Por anos ouço que o jornal em papel vai acabar, assim como as revistas. As crescentes demissões parecem corroborar essa informação, mas também há relatórios mostrando que a publicidade continua gastando muito na mídi tradicional. Os números não justificam as demissões (pelo menos à primeira vista), mas elas não param.
A movimentação promovida na Abril vai além da transferência da Placar para a Editora Caras, conforme noticiado anteriormente. Em comunicado divulgado na tarde desta terça-feira, 2, a empresa fala em “profunda transformação” ao anunciar que os impressos Exame PME e Capricho serão encerrados. Além disso, outros seis títulos até então mantidos pela casa passam a ser de controle da companhia responsável por publicar Caras: Anamaria, Arquitetura & Construção, Contigo, Tititi, Você RH e Você S/A.
A reformulação no esquema de revistas editadas pela Abril afeta, também, o quadro de funcionários. O extenso posicionamento oficial da empresa de comunicação não fala na redução do número de colaboradores, mas o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) garante que “a demissão de mais três dezenas de jornalistas” está selada. A entidade, que organiza “assembleia de emergência” contra a ação, lembra que cerca de 30 profissionais de redação já tinham sido demitidos pela empresa no mês passado.
“Os jornalistas não podem assistir passivamente a essa situação. Já vivemos uma realidade de enxugamento das redações, aumento da pressão cotidiana e dificuldades crescentes para realizar um bom trabalho jornalístico na Abril. Nessa maré terrível, o Sindicato dos Jornalistas tem se pautado pela defesa do emprego, dos direitos trabalhistas e do próprio jornalismo, atividade essencial na sociedade contemporânea”, reclama o SJSP em texto publicado no site da instituição.
Fim de revistas
Em vez de informar que a Exame PME deixará o mercado, a direção da Abril afirma que a marca será “incorporada” à Exame, que, segundo o anúncio, irá reforçar em seus trabalhos “a presença de negócios do segmento de pequenas e médias empresas, bem como empreendedorismo”. Voltada ao público juvenil feminino, a Capricho deixará de figurar em bancas de jornal para aparecer somente em plataformas online. O Guia Quatro Rodas completa o trio de publicações que terá a circulação descontinuada.
Sem falar em demissões ou detalhar o que de fato levou ao fim de três publicações, o presidente da Editora Abril, Alexandre Caldini, fala em ousadia por parte da empresa. “Esse movimento é muito ousado e marcante para o futuro da Abril neste fascinante mundo da mídia, que não para de se transformar. A partir de agora, a Abril passa a estar em constante evolução em sua oferta de produtos, em seu modo de agir e pensar. É isso que nossos clientes e audiência exigem. E é isso que – com gente arrojada, inquieta e muito capaz – estamos fazendo”.
Nova divisão estrutural
Além do encerramento de revistas, demissões de jornalistas e transferências de títulos para a Editora Caras, a Abril anunciou sua nova divisão estrutural. A partir de agora, a empresa passa a atuar em três frentes: unidade de conteúdo, unidade de marketing e unidade de receitas. Em conteúdo, quatro núcleos terão operações, sendo Veja (sob comando de Eurípedes Alcântara), Exame (com André Lahoz), ‘Femininas’ (direção de Paula Mageste) e ‘Lifestyle’ (liderança de Alecsandra Zapparoli).
Boa Forma, Capricho.com, Casa Claudia, Claudia, Cosmopolitan, Elle, Estilo e M de Mulher são as marcas inseridas em ‘Femininas’. O setor de ‘Lifestyle’, por sua vez, abrange Brasil Post (mantido em parceria com o grupo internacional Huffington Post), Elástica, Guia do Estudante, Info.com, Men’s Health, Mundo Estranho, National Geographic, Playboy, Quatro Rodas, Saúde, Superinteressante, Veja São Paulo, Veja Rio, Viagem & Turismo, Vip e Women’s Health – além de ficar responsável por “quadrinhos”.
Interinamente, a chefia da divisão de conteúdo ficará com o acionista do grupo e presidente do conselho editorial da Abril, Victor Civita Neto. Marketing passará a ser dirigido por Tiago Afonso, que terá a missão de “gerenciar o portfólio de marcas e produtos e identificar tendências de mercado”. A parte de receitas ficará sob a responsabilidade de Rogério Gabriel Comprido, que assume o cargo de diretor comercial para controlar “todo o faturamento da editora”.
“Nossos valores não mudam, continuamos acreditando nos mesmos princípios que construíram nossa credibilidade, mas chegou a hora de mudar o modo de operar. Estamos adotando um novo posicionamento perante o mercado, com foco nas necessidades atuais dos anunciantes, que vêm exigindo mais agilidade e, sobretudo, flexibilidade de formatos e mídias para chegar a resultados mais eficientes de negócio”, afirma Alexandre Caldini.
Conteúdo para marcas
Desfazendo-se de revistas criadas nas eras de Victor e, posteriormente, Roberto Civita, o Grupo Abril informou, por outro lado, a criação dá área voltada à produção de conteúdo customizado. Agora, marcas poderão prospectar trabalhos por parte da editora. O novo setor recebeu o nome de “Estúdio ABC– Abril Branded Content” e será dirigido por Edward Pimenta, que acumula a nova função com o cargo de diretor de apoio editorial. Assim, a empresa quer atuar “na coordenação, no atendimento e na produção de conteúdos customizados, como native advertising ou qualquer outro tipo de content marketing, em todos os formatos, incluindo uma estrutura exclusiva para produção de vídeos”.
Fonte: Comunique-se