Dividido entre o balanço com influências de Jorge Ben Jor e ecos de Seu Jorge, e o samba com o climão dos pagodes mais bem produzidos, Rogê lança seu novo CD, Brenguelé (Coqueiro Verde). Neste quarto CD, Rogê conta com a luxuosa produção de Kassin, que já assinou trabalhos de Los Hermanos, Caetano Veloso, Jorge Mautner, Vanessa da Mata e Mallu Magalhães, e um repertório com composições de gente da estatura de Seu Jorge, Arlindo Cruz e grupo Revelação.
O sotaque é indiscutivelmente carioca e canções como Presença Forte (Rogê, Seu Jorge e Marcelinho Moreira), faixa de abertura do trabalho, fazem parte dos melhores momentos do disco, que nem sempre segue linear na qualidade do material e arranjos, apesar do nível elevado na maior parte do tempo.
Em uma primeira audição, Brenguelé pode parecer um pouco mais diluído na comparação com os lançamentos anteriores – Rogê (2003), Brasil em Brasa (2008) e Fala Geral (2010) -, mas essa primeira impressão vai ficando de lado depois da segunda ou terceira vez que se escutam as músicas do disco. Provavelmente essa impressão fica a cargo de Kassin e de uma produção que não era característica dos trabalhos de Rogê.
Mesmo para os que não são grandes fãs do estilo do cantor, é inegável que canções como Na Veia, parceria com Marcelinho Moreira e Arlindo Cruz, e Depurando Ideias, de Rogê e Wilson das Neves, têm qualidade para agradar qualquer um que goste de música, seja samba, rock, pop, blues ou jazz. É música de primeira.
Infelizmente, nem todo o disco segue a mesma linha. Algumas canções menos inspiradas não se valeram dos arranjos e do capricho nas interpretações. Colocadas como faixas bônus, Lagoa e Mais Um Mais Uma, são canções melhores do que algumas das 12 que fazem parte oficial do disco, talvez uma mostra de que o repertório, apesar das estrelas, não era mesmo dos melhores.
No balanço final, Brenguelé se coloca como um trabalho que serve para mostrar um lado mais sofisticado de Rogê e abrir caminhos para voos que ultrapassem seu habitat natural.
Texto publicado originalmente no jornal O Fluminense