O texto abaixo é cheio de verdades e meias verdades. Que o senso crítico dos jornalistas parece estar indo pelo ralo, eu concordo. Que a maioria não é sindicalizada é fato, e que as condições de trabalho vêm se deteriorando, é incontestável. Porém, não adianta ser filiado a algum partido político ou ser membro de alguma chapa do seu sindicato para ter uma visão crítica do que acontece.
Alguns anos atrás um “patrão” disse que pensava em me pagar um curso sobre política e sindicalismo. O comentário, feito em tom sarcástico, me fez rir, diante da paixão apartidária e do ranço sindicalista obsoleto que reinava na ocasião. Como já disse algumas vezes nesse espaço, nem mesmo os “especialistas” sabem explicar alguns fatos políticos – como as manifestações que aconteceram no país nas últimas semanas, já que as dos últimos dias, coincidentemente organizadas por sindicatos e centrais sindicais foram de uma falta de adesão constrangedora – e, alguns deles, ainda parecem querer reviver os tempos nos quais sequestrar um embaixador era um ato que tinha algum valor.
As pessoas parecem não entender que reivindicar mudanças ou melhorias passa longe de uma panfletagem peseudo-esquerdista e ofensiva. Outro dia li uma publicação de um sindicato onde, em quatro páginas, eles fechavam todas as portas para um acordo para a categoria, já que davam porrada em todos os atores que poderiam se tornar aliados.
Não fazer parte das fileiras de algum partido e não participar como membro em alguma chapa sindical não é algo que defenda religiosamente – tudo é uma questão de oportunidade -, mas realmente gostaria que as mentes se abrissem, que cursos de reciclagem política fossem realizados e que os egos e ranços ficassem escondidos naquela última gaveta do móvel que fica guardado na garagem.
Há muita gente boa na política como no sindicalismo, mas também há muitos picaretas e sem noção de que o mundo e as pessoas mudaram e que a luta de uma categoria não passa por discursos inflamados e cheios de vácuo em seus conteúdos.
Nos últimos anos, muitas coisas mudaram na profissão do jornalista. Entre elas, a formação política e a postura crítica, que foram prejudicadas. A afirmação é resultado do estudo feito pela professora e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), Roseli Fígaro, junto com os doutorandos Rafael Grohmann e Cláudia Nonato. Segundo Roseli, os profissionais de imprensa são majoritariamente não sindicalizados, de formação política débil e com pouca capacidade de análise.
A pesquisa completa, que começou a ser feita em 2010, será lançada no próximo mês. Matéria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) revela que as conclusões qualitativas foram as que mais espantaram os pesquisadores. Em resumo, apontam para formação humanística fraca e foco muito claro na técnica por parte dos profissionais. De acordo com o pesquisador Grohman, o que mais chocou foi o depoimento de uma das entrevistadas ao dizer que o curso de jornalismo não poderia ensinar nada mais do que a empresa já tinha feito.
Além disso, há baixa presença do debate do jornalista enquanto profissional nas universidades. “O jornalista poucas vezes se pensa enquanto trabalhador, ele é o super-herói, o salvador da pátria. Acho que o maior crédito do nosso livro é provocar essa discussão. A classe dos jornalistas está trabalhando muito e não está olhando direito para essas questões tão fundamentais”, afirma Grohmann.
Por outro lado, a pesquisa mostra que existe precarização das condições de trabalho e pouco engajamento. “Acredito que isso se dê pela atual situação de empregabilidade e pela precarização desses laços, que tornam a questão da sindicalização e da organização muito frágeis”, explica Roseli.
O estudo ouviu 538 jornalistas no estado de São Paulo por meio de quatro tipos de amostra: profissionais abordados por redes sociais (principalmente via e-mail), profissionais do Sindicato dos Jornalistas, colaboradores contratados por grande empresa editorial e freelancers.
Fonte: Comunique-se
Oi Fernando, tudo bom? Bom o seu texto e concordo integralmente com ele. Sou um dos autores da pesquisa, e não sei se ficou claro pela reportagem realizada, mas em nenhum momento nossa pesquisa falou que se filiar a partido político ou sindicato é a solução. Nenhum de nós é de partido político, muito menos ligado ao sindicato. Inclusive, pessoalmente, eu sou totalmente contra e me afasto dos “ranços” e dos “radicais”. Estamos justamente falando sobre a precarização do trabalho dos jornalistas, parte que você disse concordar. Talvez a matéria tenha dado uma outra impressão. Um abraço!
Leia esta entrevista que a profa. Roseli Figaro deu ao site da UNISINOS que talvez vc possa conhecer melhor a pesquisa. http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/521826-a-debil-formacao-politica-dos-jornalistas-entrevista-especial-com-a-professora-roseli-figaro