Uma noite para não esquecer
A perda recente de um filho, a transmissão ao vivo pela TV (fechada) e toda a onda de solidariedade e de mensagens de carinho que emanaram de todos os lados já faziam prever uma apresentação cheia de emoção do Tremendão Gigante Gentil Erasmo Carlos, que fazia o lançamento do seu novo trabalho (Gigante Gentil) no Rio de Janeiro.
O Vivo Rio tinha um clima de solidariedade e com sua capacidade quase completa, misturava famosos, fãs e jornalistas famosos (como você pode ver em várias fotos), curiosos em ver como estaria o Tremendão. Com a obrigação de cumprir o horário da TV, Erasmo e banda – Luís Lopes (violão e guitarra), Pedro Dias (baixo), Rike Frainer (baterista), José Lourenço (teclados), Billy Brandão e Rogério Percy (guitarras), além da participação especial de Ana de Oliveira (violino) – entraram no palco pouco depois das 22h, mandando logo a canção que dá nome ao novo disco, recheada de guitarras e de peso. Logo nesse primeiro número foi possível notar que a voz do Gigante – que nunca foi um cantor de primeira linha – não estava em um bom dia. Essa sensação foi até menos sentida pela plateia presente ao Vivo Rio, mas o som nítido e a melhor mixagem do Multishow não deram trégua ao artista.
Mas se o Tremendão não estava em um dia de boa voz, sua banda mostrou que é uma máquina mais que azeitada. Os vocais dos ex (e ainda) Filhos da Judith (Luís e Pedro) continuam afinadíssimos e as guitarras de Billy e Rogério davam um quê rock’n’roll mesmo nas canções mais pop do repertório de Erasmo.
O show
Por falar em Erasmo, ele continua mostrando a mesma falta de conforto no palco, uma espécie de Art Garfunkel do rock brasileiro. O repertório, que incluiu várias músicas da nova safra, mantinha uma estrutura bastante próxima das últimas apresentações das turnês Rock’n’Roll e Sexo. Algumas canções ausentes fizeram falta, como Filho Único e Panorama Ecológico, mas as mudanças no setlist mantiveram o ótimo nível das composições, tarefa fácil para alguém que fez uma quantidade enorme de canções que estão carimbadas no DNA da música popular. Mulher (Sexo Frágil), Gatinha Manhosa, Quero que vá Tudo Para o Inferno, Mesmo Que Seja Eu e Sentado A Beira do Caminho, são bons exemplos de músicas que todo mundo conhece, gosta e canta.
As novas canções
Se o novo Gigante Gentil não tem a força do disco Rock’n’Roll, as novas canções incluídas no show não deixam o pique cair em nenhum momento. Se a faixa-título abre o show em alto astral, músicas como 50 Tons de Cor, Amor na Rede e Sentimentos Complicados (parceria inédita de Erasmo e Caetano Veloso), mostram que o Tremendão ainda é um compositor de mão cheia, mesmo depois de 50 anos de carreia e mais de 70 de idade. Um velhinho porreta!
Outro destaque do show, além do repertório, são as animações que ilustram o espetáculo. Nada comparado ao que foi visto com Marisa Monte, mas Erasmo conseguiu entrosar melodias e harmonias com alguns desenhos animados de primeira categoria e que só fortalecem a performance do artista.
Um final cheio de emoção
A noite corria bem, com tudo dentro do script – os comentários, as piadas, etc – até que perto do fim do show, durante a música É Preciso Saber Viver, o inevitável aconteceu: Erasmo desabou em um choro mais do que compreensível.
No fim, a festa de arromba acabou servindo para exorcizar os momentos ruins vividos nos últimos dias e deixar caro que o show deve continuar e que Erasmo ainda tem muito para dar a nossa música, principalmente como compositor.
A citação ao filho Gugu a letra de Festa de Arromba e as últimas palavras do show deixaram claro que a noite era especial.
“Obrigado a todos! Obrigado, Gugu! Te amo, porra!!”
Obrigado a você, Erasmo. Vida longa e próspera!
Fotos: Ricardo Nunes