Aos 92 anos, Bennett mostra que ainda domina a arte de escolher bons parceiros e boas canções em mais um disco fundamental, Love Is Here to Stay
Tony Bennett e Diana Krall não são desconhecidos um do outro, muito pelo contrário. Desde 1999 que os dois andam se esbarrando nos palcos e estúdios, tendo lançado canções nos discos Playin’ With My Friends (2001) e Duets: An American Classic (2006).
Em Love Is Here to Stay a dupla esbanja classe em certeiras 12 canções e econômicos 36 minutos, que devem ser aproveitados ao máximo pelo ouvinte, pois não há excessos ou escolhas equivocadas.
Gershwin na veia
A obra criada por George e Ira Gershwin já serviu de combustível para o lançamento de centenas de álbuns. Poucos com a categoria de Love Is Here to Stay, produzido por Dae Bennett e Bill Charlap.
Os arranjos, econômicos e muito elegantes, ficam por conta do Bill Charlap Trio — Bill Charlap (piano), Peter Washington (baixo) e Kenny Washington (bateria) — que faz um trabalho perfeito, destacando as vozes dos dois intérpretes.
Prêmios e recordes
Krall e Bennet são dois artistas reconhecidos pelo público e crítica pela qualidade de seus trabalhos. Os dois já ganharam uma quantidade considerável de prêmios Grammy.
Bennett é o único artista que, com 85 e 88 anos, respectivamente, teve álbuns debutando no primeiro lugar da Billboard, a parada norte-americana — Duets II e Cheek to Cheek (com Lady Gaga).
Já Diana Krall é a única artista de jazz a ter oito álbuns chegando em primeiro ligar na Billboard na semana de seu lançamento.
Para aumentar ainda mais a quantidade de prêmios de Bennet, Love Is Here to Stay já lhe rendeu mais um. No show de lançamento do disco, na última quarta-feira, 12 de setembro, em Nova York, Bennett foi homenageado pelo Guinness Book (o livro dos recordes).
O cantor, agora, é o artista mais tempo levou para fazer uma regravação de um single. Foram 68 anos e 342 dias (contando do dia 3 de agosto de 2018) entre a primeira vez que gravou Fascinating Rhythm — ainda sob o pseudônimo de Joe Bari — e o novo registro.
Um senhor esperto
Normalmente artistas mais veteranos vão perdendo espaço na mídia e relevância no mercado. Parece que 2018 veio para demolir essa verdade.
Assim como Paul McCartney — que emplacou um disco em 1º lugar na parada após 36 anos — Bennett mostra que qualidade ainda faz a diferença.
Mas não é apenas a longevidade da sua voz que faz de Bennett um fenômeno. Suas escolhas recentes têm sido acertadíssimas.
Desde 2014, quando convidou Lady Gaga para gravar um álbum — o maravilhoso Cheek to Cheek, um dos melhores discos dos últimos 20 anos e que também gerou um ótimo DVD ao vivo — que Bennett só acerta.
Depois disso, lançou The Silver Lining: The Songs of Jerome Kern e o especial de TV — que também virou disco — Tony Bennett Celebrates 90: The Best Is Yet to Come.
Esse especial, que conta com as participações de Andrea Bocelli, Michael Bublé, Aretha Franklin, Billy Joel, Elton John, Diana Krall, Lady Gaga, k.d. lang, Rufus Wainwright e Stevie Wonder, é imperdível.
Levando-se em conta que esses projetos foram propostos por Bennett, vê-se que o homem ainda sabe como se manter no topo.
Muitos pontos altos
Difícil apontar as melhores faixas de Love Is Here to Stay . S’Wonderful, I Got Rhythm, I’ve Got A Crush On You, But Not For Me e Fascinating Rhythm seriam as minhas escolhidas hoje, o que não quer dizer que outras não possam entrar na lista amanhã mesmo.
Se Love Is Here to Stay não tem o vigor de Cheek to Cheek, mostra que Bennett ainda é rei quando se fala em crooner de jazz. Sua voz ainda é potente e impecavelmente afinada. Um fenômeno!
Para ouvir repetidamente.
**** ½
PS: Surpreendentemente, a versão física do disco já foi lançada no Brasil.
Fotos: Gregg Greenwood e Divulgação
Uma versão deste texto foi publicado na Revista Ambrosia
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