torres convencionais, só que mais altas, mais baratas e com alcance muito maior.

O projeto é 100% brasileiro e pode servir também para dar apoio a regiões em caso de desastres. O próximo passo é um experimento piloto — definido em dezembro de 2013, mas ainda aguardando autorização ministerial — na Região Norte, que deve cobrir dez cidades num raio de 50 quilômetros a 100 quilômetros.

— Usamos nos balões os gases hélio ou hidrogênio, mas a logística do projeto é complicada. Quanto à inflamabilidade do hidrogênio, não há problema. Já testamos nossos balões dando até sete tiros neles. Não houve explosão, e a descida foi suave, já que a diferença de pressão é minúscula, apenas um centésimo de atmosfera.

Momento de transformação na rede

Os tubarões da internet sabem que a grande rede está num momento de transformações, e este — além da possibilidade de grandes lucros — é um dos motivos para a fome por novos usuários. Hugo Fuks, professor e diretor do Departamento de Informática da PUC-Rio, explica que, de fato, a web está mudando de vocação.

— Deixando de lado o bom e velho e-mail, a internet está deixando de ser um veículo de consumo de informações para se tornar uma via de interações entre usuários, instituições e empresas, uma metamorfose bem simbolizada pelo fenômeno das redes sociais — explica. — Com a iminente “internet das coisas”, essa situação se agrava ainda mais, pois as interações passam a contemplar bilhões ou trilhões de objetos conectados e endereçáveis pelo protocolo IPv6, que teoricamente seria capaz de abarcar todos os grãos de areia do planeta.

Google, Facebook e outros gigantes estão conscientes desse futuro. É o que diz o analista de tecnologia americano Mike Elgan:

— Essas redes estão se convertendo de sites centralizados que concentram milhões de usuários em aplicativos com funções específicas dentro de uma mesma plataforma, que conseguirão captar ainda mais usuários e, é claro, juntar o máximo de informações deles para, depois, dirigir-lhes anúncios personalizados super eficientes.

Fonte: O Globo

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