Textos jornalísticos podem ter vários estilos. Desde a faculdade, aprendemos que há diferenças entre os textos para jornais (mais voltados para a notícia), para revistas (mais reflexivos e profundos), para colunas (mais opinativos), etc. Cada mídia tem a sua identidade própria e, por mais que a internet e as novas mídias digitais estejam mudando esse panorama, alguns conceitos básicos se mantêm. Entre esses conceitos está, imagino, a ideia de passar alguma informação para o leitor seja o mais básico de todos, principalmente nos jornais diários.
Nos últimos tempos, vêm sendo cada vez mais frequente encontrar textos que parecem terem sido escritos apenas para deleite do próprio autor, sem nenhuma preocupação com o leitor. Dois exemplos dessa nova (má) tendência foram publicados no O Globo – um dos melhores jornais do país e com alguns (inclusive os autores dos textos citados) dos melhores jornalistas do país. O primeiro foi a crítica do filme Django, que ganhou piadas de todos os lados por parecer mais uma tese filosófica do que uma crítica que deveria nortear o leitor sobre a qualidade (ou falta de qualidade) do longa, o segundo uma entrevista com Pedro Bial e Jorge Mautner (publicada no dia 3 de janeiro de 2013) , que, imagino, devesse ser sobre o filme ou sobre os bastidores do filme ou sobre as diferentes personalidades de autor e biografado. Os textos talvez ficassem deslocados mesmo se publicados em uma coluna assinada pelo jornalista ou em um espaço como esse – um blog onde o dono tem a liberdade de postar o que quer que queira, da maneira que queira, na ordem que queira, sem precisar se preocupar com nada além da sua própria vontade.
Que fique claro que esse desabafo não é contra os autores das peças citadas – jornalistas com cultura e talento que não permitem qualquer tipo de dúvida -, mas contra esse desapego com o que considero mais importante: a satisfação do leitor. Creio que mesmo em um jornal de (e com leitores) classe A+, como O Globo, a missão de informar deva ficar em primeiro lugar. Pela categoria e competência dos nomes envolvidos acho que o problema pode ter sido apenas de pauta/edição. Será que faltou pulso para dizer: “fulano, isso não ficou bom“?
Provavelmente teremos alguém para ler esse texto e pensar: “quem esse idiota acha que é para fazer esse tipo de crítica?“. Bem, se não sou um expert, estou longe de ser um fusquinha que pergunta o que é uma série histórica ou que dorme durante uma entrevista. Sempre teremos os maus profissionais que terão seus bons momentos, os bons profissionais que passarão por fases ruins e os medianos que podem ganhar ou perder qualidade, dependendo do trabalho. Todos esses podem conseguir resultados satisfatórios ou não. Todos podem (vez ou outra) desempenhar bem funções para as quais não são talhados, mas é sempre preciso alguém que responda pela orientação, pela linha editorial – mesmo que seja um fusquinha.
Voltando aos textos, não importa o quão brilhantemente escritas estejam alguma passagens deles, o que fica é a impressão de que essa nova tendência (se é que isso pode ser considerado uma tendência) pode acabar se transformando em uma egotrips sem controle, tornando editores reféns de excelentes repórteres.
Como jornalista, fico preocupado com o que vejo. Como leitor, fico desapontado. Estou errado?
*Fusquinha é uma expressão que criei para definir aqueles jornalistas que podem, no máximo, escrever sobre os fusquinhas das corporações, ou seja, que não deveriam estar escrevendo sobre nada, muito menos gerenciando alguma redação.
**Me permito o direito de não colocar os links para os textos que critiquei, mas eles são facimente acessíveis pelo site do jornal.