A saga para entrevistar Paul McCartney

Eu na espera da entrevista de PaulO dia 3 de outubro de 2013 vai ficar marcado para sempre na minha vida. Tendo colecionado a música de Sir Paul McCartney praticamente por 30 anos, finalmente tive a oportunidade de entrevistar o músico. Oportunidade que, quem me conhece sabe, jamais poderia ser desperdiçada, mesmo que o preço pago fosse alto.

Tudo começou com a informação de que Paul iria dar entrevistas (em Londres) para divulgar o seu novo disco, chamado NEW e que tentariam colocar meu nome na lista dos possíveis entrevistadores. Essa possibilidade foi me dita na segunda quinzena de setembro e decidi não falar nada com ninguém, até porque, como sempre acontece, considerava a possibilidade remotíssima e não gostaria de criar expectativas, principalmente comigo mesmo.

Como não havia data certa para a entrevista e eu tinha uma viagem para a Inglaterra marcada para 5 de outubro, cada dia que passava aumentava a minha descrença, ainda mais porque estava trabalhando em um jornal que era de nenhuma capital ou de alcance nacional, uma das exigências do convite. Somente na última semana de setembro tive a confirmação de que a data seria 3 de outubro, informação que veio com a pergunta sobre se seria possível adiantar a minha chegada na capital inglesa. Claro, uai!

Mesmo assim, continuei em silêncio com todos (mãe, namorida e amigos). Afinal, todo cuidado é pouco e, sinceramente, esse ainda não era um assunto do interesse deles. Era particular. A minha descrença só acabou quando na quinta-feira (26/9) recebi um e-mail da MPL – McCartney Productions Ltd – com o press kit e, mais tarde, no mesmo dia, um outro e-mail com a autorização para ouvir seis músicas do disco, que só seria lançado no dia 14 de outubro.

Oficialmente eu estava nervoso!

Paul roundtable 4Esse foi o momento de correria. Embora ainda não tivesse a confirmação final de que tudo estava certo, comecei a correr atrás da troca de passagens, adiantamento da reserva do hotel onde ficaríamos em Londres, seguro de viagem e outros detalhes que podem parecer bobos, mas que são simplesmente básicos em uma viagem. Já imaginou não ir por falta de passagem?

PS: Nessa hora também começaram as preocupações da Jo com a sua ida na entrevista!

Aí, começaram as loucuras. Na sexta-feira (27/9), no fim da manhã, recebi a confirmação de que meu nome tinha sido aprovado e confirmado. O sonho estava mais perto de se realizar. Porém, era preciso o aval de alguma publicação de alcance nacional, além daquela para a qual trabalhava e que, claro, iria se interessar por essa matéria. Para encurtar essa parte angustiante do dia, somente no fim da tarde consegui uma resposta afirmativa do O Globo, depois de recusas (acreditem), por vários motivos, de Playboy, Billboard, Veja, Época e Estado de Minas. Folha e Estadão tinham chance de ir também e a Isto É (minha primeira opção) não deu uma resposta definitiva – o que só aconteceu quando a entrevista já havia sido realizada, ou seja, tarde demais.

Paul roundtable 2 (1)Passagens e seguro só foram resolvidos na segunda feira (a viagem teria que acontecer no dia seguinte, para evitar contratempos que pudessem por em risco a empreitada), o hotel…bem..horas antes de ir para o aeroporto chega um e-mail do hotel onde iríamos ficar dizendo que houve um problema com o cartão de crédito que tentamos utilizar e que a reserva não estava garantida. Mais correria para desbloquear o cartão e achar outro hotel onde pudéssemos ficar. Depois de mais alguns cabelos brancos, achamos um local onde ficar até o dia 6, quando originalmente chegaríamos na Europa.

A viagem e a chegada na Inglaterra

Infelizmente a viagem teve que ser feita pela Iberia, dona dos aviões mais desconfortáveis do mundo e com uma comida que é bom nem comentar. Pior, todos os voos da empresa têm que passar por Madrid, onde o imenso aeroporto se transforma em uma prova de resistência. Para ir do terminal onde chegam os voos do Brasil até onde saem os para as outras partes da Europa é preciso (sem brincadeira) passar por seis esteiras rolantes, três elevadores e ainda pegar um trem!

Acreditem, isso tudo cansa muito!

Bem, chegamos na Inglaterra e, depois de uma longa fila na imigração, chega a nossa vez. Aí, para requinte de crueldade, a funcionária me pergunta: “Você já teve problemas com a imigração? Você já foi na Irlanda?”. Gelei. Já não era a primeira vez que me perguntavam da Irlanda, mas dessa vez a cara da funcionária não era boa. Pior mesmo foi quando ela disse: “Senta ali que vou fazer uma verificação no seu passaporte”. Pronto, era só o que faltava: ser barrado de entrar no país.

Paul roundtable 2 (2)Foi uma hora de espera até que ela voltou dizendo: “Coloquei uma marca no sistema e você não deve mais ser confundido com o outro Fernando. Você vai mesmo para a Irlanda?”, emendou. Quando disse que sim ela fuzilou: “Tomara que tudo corra bem com você lá”.

O que esse outro Fernando fez na Irlanda? Bem, ela disse que não poderia me informar, mas tenho certeza de que foi grave. Mas, o que importava era: cheguei!

Tendo uma tarde livre, arrumamos um tempo para dar uma volta na cidade e rever alguns pontos que conhecemos mas não cansamos de rever. Só uma coisa ainda me preocupava: ainda não sabia o horário e local da entrevista, que seria no dia seguinte. Só ao chegar no hotel recebi o e-mail dizendo onde seria o evento – Edition Hotel – 11 Berners St, perto da Oxford Street. Toda essa demora foi, provavelmente, para despistar os fãs, já que Paul havia passado todo o dia anterior gravando um clipe nos estúdios de Abbey Road e hordas de fãs ficaram do lado de fora tentando “tirar uma casquinha” do ídolo.

Entrevista

O combinado era chegar ao meio-dia ao hotel e se dirigir para uma sala especial onde esperaríamos o momento da mesa redonda. Eu e Jo chegamos cedo e ficamos aguardando enquanto bebíamos um suco de laranja. Na sala apenas um par de japoneses, um suíço, um alemão e uma mulher de origem desconhecida. As regras eram rígidas: nada de fotos, filmes ou presentes, nada de perguntas pessoais ou sobre qualquer assunto que não o novo disco. Caso contrário, Paul poderia simplesmente passar para uma próxima pergunta ou terminar com a entrevista.

Paul roundtable 3Como seriam duas mesas redondas, quatro entrevistas exclusivas e mais um bate-papo com fãs pelo Twitter, o tempo seria contado e as chances de algo sair errado eram grandes. Ainda por cima, não havia garantias de que Jo conseguiria entrar, o que era um grande problema.

Falei com a assessora mais umas duas vezes, para garantir que ela marcasse bem o meu rosto, o que poderia ser útil. Na hora marcada (12h50) o assessor de imprensa de Paul, Stuart Bell, entrou na sala e pediu que todos os que fossem para a primeira mesa redonda fizessem uma fila, dessem seu nomes e o seguissem. Era a hora da verdade. Fizemos a fila (Jo ao meu lado) e fomos em frente. Na minha vez, nem precisei dizer o nome, já que a assessora já estava mais que familiarizada comigo. Quando fomos caminhando, ela disse: “Hey, you!”. Gelei. Olhei para trás, certo de que ela iria barrar a minha nervosíssima acompanhante, e…milagre, a assessora simplesmente disse: “Ah, ok!”.

Passado a primeira fase (como se estivéssemos em um videogame) fomos levados até uma sala na parte inferior do hotel, muito parecido com um porão: escuro e frio, ótimo para destacar a arte do disco e mascarar a idade do artista, que realmente parecia bem mais jovem do que na maioria das fotos recentes. Dois grandes pôsteres de NEW, que com a escuridão pareciam mesmo de neon. Um equipamento de som tocava o disco, inclusive as canções que não haviam nos enviado. No centro do “porão” uma mesa com aproximadamente 20 lugares. Sentamos em lugares centrais e aguardamos a entrada de Macca. Antes, ainda ouvimos novamente as instruções sobre como seria a entrevista e que poderíamos gravá-la, embora o áudio nos fosse ser enviado depois. Claro que fiz minha própria gravação.

paul-mccartney-new-hbnt-10O silêncio era ensurdecedor e a entrada de Sir McCartney só serviu para amplificar o nervosismo de todos. Calejado, Paul já entrou fazendo sons de um teclado e soltando uma piadinha para aliviar a tensão. Depois de uma saudação onde parecíamos estar cumprimentando uma professora no primário, começou a sabatina. As perguntas deveriam ser rápidas e cada um faria uma pergunta. Como sempre acontece um “engraçadinho” sempre quer tirar vantagem e aparecer. Nesse caso foi um francês de uma rádio qualquer, que cismou em se meter nas perguntas dos outros, gerando protestos (meus) e fazendo com que Bell chegasse até ele e mandasse-o calar a boca ou seria retirado da sala. Como recompensa, ganhei o direito a próxima pergunta, que valeu um “Good question” de Sir Paul, que respondeu com uma boa vontade, não mostrada com todos. Claro que, embora a tivesse escrita e ensaiada, troquei a ordem da pergunta e ainda errei uma palavra. Como diria meu amigo Heitor Pitombo: “To nervoso pra caralho!”.

paul-mccartney-new-album-1381250075A entrevista terminou, Paul se levantou e foi para uma sala reservada. Enquanto isso, fiquei observando as duas fotógrafas que registravam tudo e John Hammel, assistente pessoal de Paul e sempre encarregado de filmar tudo. Já havia falado com ele umas duas vezes no Brasil, mas sempre rodeado de outras pessoas e nunca mais que uns poucos minutos cada vez. Portanto, foi uma grande surpresa quando ele veio na minha direção, sorriu, esticou a mão, me cumprimentou, perguntou se eu tinha gostado da entrevista, soltou um “nice to see you” e se foi. Valeu.

Bem, era o fim do sonho e o início da corrida para preparar uma matéria (a outra eu iria esperar até ter ouvido o disco todo, pois tinha certeza de que gostaria mais de algumas das músicas que não me haviam permitido ouvir, o que se confirmou). A única foto que “prova” a minha estada lá é a que você pode ver fora de foco, comigo sentado na sala de espera.

Valeu demais e repetiria tudo novamente, caso fosse preciso. Ele tem 71 e eu já passei dos 40. Não creio que outra oportunidade dessas surja.

Long Live Macca!

Fotos: Jo Nunes e Divulgação

No próximo post, uma das matérias que fiz sobre o evento.

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