Cauby cantando de maneira cruel

Um dos maiores cantores do Brasil, Cauby Peixoto, já foi rotulado de brega, já foi ídolo das massas (principalmente das mulheres) e já teve altos e baixos. Tudo, porém, sem nunca deixar de interpretar suas canções com o glamour, brilho e paetês que consagraram o seu estilo.

As caixas – produzidas e distribuídas pelo selo Discobertas – chamam-se simplesmente Cauby!… (Vol. 1) e … Cauby! (Vol. 2), trazem álbuns lançados originalmente entre 1968 e 1986, uma fase que encontrou o cantor em um momento de transição, quando seu canto foi considerado ultrapassado, até o ressurgimento em grande estilo com a gravação de Cauby! Cauby! (1980).

Depois do grande sucesso na década de 50, Cauby se viu meio perdido no fim dos anos 60 e 70. Foram vários os lançamentos, vários produtores e muitas tentativas em gravações de todos os estilos (sambas, boleros, tangos, etc). O resultado foram discos irregulares, onde sempre havia um ou outro grande momento, mas não conseguiram repetir o sucesso popular do seu auge. Esse panorama é mais visível nos discos editados na primeira caixa – Um drink com Cauby e Leny (1968), O Explosivo (1969), El Explosivo (1969), Raridades (1967/1971), Superstar (1972) e Cauby (1976).

Mesmo com a qualidade inconstante dos álbuns, há momentos memoráveis, como a interpretação de Zingara – canção vencedora do Festival de San Remo e que ganhou versões em português e espanhol -, uma nova gravação de Conceição (registrada no início dos anos 70) e Rei dos Ladrões. Nas demais gravações, mesmo quando o repertório ou os arranjos não ajudavam, Cauby mantinha a intensidade e brilho que o caracterizam.

A segunda caixa, com lançamentos entre 1979 e 1995 – Cauby Peixoto (1979), Cauby! Cauby! (1980), Estrelas Solitárias (1982) Cauby! (1986) Cauby canta Sinatra (1995) e Raridades vol. 2 (1972/1976) – já traz a redescoberta do artista, que voltou aos holofotes e reencontrou o sucesso, principalmente devido à faixa Bastidores e ao seu refrão: “Cantei, cantei, como é cruel cantar assim”, que se tornaram tão importantes para o cantor quanto Conceição foi na primeira fase de sua carreira.

Destaque também para Cauby canta Sinatra, onde divide o microfone com gente do calibre de Gal Costa, Ney Matogrosso, Dionne Warwick, Rosa Maria, Gilberto Gil e Caetano Veloso, recriando canções que foram imortalizadas pela “Voz”. Alguns momentos desse disco são memoráveis, como o dueto com Rosa Maria em The Lady is a Tramp, enquanto outros – principalmente Cheek to Cheek, com Caetano Veloso – pecam pelos excessos dos intérpretes.

Os discos de raridades são cerejas de um bolo. Com faixas gravadas em projetos paralelos e compactos lançados pelo cantor, comprovando que Cauby tentava encontrar seu caminho após o surgimento do rock e da bossa nova.

Os CDs, que vêm com encartes originais, fichas técnicas e notas escritas pelo jornalista Rodrigo Faour, autor de uma biografia do cantor, devolvem aos fãs a chance de reencontrar os trabalhos de Cauby com um tratamento ainda inédito em qualquer mídia, mesmo o bom e velho vinil.

Cauby!… (Vol. 1) e … Cauby! (Vol. 2) são um verdadeiro trabalho de garimpo musical para colocar em perspectiva a carreira de uma das mais belas vozes já aparecidas no Brasil.

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