McCartney e McCartney II De Luxe – A Crítica

Chegaram os dois mais recentes lançamentos da série Paul McCartney Archive Collection. Depois de remasterizar o clássico Band on the Run, Macca e a Hear / Concord Music colocam no mercado as várias versões dos dois primeiros discos solos do ex-beatle: McCartney (1970) e McCartney II (1980).

As versões comentadas aqui serão as De Luxe, que incluem os discos originais, muitas faixas bônus, um DVD e lindos livros com 128 páginas de muitas fotos e algumas boas histórias.

McCartney

O disco, recheado de boas canções, algumas brincadeiras e até mesmo uma música inspirada em um documentário sobre uma tribo indígena brasileira (Kreen-Akrore), foi gravado por um Paul McCartney cheio de belas melodias na cabeça e que tentava fugir das amarras da Apple e das brigas com os outros Beatles.

Para compor o repertório, Paul – que gravou tudo escondido da Apple e seus advogados – resgatou canções que já haviam sido apresentadas aos Beatles, além de compor outras que se tornariam clássicos (Maybe I’m Amazed) e algumas outras brincadeirinhas.

Paul alugou uma máquina de quatro canais, instalou em sua fazenda e, utilizando instrumentos básicos (violão, baixo, guitarras, piano, órgão e um xilofone – criou sons palatáveis e que, embora muito criticados na época do lançamento – principalmente por conta da entrevista que vinha anexa as cópias enviadas para a imprensa, na qual divulgava o fim dos Fab Four – são dos mais agradáveis de se ouvir.

As versões já lançadas de McCartney sempre sofriam com um som pouco aberto, que sempre pensei ser culpa da tecnologia da época e das más condições acústicas nas quais foi gravado. Para minha surpresa, o som da nova versão é límpido, cristalino, aberto e muito superior a tudo que já havia ouvido. Violões, piano, vozes e todos os sons parecem estar sendo feitos na sua frente. Sensacional.

Material extra

O material de áudio extra que completa o pacote normal e faz parte da edição de luxo é interessante, mas não chega a ser imprescindível. Há um demo de Suicide (o mesmo take que ouvimos por poucos segundos após Glasses), duas versões de Maybe I’m Amazed (do One Hand Clapping e outra do último show da turnê de 1979 dos Wings), Hot as Sun e Everynight (também da turnê de 79), além de Don’t Cry Baby (versão instrumental de Oo You) e um demo de uma canção inédita (Women Kind), que realmente não tinha condições de ser gravada.

O DVD conta com um especial onde Paul narra a história das gravações, um capítulo com imagens da família McCartney na praia e alguns vídeos onde Macca interpreta músicas do álbum. Nada que seja imprescindível, com exceção da versão de Suicide do One Hand Clapping, a única coisa que não foi incluído no filme lançada com a versão De Luxe do Band on the Run. Ainda espero que a íntegra do Concert for the People of Kampuchea chegue ao mercado algum dia.

McCartney II

Ao contrário do primeiro disco solo, em 1980, Paul McCartney era uma alma atormentada. Segundo ele mesmo conta, já estava meio de saco cheio dos Wings e aproveitou 6 semanas em 1979 para alugar uma máquina de 16 canais e se divertir com sintetizadores, bateria e outros instrumentos. Depois, ainda teve o incidente na chegada ao Japão antes da abortada turnê nipônica.

O resultado dos experimentos que acabariam se tornando o segundo solo do artista, foi uma coleção de canções que – novamente segundo ele – não tinham intenção de serem lançados. Eram apenas para seu próprio divertimento. Infelizmente, as pessoas para quem Paul mostrou o material o convenceram a lançar algumas das canções.

O grande problema do McCartney II é que as composições foram – em sua grande maioria – sendo construídas tendo como base a bateria. Paul acordava, ia para o instrumento, gravava e depois ia incluindo outros sons sobre sua percussão. Um método que quase nunca gera bons resultados, mesmo para uma pessoa com o dom da melodia.

Pior, Macca parece realmente ter entrado em uma onda muito estranha naquelas semanas, o que resultou numa série de títulos que nada acrescentam ao portfólio do artista. Músicas como Frozen Jap, Darkroon e Bogey Music são totalmente esquecíveis (ou inesquecíveis pela sua péssima qualidade). Há até coisas interessantes (Temporary Secretary e Coming Up) e outras mais normais (Waterfalls e One of These Days), mas o resultado final é abaixo da crítica.

A qualidade de som é melhor que os lançamentos anteriores, mas os resultados não são tão impressionantes como os alcançados no McCartney. A explicação pode ser a qualidade ruim dos sintetizadores e sequenciadores usados durante as gravações, assim como os efeitos colocados nas vozes e em muitos instrumentos.

Material Extra

A quantidade de material que não foi utilizado no McCartney II é imensa – o disco era para ser duplo. Por conta disso, são dois CDs só de áudios, que causaram risos (de nervoso) ao serem ouvidos no carro. No primeiro, os destaques são a versão orquestrada de Blue Sway (outtake), a versão completa de Coming Up ao vivo (em Glasgow) e as inéditas e inacreditáveis Bogey Wobble e Mr H Atom / You Know I’ll Get You Baby, além da versão completa de Secret Friend. Mesmo assim, é de arrepiar pensar que elas poderiam ser de conhecimento do grande público fazendo parte de um lançamento de carreira de Paul McCartney.

O segundo CD é recheado das versões completas de canções que fazem parte do lançamento original. Coming Up, Front Parlour, Frozen Jap, Darkroom, Check My Machine e Wonderful Christmastime, além da versão lançada em single de Waterfalls e a versão original (sem vocais) de Summer’s Day Song. Em poucas palavras: um suplício auditivo.

O DVD já é bem mais interessante, pelo menos para quem é colecionador, público alvo desse lançamento. Nele temos os clipes dos singles do disco, além da versão ao vido de Coming Up (do Concert for the People of Kampuchea) e da nova versão de Blue Sway, além de uma entrevista de 1980, onde Paul fala sobre o disco. Mas o pote de ouro é mesmo o ensaio de Coming Up, na fazenda de Paul com os Wings). Um vídeo com muitas outras canções ensaiadas nesse dia circula (em qualidade ruim) entre os colecionadores há mais de 2 décadas. O bom é saber que mesmo o original não é perfeito e que seu autor é John Hammel, fiel escudeiro de Paul. Tomara que o resto dos ensaios apareça nos próximos títulos dessa Paul McCartney Archive Collection.

Conclusões

Os relançamentos da Paul McCartney Archive Collection são caprichados e mesmo as versões normais – as únicas lançadas no Brasil – valem o dinheiro por conta do upgrade no som e das faixas bônus. No caso dos títulos desta segunda leva, fica clara a superioridade do disco de 1970 sobre o de 1980.

Como conjunto da obra – sempre falando do ponto de vista de colecionador – o pacote do McCartney II é muito superior. Mais informações, melhores vídeos e mais música, mesmo que de baixa qualidade.

No fim, se você é apenas um fã causal, compre o McCartney e passe direto pelo McCartney II. Dependendo do seu grau de vício, compre essas versões De Luxe. Elas são numeradas e devem sumir do mercado em breve.

Confira a lista das músicas dos dois discos aqui.

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