Sessão de autógrafos aconteceu nesta sexta-feira (31), no Rio de Janeiro
Difícil explicar como uma banda como Os Mutantes apareceu no cenário musical brasileiro dos anos 1960, basicamente comportado e elitista, com pitadas de popular.
O som psicodélico, anarquista e único do grupo é agora contado em Discobiografia Mutante: Discos que Revolucionaram a Música Brasileira. A autoria (em português e inglês) é da jornalista Chris Fuscaldo.
O livro revela detalhes das gravações e das capas que embrulhavam os petardos sonoros contidos naquelas bolachas de vinil — estamos falando dos anos 60 e 70, quando o CD e o streaming não pensavam em existir.
Cinquenta anos de sucesso
O aniversário de 50 anos do lançamento do primeiro disco da banda — Os Mutantes (1968) foi o gatilho para a ideia do livro.
— Em fevereiro, tive um insight de que o primeiro disco deles fez 50 anos. Escrevi tudo em dois meses. A pesquisa foi longa, mas escrever foi fácil — disse a autora.
O livro, com um texto leve e delicioso de ler, serve como uma espécie de complemento para a também ótima biografia do grupo — A Divina Comédia dos Mutantes, de Carlos Calado (editora 34) — mas abordando outros ângulos da genialidade daqueles loucos paulistas.
Hits e obscuridades
Ligados ao Tropicalismo, os Mutantes, se colocam em um espaço único na história musical brasileira. Canções como Ando Meio Desligado, Balada do Louco, Panis et Circenses e Baby, são reconhecidas em todos os cantos do país. Mas como não falar de obscuridades brilhantes como Bat Macumba, Meu Refrigerador não Funciona e Chão de Estrelas?
A criatividade das composições, a inteligência das releituras e a sonoridade única deixaram marcas profundas no desenvolvimento do nosso cenário musical. Além da inovação tecnológica. Vários de seus instrumentos era fabricados especialmente para eles, ajudando a formatar sons únicos.
Sucesso reconhecido
O trio Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee — mais tarde acrescido dos ótimos Liminha e Dinho Paes Lima — construiu uma obra que é reverenciada em todo o planeta.
Difícil entrar em alguma livraria ou loja de discos na Inglaterra ou Estados Unidos sem encontrar algo relacionado ao grupo.
Gente do calibre de David Byrne, Kurt Cobain e Sean Lennon está entre os fãs da banda, que até hoje arrasta um grande público por onde quer que passe.
— Eu conheci os Mutantes na coletânea que o David Byrne lançou sobre a música brasileira, Everything Is Possible (1999). Foi incrível descobrir que tudo aquilo foi criado por uma só banda — revelou Chris Fuscaldo.
Consultoria de primeira
Com um texto leve e delicioso de ler, Discobiografia Mutante: Discos que Revolucionaram a Música Brasileira serve como uma espécie de complemento para a também ótima biografia do grupo — A Divina Comédia dos Mutantes, de Carlos Calado (editora 34) — mas abordando outros ângulos da genialidade daqueles loucos paulistas e baseado em depoimentos de quem participou de tudo.
— Comecei a fazer a pesquisa em 2002, quando estava na faculdade de jornalismo. Nessa época eu era estagiária no Globo Online, e meu mentor era o Jamari França. Ele fez uma ponte para eu falar com a Rita Lee e, na mesma época, tive acesso ao Sérgio Dias. Ao longo dos anos, fiz várias matérias sobre o grupo — disse Chris Fuscaldo.
Sérgio, aliás, acabou sendo uma espécie de consultor do projeto.
— Fui ver um show dos Mutantes em Ribeirão Preto e acabamos retomando o contato. Depois disso, o Sérgio serviu como fonte para tirar algumas dúvidas que ainda tinha — revelou a autora.
Discobriografia ampliada
Um dos maiores trunfos da publicação é ampliar a discografia do grupo aos álbuns solo lançados com a participação (divulgada ou não) dos membros da banda.
Assim, obras como Loki? (1975) e Esse é o Primeiro Dia do Resto das Nossas Vidas (1972), que são importantíssimos para a compreensão do legado da banda, também ganharam destaque.
Os lançamentos mais recentes — de Technicolor (2000) até Fool Metal Jack (2016) — também estão incluídos. O que torna o livro a obra mais abrangente já escrita sobre a música dos Mutantes.
As histórias sobre as gravações e a produção das capas dos discos são recomendadas para iniciantes e iniciados.
Vaquinha virtual
O projeto foi todo bancado por um crowfunding (vaquinha virtual). O que deu mais liberdade para a autora. Mas também aumentou os riscos da ideia nunca chegar ao papel.
— Eu pensei em levar o livro para uma editora. Mas como eu me coloquei um prazo muito curto para termina-lo, preferi fazer sem o envolvimento delas. Além disso, muitas delas estão com muito problemas financeiros. Achei melhor fazer por mim mesma — explicou.
A autora
Chris Fuscaldo é jornalista, pesquisadora e já trabalhou nos jornais O Globo e Extra, e na revista Rolling Stone. Em 2015, fez a pesquisa do livro Rock in Rio 30 Anos e, em 2016, lançou a Discobiografia Legionária (Ed. LeYa), sobre o Legião Urban. Ano passado, soltou a voz no CD Mundo Ficção.
A trajetória da autora (que conheço desde que era estagiária) segue um caminho muito desprezado país: o da preservação da nossa história.
— É isso que tento fazer na minha vida profissional. Preservar a memória da música brasileira. O que não é fácil — explicou.
Lançamento (Rio de Janeiro)
O lançamento da Discobiografia Mutante aconteceu na sexta-feira (31/8) no Sebo Baratos, na Rua Paulino Fernandes, 15 – Botafogo – às 19h.
Foi ótimo!
Serviço
Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira
Livro bilíngue Português / Inglês
243 páginas
Autora: Chris Fuscaldo
Editora: Garota FM Books
Preço: R$ 80,00
Site para compra: http://chrisfuscaldo.com.br/discobiografia-mutante/
Fotos: Divulgação, reprodução e Tatynne Lauria
Uma versão deste texto foi publicada na Revista Ambrosia
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