O bluesman Cray falou com o Blog do Feroli sobre sua carreira e os shows que fará por aqui: “Quero tocar até estar bem velho”
O Brasil é um lugar muito peculiar. Tem funk, Anitta e sertanejo universitário, mas também tem um público fiel ao blues, o que faz do país um destino constante para os astros do gênero.
Robert Cray é um deles. Com várias passagens por aqui, o bluesman prepara mais uma série de shows em São Paulo (27/7), Belo Horizonte (31/7), Rio de Janeiro (2/8) e Brasília (3/8) — alguns deles, de graça.
Com mais de quatro décadas de carreira, 20 álbuns e cinco prêmios Grammy no bolso, Cray separou um tempo para falar por telefone com o Blog do Feroli, mesmo depois de alguma dificuldade em completar a ligação.
Com a fala mansa e um extremo bom-humor, Cray falou sobre música, seus ídolos, streaming, caipirinha e sobre o tempo no qual vivemos.
O papo
— Boa tarde, aqui é o Robert Cray. Quem bom que a ligação completou. Eu liguei várias vezes e caia em uma mensagem eletrônica. Pergunte o que quiser — disparou.
Já faz dez anos desde a sua última visita ao Brasil. O que você lembra dessa última visita?
— Lembro de várias coisas, mas o que mais me marcou foi quando estávamos em Belo Horizonte indo para o local do show. Vimos uma fila enorme de pessoas a uns três quarteirões do local e pensei: “Onde diabos está indo todo esse pessoal?”. Bem, era para o meu show, e isso não é uma coisa comum em nenhum lugar do mundo (risos).
Você sente saudades de algo do Brasil?
— As platéias. O povo brasileiro gosta muito de música, e sempre nos dá uma recepção bastante calorosa. Vamos ter um dia livre e quero experimentar uma feijoada. Gosto muito de vinho, mas não dá para ir ao Brasil e não beber algumas caipirinhas, sabe como é… (risos)
Gosta de algum músico brasileiro?
— Baden Powell! Devo ter uma dezena de discos dele. Adoro o seu som e jeito de tocar.
O blues vem perdendo grandes nomes nos últimos anos (se aposentando ou morrendo). Como você vê o futuro do estilo?
— É verdade. Pessoas como B.B. King e John Lee Hooker foram importantes demais para o blues. Perdê-los é muito triste. Eles vieram do sul, e praticamente criaram o som que conhecemos. Eu tive o privilégio de tocar com vários de meus ídolos. Estar perto desses artistas me proporcionou ser quem eu sou, tocar do jeito que eu toco.
Acho que temos de ter sempre um pé no passado, mas fazendo as coisas do nosso jeito.
McCartney e os Stones são uma inspiração
Você continua ouvindo os artistas clássicos como Albert King, Muddy Waters ou Buddy Guy?
Sim, claro. Eles são o alicerce do blues. Como disse, toquei com vários deles; são meus ídolos. Não dá para parar de ouvir. Eles são eternos.
Ouve alguém da “nova geração”?
— Há muita gente boa por aí. Gosto muito do Derek Trucks, do jeito que ele toca. Ele toca de maneira mais tradicional, mas tendo sempre a mente aberta para novos sons. Mas há muita gente boa tocando blues mundo afora.
Seu último álbum (Robert Cray / Hi Rhythm Section) teve ótimas críticas, mas não conseguiu o mesmo espaço nas rádios e na mídia como alguns outros de seus projetos. Você sente falta desse tipo de promoção para ajudar a renovar o público que gosta de blues?
— Para falar a verdade, eu sinto falta sim (risos). Mas sabe de uma coisa? No início da carreira eu também não tinha nenhum tipo de divulgação. Esse tipo de promoção é uma coisa cíclica, que vai e volta. É tudo questão do trabalho certo, na hora certa.
Como você se sente em relação ao streaming?
Streaming é uma coisa estranha (weird). Eu não gosto e não consigo me acostumar com isso. Para mim, um álbum ainda é uma obra completa. Penso sempre em início, meio e fim. Não consigo me acostumar em ouvir apenas faixas. Eu gosto de pensar na sequência das músicas e no seu significado. Infelizmente, não se vende muitos discos hoje em dia.
O mundo está bastante diferente e estranho. É só ver o que está acontecendo com o meio ambiente e a política.
Você ainda gosta de gravar discos?
— Claro! O que mais posso fazer (risos)? É o que eu sei: compor e tocar. Ontem mesmo tivemos uma longa é ótima sessão de gravação para um álbum que deve ser lançado no ano que vem. Assim como o público, espero, quer ouvir, eu preciso produzir coisas novas.
Você se consegue ver tocando até a idade dos Stones ou Paul McCartney hoje?
— Com certeza! Era incrível ver a paixão do B.B. King nos palcos. Ele tocou até quando o seu corpo disse “não”. McCartney e os Stones são uma inspiração. Eles não precisam do dinheiro. Tocam porque adoram o que fazem. Eu também pretendo tocar até quando o meu corpo permitir.
Streaming é uma coisa estranha (weird)
Nos seus shows mais recentes você tem tocado muito material novo e poucos clássicos. Você pretende tocar sucessos como ‘Phone Booth’, ‘Bad influence’, ‘Old love’ ou ‘Nothing but a Woman’, que são algumas das canções preferidas do público brasileiro?
— Sem dúvida. Faz muito tempo desde a nossa última visita, e algumas dessas canções vão fazer parte do repertório. Nós mudamos o setlist sempre, mas tocamos ‘Bad Influence’ na semana passada. ‘Phone Booth’ nós também tocamos não faz muito tempo. ‘Nothing but a Woman’ não é tão frequente, mas quem sabe? Já ‘Old Love’ eu escrevi com o Eric (Clapton) e acabou se tornando um clássico dele. Essa eu deixo com ele (risos).
Gostaria de dizer algo para os fãs brasileiros?
— Estou muito ansioso em tocar no Brasil novamente, e espero que quem for aos shows se divirta muito. Faz muito tempo desde a nossa última visita ao país. Quero que seja uma experiência especial para todos.
Serviço Robert Cray
São Paulo – 5º Festival BBSeguros de Blues e Jazz
Data: 27 de julho(sábado)
Local: Parque Villa-Lobos – Ilha Musical — Endereço: Avenida Professor Fonseca Rodrigues, 2001- Alto de Pinheiros
Horário: das 11h às 19h
Preço: Grátis
Belo Horizonte
Data: 31 de julho (quarta–feira)
Local: Grande Teatro do Palácio das Artes — Endereço: Avenida Afonso Pena, 1.537
Horário: 21h
Preço: Plateia I 200,00, (inteira), Plateia II 160,00 (inteira), plateia superior 120,00 (inteira)
Site para compras: m.me/fundacaoclovissalgado
Rio de Janeiro
Data: 2 de agosto (sexta-feira)
Local: Vivo Rio — Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo
Horário : 21h30
Preço: Camarote A R$ 260, Camarote B R$ 240, Balcão R$ 140, Frisa R$ 160, Setor 1 R$ 260, Setor 2 R$ 240, Setor 3 R$ 200, Setor 4 R$ 180, Setor 5 R$ 140
Brasília – 5º Festival BBSeguros de Blues e Jazz
Data: 3 de agosto (sábado)
Local: Estacionamento 4 do Parque da Cidade — Endereço: CES – Eixo Monumental Sul, s/nº
Horário: das 14h às 22h
Preço: Grátis