Alternativos, cômicos, talentosos e malditos. Jorge Mautner e Jards Macalé são conhecidos por vários destes adjetivos, colhidos durante décadas de carreira. Durante dois dias (30 e 31 de abril) a dupla se reuniu no palco do Rival Petrobras para um show bem-humorado e bastante relaxado.
Para que os menos habituados ao estilo de Macalé não se enganem, vale dizer que ele estudou piano e orquestração com Guerra Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg, violão com Turíbio Santos e Jodacil Damasceno e análise musical com Ester Scliar. O cara não é fraco e usa todo o seu conhecimento harmônico para criar um estilo debochado e único.
Já Mautner, com seu violino e voz grave, é um navegador pelos vários ritmos brasileiros, tendo parcerias com nomes como Caetano Veloso e o próprio Macalé. Contador de causos, foi o responsável pela maior parte das histórias contadas no show.
Ah, o show. O formato é simples – uma música com os dois no palco, um set com Mautner, outro com Macalé e o final com a dupla novamente reunida – e efetivo. Na primeira noite, ainda foi possível detectar alguns erros e esquecimentos em letras e melodias, o que acabou dando um tom ainda mais descontraído ao encontro. Afinal, se tudo fosse certinho, não estaríamos diante de dois malditos.
Tivemos Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga e clássicos da carreira dos dois músicos. Faltou uma do Kid Morengueira (Moreira da Silva), parceiro de Jards desde os anos 70. Aliás, Macalé ainda roda o Brasil com um show só com o repertório de Moreira, mas não tocou nenhuma na noite de quarta (30/03).
Entre risos, coros e silêncios respeitosos, o público – onde muita gente estranha, com ar de estudantes de cinema – saiu satisfeito com o que viu e ouviu. Nada de grandes produções, nada que vá render um DVD (merecia), mas um espetáculo de muito boa música.