O Brasil é mesmo um país de muitas realidades e muitos dialetos. Já ganhei um dicionário de baianês e aprendi muitas expressões usadas em Pernambuco. Sendo assim, foi bom encontrar esse dicionário de carioquês no blog Diário do Rio de Janeiro. Abaixo reproduzo o ótimo trabalho feito por eles.
Que o carioca é o sotaque oficial do Brasil (nem que seja na língua cantada e cênica) a gente já sabe mas e como a gente faz para explicar algumas de nossas muitas gírias a quem não teve a sorte de pertencer à Cidade Maravilhosa. Afinal ser carioca, ser do Rio de Janeiro, não é para qualquer um.
Conheça então o dicionário de português-carioquês e aproveita para traduzir a seguinte frase: O mané não partiu para um 0800 bolado e acabou ficando na mão do palhaço de arroz.
0800Diz-se de qualquer situação que não demandará gasto monetário. De graça. “O show será 0800”. “Pode vir que hoje é tudo 0800”
Aê
1. Partícula iniciadora de frase. “Aê, se liga (…)”.
2. Advérbio de lugar. “A parada está por aê”.
A porra toda
[Termo composto] “Tudo”, com eventual viés agressivo. Totalidade do que está ao alcance. “Quebramos a porra toda”. “Sai xingando a porra toda”.
Arroz
Aquele que só acompanha. Sujeito que vive rodeado de mulheres, tem muitas amigas, e não pega nenhuma.
Sin. “Arame-liso” (cerca, mas não machuca); “mestre-sala” (só dança em volta); “Cantor de churrascaria” (canta enquanto os outros comem).
Beleza
1. Cumprimento usual. “E ai, beleza?”
2. Aceitação. “Tá ok, beleza!”
3. Expressa exaltação. “Que beleza!!”
Boiola
Homossexual masculino; gay; bichona; bicha; bambi; baitola; viadinho.
Condição de incompreensão momentânea ou preocupação em qualquer nível. “Tô ficando bolado”.
Bucha
Indivíduo com marra de malandro, mas que não passa de um tremendo prego; as antigas era chamado de malandro coca-cola (só dar um sacode que ele perde o gás).
Cabaço
Sujeito trapalhão. “Tu viu que merda? Esse cara é mó cabaço!”.
Caído
1. Evento pouco divertido. “A festa estava caída”.
2. Mulher de traços físicos ou mentais pouco atraentes. “Achei a mulher meio caída”.
Coé
Aglutinação de “qual é”.
1. Partícula iniciadora da frase. “Coé, irmão, beleza?!”.
2. Partícula afrontativa. “Coé, irmão, tá maluco?!”
3. artícula de incerteza. “Não entendi coé a do maluco”.
Conto
Unidade monetária sem plural. “Essa parada custa 10 conto”.
Dá uma moral (aê!)
[Termo composto]
1. Pedir auxílio a outrem. “Dá uma moral pra eu empurrar o carro, aê!”
2. Barganhar pequena vantagem. “Dá uma moral nessa dose, aê!”
Fluir
Dar certo. “Meu projeto fluiu”. “Essa parada tá fluindo”.
Sin. “Rolou”.
Filhadaputa
1. Interjeição genérica de descontentamento. Pode ser usada após qualquer acontecimento desagradável e/ou inesperado.
2. Adjetivo utilizado para humilhar, xingar, ofender aqueles que merecem.
Ver fura-olho.
1. Qualificação indicativa de dificuldade. “Aquela parada é foda!”.
2. Qualificação positiva indicando algo muito bom “Aquela parada é foda!”.
3. Qualificação que indica algo impressionante “Aquela parada é foda!”.
Fura-olho
[Termo composto] Fala-se do indivíduo que, incapaz de conseguir realizar os feitos próprios, usufrui das glórias alheias.
Ver filhodaputa.
Goxtosa
Diz-se da mulher de formas físicas harmoniosas. Elogio glorioso. “Aquela garota nova da turma é muito goxtosa”. “Você viu a goxtosa que entrou no ônibus?”. “Tem uma goxtosa na mesa do lado”.
Irado
1. Qualificação positiva relacionada a um fato, ocorrência ou objeto. “O jogo de ontem foi irado!”.
2. Qualificação positiva a um sujeito. “Aquele cara é irado”.
Já é!
[Termo composto] Exclamação da pessoa que demonstra concordância com o que foi proposto. “Vamos embora daqui a uma hora?” “Já é!”.
Sin. “Demorô”.
Maluco
Cara; sujeito; indivíduo. “Eu não conheço aquele maluco”. “Estava com uns malucos da faculdade”.
Maneiro
Muito legal. Show de bola. Um estágio acima do simples “legal”. Às vezes menos eufórico do que “irado”.
Mermão (masculino)
Aglutinação de “meu irmão”. “Aí, mermão, que parada é essa?”
Aglutinação de maior. “Ih, coé? Mó otário, aê!”.
Na mão do palhaço
[Termo composto] Diz-se da condição das pessoas entorpecidas, não importa com qual substância. “Virou dez copos de pinga e agora está na mão do palhaço”.
Nego
Toma o lugar da terceira pessoa do plural. Curiosamente flexiona o verbo que o segue para a terceira pessoa do singular. “Nego vai pra festa amanhã” (Eles vão pra festa amanhã). “Nego é muito burro” (Eles são muito burros).
Night
Diz-se sobre a diversão noturna, comumente acompanhada de entorpecentes e saliências com outrem. Chamada de diferentes formas pelo Brasil, como “Balada” em São Paulo. “Partiu night hoje!”
Parada
Substantivo genérico. Pilar da linguagem carioca. Refere-se a qualquer coisa para a qual a pessoa não ache um termo digno. “Que parada é essa?”. “Qualquer parada me liga”. “Parada doida”. “Preciso fazer uma parada”.
Partiu
1. Interrogação sobre se é o momento certo de iniciar uma ação. “Partiu?”.
2. Exclamação de quem julga ser aquele o momento certo para começar uma ação. “Partiu!”.
Paraíba
Indivíduo nascido ou residente acima do paralelo que passa por Copacabana.
Peidão
Covarde, frouxo, borra-botas. “Maluco mó peidão”.
Pela-saco
1. Pessoa chata; piegas.
2. Puxa-saco; baba-ovo; rabiola.
Ver Arroz.
[Termo composto] Fala-se do indivíduo que cometeu um ato inconsequente/insensato. “Perdeu a linha e virou seis doses de tequila em meia hora”. “Perdeu a linha e foi o centro das atenções na festa da empresa”.
Porra
Segundo sustentáculo da linguagem carioca.
1. Interjeição (“Porra!”).
2. Substitutivo para “parada”. “Olha aquela porra ali!”
3. Advérbio de intensidade. “Em São Leopoldo estava um frio da porra!”.
Porrada
1. Coletivo genérico. Multidão – uma porrada de gente. Matilha – uma porrada de cachorros.
2. Briga. Sujeitos em momento não muito romântico.
Se liga
[Termo composto] Apelo por atenção para o que será dito a seguir. “Se liga, pra onde a gente vai hoje a noite?”.
Sin. “Então”.
Sinistro
1. Adjetivo que qualifica aquilo que acompanha. “O Neymar é um jogador sinistro”
2. Adjetivo que expressa dificuldade. “Essa fase do jogo é bem mais sinistra que a outra”.
Tu
Pronome pessoal do caso reto de comportamento esquizofrênico. Segue sendo segunda pessoa do singular, mas flexiona o verbo que o segue na terceira pessoa. “Tu viu”,”Tu faz”, “Tu é”.
Fonte: Diário do Rio de Janeiro