Quentim Tarantino é um daqueles raros diretores/roteiristas que conseguiram criar um estilo e virar um adjetivo no mundo do cinema. Desde seu primeiro longa de destaque – Cães de Aluguel (1992) – até o brilhante Bastardos Inglórios, passando pela saga Kill Bill e pelo cult Pulp Fiction, ele criou uma linguagem própria e facilmente identificável. Se foi ignorado pelo Oscar e perdeu o Globo de Ouro de melhor diretor para o bom moço Ben Affleck, ele mostra em seu novo trabalho, o bang-bang Django Livre – que entra em cartaz nesta sexta-feira -, que consegue depurar toda a violência e o humor corriqueiros, em mais uma história de vingança, criando, muito provavelmente, o melhor filme de sua singular trajetória.
O longa, tem referências aos westerns spaghetti dos anos 70 – incluindo canções compostas por Ennio Morricone, criador de alguns dos mais conhecidos temas do gênero -, e toques de modernidade – há também um rap na trilha, além de sangue, muito sangue, marca registrada de Tarantino. O elenco é um show a parte, com excelentes interpretações das estrelas Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson, Jamie Foxx e, principalmente, de Christoph Waltz, que depois de viver um oficial nazista em Bastardos Inglórios volta ainda melhor na pele de um caçador de recompensas que livra um escravo (Django/Foxx) para auxiliá-lo na captura de foragidos da lei e na missão de recuperar a esposa de Django, vendida como escrava para um rico fazendeiro do Mississipi. A performance menos brilhante, apesar muito boa, é a de Kerry Washington
A história, que se passa na época que os negros ainda estavam longe de ganharem a condição de seres humanos livres e com direitos iguais aos dos brancos, segue cheia de tiros e uma violência que não choca, já que o humor doentio contido no roteiro ameniza o que poderiam ser situações mais fortes – a discussão sobre usar ou não máscaras por parte de um grupo de brancos preconceituosos liderados por um sensacional Don Johnson é o melhor exemplo disso. Do início ao fim do longa os risos correm soltos e Tarantino sabe exatamente como fazer o público esquecer-se do sangue da história. Sua participação explosiva no filme é impagável.
O personagem Django não é novo. Em 1966, o astro Franco Nero já havia interpretado o papel – e faz uma participação especial nessa nova aventura -, mas essa nova produção redefine um dos mais icônicos títulos do gênero. Da atuação do elenco principal, passando pelas participações especiais e pela trilha sonora que mistura Pat Metheny, John Leggend, Jammie Fox e as canções instrumentais de Morricone, tudo é extremamente bem planejado e executado. A fotografia, a edição, o roteiro e a direção ajudam a criar um clássico, daqueles que serão lembrados por décadas.
Indicado ao Oscar apenas pelo seu roteiro e pelo impressionante trabalho de Christoph Waltz, Django Livre tem tudo para se tornar o primeiro blockbuster do ano.