O texto abaixo é um dos que fiz sobre a experiência de entrevistar um beatle. Acho que esse é o que melhor conta o que foi dito de mais importante na entrevista, além de ter uma crítica do disco (mesmo que já tenha uma opinião ligeiramente diferente dele). Há um outro texto meu no jornal O Globo.
Aproveite e saiba como foi entrevistar Paul
O texto é do dia 16 de outubro, antes do lançamento do disco no Brasil!
O que fazer quando se é milionário, o profissional mais bem sucedido em sua área de atuação em todos os tempos, é recém-casado com uma bela mulher e tem uma filha pequena? Enquanto a maioria das pessoas responderia “aproveitar a vida e nunca mais trabalhar”, a opção de Paul McCartney, o maior nome vivo da música pop em todos os tempos é: “aproveitar a vida e trabalhar ainda mais!”.
Aos 71 anos, com mais de 40 discos na bagagem – contando Beatles, Wings, carreira solo, discos de música clássica e o projeto eletrônico The Fireman – Sir Paul parece estar com a disposição de alguém com metade da sua idade. Depois de seis anos sem lançar um disco de inéditas – o último foi Memory Almost Full (2007), McCartney volta com New e explica que a demora foi causada por ‘excesso de trabalho”.
“Nesse tempo, eu compus música para o balé de Nova York, fiz um disco do The Fireman, lancei um CD só com canções que ouvia meu pai tocar (Kisses on the Bottom), fiz uma trilha para um videogame e excursionei pelo mundo. Só mesmo agora é que tive tempo para entrar no estúdio novamente’, argumenta.
E McCartney não está mentindo. Só no Brasil, o músico vem se apresentando todos os anos desde 2010, passando por cidades como Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Goiânia, para citar algumas, em apresentações de quase 3 horas, um feito para um senhor da sua idade.
Para divulgar New – que foi lançado na Inglaterra e nos Estados Unidos esta semana e que até o fim do mês estará sendo vendido no Brasil – Paul está se dedicando a uma verdadeira maratona, que inclui apresentações surpresa em Nova York, Las Vegas, aparições em programas de rádio e TV nos dois lados do Atlântico e um sem número de entrevistas para jornalistas de todas as partes do mundo.
A versão normal traz traz 12 – na verdade 13, já que uma delas vem não creditada – canções que mostram um McCartney, se não “novo”, pelo menos renovado*. A utilização de produtores que forjaram a identidade e sucessos de gente como Adele (Paul Epworth) e Amy Winehouse (Mark Ronsey), além de Ethan John e Giles Martin (filhos dos colaboradores de longa data Glyn Johns e George Martin) deixam a certeza de que Macca quer continuar atual, embora sem perder a perspectiva de quem já compôs canções como Let it Be, Maybe I’m Amazed, Tug of War ou No More Lonely Nights.
“Decidi usar instrumentos vintage e ver como seria trabalhar com cada um desses produtores”, explica.
Mas, será que alguém no mundo tem coragem de virar para Paul McCartney e dizer que uma canção não é boa ou que o baixo não está bem tocado ou mesmo que o vocal de alguma música pode ser mais bem feito?
“Olha, muitas vezes as pessoas tendem a ser ‘respeitosas demais’. Nessas horas, é preciso lembrar que somos todos iguais. Os engenheiros de som, principalmente, ficam preocupados em gravar tudo de maneira perfeita, principalmente os meus vocais. Há momentos nos quais eu preciso ‘bagunçar’ um pouco as coisas, cantar com algum efeito, para que o clima fique mais relaxado, embora isso os deixe desesperados”, conta o astro.
Mas por que ainda se preocupar em escrever, gravar, dar entrevistas e fazer shows quando já se alcançou o topo muito mais do que uma vez?
“Porque é isso que me dá prazer. Tenho sorte de ter como trabalho algo que amo e fazer música é o que sei fazer melhor”, sentencia.
O rosto de Paul McCartney estampa a maioria das revistas de música inglesas, assim como suas aparições na TV e nos noticiários, já que a gravação de um dos clipes do seu New, reuniu nomes como Maryl Streep, Johnny Depp e Kate Moss.
As letras do novo álbum falam do passado, do presente, de amores e medos, sem a preocupação de parecer querer esquecer o que já fez.
“Há coisas das quais não podemos fugir. Os Beatles, por exemplo, influenciaram e ainda influenciam muita gente, inclusive eu”, confessa Paul.
No novo trabalho, Paul mistura seus rocks, refrões-chiclete, baladas no violão, ao piano, algo de tecno-eletrônico e algumas lembranças-beatle para mostrar que ainda é uma das forças criativas mais importantes dos nossos dias.
Pode ser que New não chegue para criar uma revolução ou emplacar novos clássicos, mas é uma ótima continuação para o excelente Chaos and Creation in the Backyard e o bom Memory Almost Full, seus dois últimos álbuns, nos quais também repetiu a fórmula do “one man band”, tocando praticamente todos os instrumentos ouvidos no disco.
Com shows marcados para o Japão e planos para excursionar pela Europa em 2014, Paul não fala sobre voltar ao Brasil, mas também não descarta a possibilidade.
“Adoramos o Brasil e os brasileiros nos adoram”, admite.
*Há uma versão deluxe com 14 canções
Antenado com o cenário do pop-rock atual
New, o novo CD de Paul McCartney, foi idealizado para mostrar um artista antenado com as tendências atuais do cenário pop. Porém, isso fica extremamente complicado quando falamos de alguém da estatura de um nome como o de McCartney.
O ex-beatle faz questão de tentar não se repetir, o que fica cada vez mais difícil. A faixa-título tem ecos de Penny Lane. Everybody Out There, tem um clima de canções da época dos Wings, assim como a última e não creditada faixa (Scared) segue uma tradição McCartneyana de terminar seus discos com uma grande canção ao piano – foi assim em Band on the Run, Flaming Pie, Venus and Mars, Flowers in the Dirt e Wings At the Speed of Sound, para relembrar alguns desses momentos.
Paul lembra do início da carreira, de uma caminhada com John Lennon pelas ruas de Liverpool quando ainda não eram famosos (Early Days) e até mesmo uma viagem de ônibus para um dos empregos que teve antes de se tornar um dos Beatles. Mas não é apenas de nostalgia que McCartney se utiliza para criar novos e velhos sons. O eterno otimismo está lá, em canções como New.
Como se buscasse criar um grande apanhado de tudo o que fez na carreira, Paul se utiliza de instrumentos como o Melotron (aquele da abertura de Strawberry Fields Forever), guitarras tocadas de trás para a frente (como em I’m Only Sleeping, do álbum Revolver) e outras sonoridades familiares para forjar um novo “eu’.
Não que Paul McCartney precise se renovar – compor, tocar e cantar como Paul McCartney é mais do que um elogio -, mas é bom ver que o músico está se adaptando aos novos tempos. Aos 71 anos, é claro que a voz já não é a mesma que aquecia melodias como Hey Jude, Here, There and Everywhere ou colocava fogo em rocks como Helter Skelter ou Rockshow, mas ainda é reconhecível por qualquer pessoa.
New tem de tudo um pouco e deve agradar com seus rocks (Save Us), baladas (Early Days) e falsetes com pitadas de dance-eletrônico (Appreciate).
Pode não ser um trabalho totalmente novo, mas, no caso de Paul McCartney, isso não faz lá muita diferença. O que importa é que a qualidade do material com o qual o artista brinda seus fãs ainda está muito acima da média da pobre música pop atual.
Fotos: Mary McCartney/Divulgação
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Bah.