Lançamento do filme Help! em Blu-ray e debate/show no Teatro Rival mostram que o interesse sobre Os Garotos de Liverpool continua forte
O que faz com que debates, shows e cursos de extensão sobre um grupo que se separou há mais de 40 anos sejam realizados em um país que nem mesmo fala o idioma da banda e no qual eles jamais se apresentaram? A resposta é difícil, se é que existe. Porém, é isso que acontece com os Beatles, que serão tema de um debate/show nesta segunda-feira no teatro Rival, no centro do Rio e tem seu segundo longa metragem (Help!) lançado em blu-ray. Isso, sem contar que a PUC, uma das mais respeitadas instituições de ensino do país, promove um curso de extensão sobre a banda, que já teve a primeira turma formada.
A força da banda é tanta que transformou uma simples travessia de pedestres em um dos locais mais visitados do mundo: Abbey Road, em Londres, com dezenas de milhares de turistas repetindo a foto clássica do último álbum gravado por eles.
“Os Beatles trouxeram alegria, harmonia, letras, talento, sonoridade, tudo novo, inédito, surpreendente. Eles surgiram no momento em que o mundo estava triste com as crises do pós-guerra, em plena Guerra Fria, com os jovens desanimados, sem perspectivas, subjugados pelos pais. A música, o carisma, a beleza e a alegria dos Beatles contagiaram jovens do mundo todo. Suas canções são alegres, mesmo as com letras sérias e reflexivas, como Help! A construção melódica, as harmonias vocais, a sonoridade de seus instrumentos, tudo soa fresco e novo até hoje. Eles são a música clássica do próximo século”, diz o músico, colecionador e escritor Ricardo Pugialli, que participará do debate sobre a banda.
O Brasil, por incrível que pareça, tem uma relação única com a banda. Se nos últimos anos Paul McCartney tem sido figura recorrente nos palcos do país, enfrentando até uma nuvem de gafanhotos – como aconteceu este ano em Goiânia – e tem até hoje o seu recorde de público no show realizado no dia 21 de abril de 1990, no Maracanã (184 mil pessoas), os brasileiros estão na história do grupo, já que fã uma brasileira gravou com a banda na canção Across the Universe (1968) e um outro fã trocou correspondências com John Lennon, meses antes de sua morte.
Lizzie Bravo, a fã que teve sua voz eternizada em uma canção do grupo, tem uma memória dos integrantes da banda muito diferente da que o modo como a maioria das pessoas os vê hoje em dia.
“Lembro deles serem muito simples, sem nenhum tipo de afetação, de serem engraçados, muito acessíveis. Nosso convívio quase que diário com eles envolvia tirar fotos, pedir autógrafos, bater um papinho que dependia do humor de cada um deles naquele dia e se estavam com tempo ou atrasados. Muito diferente dos “deuses” em que se transformaram com o decorrer do tempo”, conta Lizzie.
No evento desta segunda, organizado pelo músico e jornalista Heitor Pitombo, integrante da banda Bulldog, que vai interpretar o disco Abbey Road na íntegra, As pessoas que tiverem curiosidade sobre a história da banda, além de conhecerem os instrumentos usados por John, Paul, George e Ringo, vão ouvir relatos sobre o dia-a-dia do grupo.
“Pensei em fazer o evento no Rival por vários motivos. Em primeiro lugar, considero que os fãs cariocas dos Beatles são carentes de eventos desse tipo, em que podem ir a um só lugar e ver uma exposição, adquirir itens, assistir a palestras e a um show com convidados, tudo girando em torno da música dos Beatles. A cidade tem várias bandas covers do grupo e creio que, organizando o tributo do Bulldog ao Abbey Road dessa maneira, a gente esteja criando um fator diferenciador em relação a tantas atrações semelhantes que o Rio oferece. Por outro lado, acho que o próprio fato de uma banda apresentar um disco inteiro dos Beatles ao vivo é algo que chama bastante a atenção dos fãs, e também é algo que não se vê muita gente fazendo por aqui”, diz Heitor.
Mas a pergunta permanece: qual a razão de tanta adoração, mesmo após décadas da separação e dois dos seus membros já tendo morrido?
“A qualidade da música”, dispara Lizzie Bravo. “Com certeza influenciaram muita gente, especialmente o pessoal do Clube da Esquina, Tropicália e mesmo as bandas de rock mais recentes”, conclui.
Mas que os menos iniciados não pensem que todo mundo que leva o carimbo de beatlemaníaco é verdadeiramente louco. A maioria se considera (e é) muito mais colecionadores do que qualquer outra coisa, mesmo que isso implique em viajar pelo Brasil (e algumas vezes pelo mundo) para assistir a um show de Paul McCartney ou Ringo Starr. Da mesma forma que em qualquer partido político ou ambiente de trabalho, há picuinhas, turmas e desafetos entre os colecionadores.
“Fico muito triste, sem falar irritado e indignado, com pessoas que inventam encontros, situações e fatos ligando-as aos Beatles, para oficializar coisas que nem perco o meu tempo em comentar. Quem realmente pesquisa, coleciona e está ligado ao lado sério do “colecionismo” dos Beatles, sabe que são picaretas e mentirosos. Só fico triste pelos novos fãs, que caem nestas conversas. Mas o tempo sempre conserta as coisas e as mentiras tem pernas curtíssimas”, explica Ricardo Pugialli.
Loucuras a parte, a experiência de ouvir um dos melhores discos de rock de todos os tempos ao vivo, na íntegra, é algo que todos os que cresceram ouvindo canções como Come Together, Here Comes the Sun ou Something, não devem perder.
Serviço:
Beatles Abbey Road
Local: Teatro Rival Petrobras – Rua Álvaro Alvim 33 / 37 – Cinelândia
Data: 19/8
Horário: 19h30
Preço: Entre R$ 25 e R$ 50