‘Espírito de Família’, uma comédia francesa para sorrir, rir e refletir

“Espírito de Família”, que estreia nessa quinta nas plataformas digitais, conta a história de uma família que se reconecta emocionalmente depois da perda do patriarca

Um escritor com problemas de relacionamento e uma família bastante disfuncional. Essa realidade poderia continuar para sempre caso o patriarca da família não morresse em frente ao filho e voltasse para fazer com que redescubra alguns prazeres da vida e saísse do seu casulo egoísta.

Essa é, a grosso modo, a história básica da comédia francesa “Espírito de Família” (A2 Filmes), que chega às plataformas digitais nesta quinta-feira (17).

Ritmo dos anos 60

Escrito e dirigido por Éric Besnard, “Espírito de Família” (L’Esprit de Famille, no original em francês) é uma comédia com ritmo e cara de anos 1960 (o que é um grande elogio) e ótimas atuações, especialmente do protagonista Guillaume de Tonquédec (Alexandre).

— Alexandre é um personagem delicado de interpretar. No início do filme, ele está totalmente fora de contato com a vida real. Ele vive em sua bolha de escrita. Para interpretar, precisava de alguém que pudesse tornar essa metamorfose verossímil. Aceite interpretar vazio. Seria como deixar os ‘efeitos’ para os outros atores, a fim de construir algo sobre a obra como um todo. Se eu tivesse escolhido um ator ‘catalogado’ como “mudo”, teria arriscado desde o início perder espectadores e, inversamente, se tivesse contratado um “medalhão” reconhecido popularmente, seria difícil exprimir a complexidade de Alexandre. Procurei então um ator com um físico mais neutro, mas que simultaneamente tivesse empatia, amplitude de cena e senso de comédia. Seria como escolher Jack Lemmon. Não sou o primeiro a fazer a ligação entre o ator de Billy Wilder e Guillaume, e isso foi fundamental na minha escolha — explica o diretor e roteirista, Éric Besnard.

Por “cara dos anos 60” podemos citar cenas onde um casal é levado para passear em uma cama. Qualquer semelhança com a abertura do seriado dos Monkees não parece ser mera coincidência.

 

 

 

 

 

Um fantasma mal-humorado

Mesmo que você não seja um grande admirador do cinema francês, “Espírito de Família” deve agradar. As atuações de Guillaume de Tonquédec (Alexandre, o escritor e filho) e François Berléand (Jacques, o pai que morre e volta) são brilhantes.

O primeiro, vivendo em seu mundo onde não há lugar para sentimentos ou conexões com outras pessoas. O segundo, encarnando um pai/fantasma mal-humorado e cheio de personalidade.

— O pai do meu filme não é um retrato fiel do meu pai verdadeiro. Eu tanto o “endureci”, dando a ele um lado julgador, e então “suavizei”, tornando-o um hedonista próximo ao Zorba de Michael Cacoyannis. (Spoiler) Meu pai não dançava pelado nas praias e eu nunca quebrei seus carros com uma marreta — explica Besnard.

As aparições de Jacques para Alexandre (o único que pode vê-lo) são sempre muito inspiradoras e deixam o escrito em situações onde a loucura seria a melhor explicação para suas atitudes.

— Se o filme fala da sublimação do luto do pai, é também a história de um filho que se reconciliará consigo mesmo — diz Éric.

Belas paisagens

Filmado na cidade de Quiberon (no Oeste da França), o longa também utiliza bem as paisagens e a bela luz natural da região para pontuar emoções e ditar o ritmo do longa.

— A luz lá é esplêndida! A casa que encontramos era ideal. Era “habitável” o suficiente para parecer ter uma longa história familiar e ela era grande o suficiente para mostrar que uma viúva não tinha mais condições de sustentá-la. Além disso, essa casa tinha uma situação incrível, plantada, assim, no meio do nada — revela o diretor.

Personagens bens construídos

Os demais personagens da trama também são bem construídos, tornando as histórias paralelas envolventes e com algumas (boas) surpresas.

Há o irmão que sonha em ser fotógrafo (como o pai), mas que trabalha como empresário. Há a cunhada meio louca e que toma uma série de medicamentos. Temos também a mãe, outra figura central e que sofre com a perda do companheiro de décadas.

Ainda existem outros personagens que mereceriam citações, mas acho que seria spoiler demais.

“Espírito de Família” é uma diversão ideal para quem gosta de nonsense, de sorrir (sem a necessidade de gargalhar) e é fã de histórias inteligentes. Além disso, serve como um sopro de frescor no mar de “comédias escrachadas” e com humor raso que tomam conta da maioria dos lançamentos atuais (nacionais ou estrangeiros).

O longa é mais uma prova de que a produção francesa atual vive uma ótima fase. Até mesmo a escolha da trilha (com destaque para Cat Stevens) é certeira.

No fim das contas, “Espírito de Família” é um filme que faz sorrir e refletir sobre como conduzir o nosso comportamento em relação aqueles que amamos.

Não deixe de ver!

Ficha técnica

Espírito de Família
Título Original: L’Esprit de Famille
Duração: 98 minutos
Direção: Éric Besnard
Roteiro: Éric Besnard
Elenco: Guillaume de Tonquédec, François Berléand, Josiane Balasko, Isabelle Carré, Jérémy Lopez, Marie-Julie Baup
Distribuição: A2 Filmes

Uma versão deste texto foi publicada na Revista Ambrosia

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