Uma das vantagens em assistir a um show sem a responsabilidade de escrever sobre ele para algum veículo é poder curtir melhor, além de não ter prazo de fechamento e poder escolher o título do seu texto sem a interferência de pessoas que não entenderiam o que você está querendo dizer. Por motivos puramente mercadológicos, deixei de lado minhas primeiras opções de títulos – U2 é brasileiro e não Desiste Nunca e U2 deixa o Brasil com Canja de Seu Jorge – por algo bem mais direto. Felicidade total!
Agora, o texto.
A última das três apresentações da banda irlandesa no Brasil teve um setlist sem surpresas, um Bono sem agudos e a participação de Seu Jorge. A tarde/noite em São Paulo começou estranha: tempo bom e trânsito bom. Indícios de um grande show?
Vamos deixar claro, o U2 faz hoje o maior espetáculo da música mundial. Seja pela qualidade das canções ou pela grandiosidade do palco 360º. Palco que, aliás, impressiona todos os que entram no estádio. A visão é impactante e deixa muita expectativa sobre o que pode acontecer.
A primeira mostra do poder do 360 acontece na apresentação da banda de abertura, Muse. Os ingleses fizeram um bom set, embora as 8 canções pudessem ser um pouco mais enxutas. Os rapazes são bons, mas abrir um show do U2 não é tarefa fácil e a platéia já estava impaciente ao fim da apresentação.
O público – que teve estimativa oficial de 89 mil pessoas – transitava com um conforto incomum para os padrões de shows de rock de grande porte. Formado em sua grande maioria por retardatários (que não conseguiram ingressos para as duas primeiras apresentações) e por fãs de carteirinha (que assistiram mais de um concerto) prometiam jogar junto do grupo durante todo o tempo. O show, que também foi transmitido pela rádio, tinha tudo para ser sensacional. E foi.
Do início, com Even Better Than the Real Thing, ao final, com Moment of Surrender, foram pouquíssimos os instantes onde o pique do show caiu. Talvez a sequência com Miss Sarajevo, Zooropa e City Of Blinding Lights, além da aparição especial de Seu Jorge, cantando The Model (do Kraftwerk) possam ser considerados menos inspirados. Mas o público vibrou da mesma forma, para alegria da banda, que elogiou o público da América do Sul.
Se a voz de Bono não estava em plena forma – após dois shows seguidos e dois dias de festa na noite paulista – o vocalista mostrou que sabe todos os atalhos para interpretar suas canções com competência, mesmo sem agudos ou falsetes. A cozinha, formada pelo baixo de Adam Clayton e a bateria de Larry Mullen Jr., seguram a pulsação da banda, enquanto a guitarra de The Edge dá brilho as melodias e harmonias criadas pelo grupo. Com o repertório que têm e a competência de seus músicos, não há como o U2 deixar o palco – outra estrela do show – sem receber muitos e merecidos aplausos.
Fim de festa e só fica o pensamento: Quando eles voltarão ao Rio? A Cidade Maravilhosa merece.
O palco
O palco do show é um capítulo a parte. Desenhado para que mais pessoas possam ter boa visão da banda, o 360º impressiona, funciona muito bem, embora ainda pudesse ser aperfeiçoado. A bateria, por exemplo, poderia girar¹. Ela fica estática de frente para uma parte da platéia, apenas. Entretanto, a qualidade do telão e a quantidade de efeitos produzidos não deixam dúvidas que qualquer banda média soaria muito melhor nele. Imagine o U2.
As sustentações – em formato de garras – as passarelas móveis, tudo foi preparado para dar liberdade aos membros da banda e deixar qualquer um boquiaberto. Quem não foi, perdeu, com certeza, a maior produção do planeta.
O Morumbi
São Paulo quer sediar a abertura do Mundial de 2014. É uma reivindicação justa, mas ou constroem mesmo um novo estádio ou podem esquecer. Fico impressionado como alguns cronistas, políticos e torcedores que acham que o Morumbi tem condições não só de receber jogos como fazer a abertura da Copa.
Depois que entramos no estádio, tudo é muito bom. Boas instalações, banheiros e sinalização. Porém, entrar e sair de lá exige muita, mas muita, paciência. São vários os acessos, todos eles difíceis de chegar e com grandes engarrafamentos. Se em concertos como os de Paul McCartney e do U2, cujos públicos são calmos, a coisa estava complicada, imagine com torcidas de futebol.
Ir de carro não é uma opção! Quase não há estacionamentos e os que existem têm donos formados em extorsão. Os táxis – a única opção possível de locomoção, já que os ônibus passam bissextamente, com sorte – tentam cobrar as corridas no tiro. Sempre com valores absurdos. Para conseguir uma corrida no taxímetro, é preciso esperar quase duas horas do fim de qualquer evento, quando a demanda diminui e os ladrões se resignam e voltam as suas identidades originais.
Portanto, pensar no Morumbi como opção para 2014 é, no mínimo, irresponsável.
¹ Segundo o leitor Sebastião Grangeiro, a bateria gira. Sinceramente, não vi, mas deixo aqui o registro, já que é fácil perder algo de vista com tantos elementos móveis.
Confira os setlists
Muse
Citizen Erased
Uprising – (Riff Version)
Bliss – (Extended)
Resistance
United States Of Eurasia
Time Is Running Out – (+ Power of Soul riff and Jimmy Jam)
Starlight
Knights of Cydonia
U2
Even Better Than The Real Thing
I Will Follow
Get On Your Boots
Magnificent
Mysterious Ways
Elevation
Until The End Of The World – (with “Anthem” and “He’s Got The Whole World In His Hands” snippets)
I Still Haven’t Found What I’m Looking For
Pride (In The Name Of Love)
The Model – (Kraftwerk cover) (with Seu Jorge)
Beautiful Day – (“Gracias a La vida” snippet)
Miss Sarajevo
Zooropa
City Of Blinding Lights
Vertigo – (“It’s Only Rock And Roll” snippet)
I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight – (“Relax” and “Two Tribes” snippet)
Sunday Bloody Sunday
Scarlet
Walk On – (“You’ll Never Walk Alone” snippet)
Encore:
Desmond Tutu Speech – (Intro for Encore)
One
Where The Streets Have No Name – (All I Want Is You” snippet (intro); “All You Need Is Love snippet”)
Encore 2:
Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me
With Or Without You
Moment of Surrender
Fotos de Bruna Sanches /Divulgação (tiradas no show do dia 11/04)
De fato, lamentavel ter a obrigacao de escrever para algum veiculo de comunicacao e para isso, usar uma receita. Sem comentarios.. Lastimavel, nao fosse pela corretissima colocacao acerca da pessima estrutura do Morumbi para sediar a COPA 2014.
No mais, gostaria de saber se o jornalismo de hoje ainda considera CRITICA como sendo a arte de falar mal de algo que, ao olhar dos menos experientes em Comunicacao Social, foi TUDO DE BOM.
Nao pode ser a toa que os melhores jornalistas, publicitarios ou relacoes publicas nao necessitam ter faculdade para exercer sua profissao. Ser chato e impertinente qualquer um pode ser.
Não sei como deve ser escrever usando fórmulas, mas sei que deveria ser obrigado ler usando uma simples: ler o que está escrito e não aquilo que se quer ler. Se as pessoas não aprederem a ler assim, vai sempre aparecer um imbecil entendendo tudo ao contrário. Fã já é um bicho complicado (e eu sei, porque sou), mas acha que nada pode ter defeito é dose pra mamute. Deveria haver uma faculdade de interpretação de texto.
Caro Fernando,
Apenas um adendo: a bateria gira sim, mas não o tempo todo!
Estive no segundo show, na arquibancada amarela (que, aliás, foi excelente pela proximidade!) e pude conferir o Larry de todos os ângulos.
Vou colocar essa observação o texto. Realmente não a vi girando, mas seu testemunho valeu.
Abração,
Estive no ultimo show na arquibancada amarela. Concordo com tudo que foi dito! A propósito, não vi a bateria girar. Eu estava mais ansiosa em ver o Muse já que é a minha banda favorita, esperava um show curto porem não tão tímido em comparação aos shows que eles fazem lá fora. Sobre o U2, está pra “crescer” banda capaz de realizar um show como esse. Eu definitivamente não consigo descer da nave!