Algumas frases são românticas, outras épicas, algumas são profundas, outras simples, bonitas, diretas. Português é uma língua rica, complexa, que permite esse tipo de construção. Muito mais difícil é criar frases com essas características em um idioma tão mais pobre como o inglês.
Não é fácil ler ou ouvir algo em inglês e dizer: “Que coisa bonita!”. Normalmente é preciso entender o sentido ou a imagem criada. São poucos os que têm um domínio do simples/sofisticado/de bom gosto suficiente para nos emocionar com algo que pode ser entendido em qualquer hemisfério.
Assim como na música, alguns artistas e alguns períodos parecem mesmo terem sido abençoados. Não pode ser coincidência que todos lembrem de alguém (e gostem) nos quatro cantos do Planeta, sem que algo de muito diferente faça parte do pacote dessa pessoa/artista.
Os anos 60 foram especiais. Infelizmente não os vivi, mas até hoje ouço e vejo o seu legado. Principalmente na música, parece que todos foram tocados por algum tipo de mágica. Só isso pode explicar Hendrix, Townshend, Stones, Byrds, Clapton, Bruce, Moon, os Johns (Sebastian e Phillips), Crosby, Nash e todos os outros (sem citar os brasileiros) que povoaram de talento aquela década. E, claro, de todos os que se destacaram no campo musical, na pole estão os Beatles. Duvido que algum outro grupo venha a ter a mesma combinação de talentos e uma produção tão diversa e qualificada como a da banda de Liverpool.
And in the End, the Love You Take is Equal to the Love You Make é a última frase da última canção (listada na capa) do último disco gravado pelos Beatles. Estou falando de disco – no caso LP e não relançamentos, CDs ou similares. Abbey Road não foi o último disco lançado pelo grupo (foi Let it Be), mas foi o último a ser grabado por eles.
Como se pode ver pelas fotos da famosa travessia da rua do mesmo nome, onde fica o estúdio da EMI, o clima entre eles não era bom, a falta de paciência e saco era total, os desentendimentos constantes e o fim iminente. Isso serve apenas para tornar mais enigmática e para mostrar como tinham os pés no chão. Afinal, é quase uma declaração de amor rara de fazer durante o processo de separação.
Não importa se na voz de Cassia Eller ou Paul McCartney, ouvir essa frase faz pensar e querer que todos fizessem o mesmo.