Antes de chegar ao texto propriamente dito gostaria de explicar umas coisinhas aos fãs que certamente irão me chamar de imbecil ou pior. Respeito todos os artistas e tenho que admitir que shows como os de Ivete Sangalo e Rhyanna são super produções, emora estejam muito mais para aulas de aeróbica do que para espetáculos musicais. Claro que as opiniões abaixo são minhas e todos têm o direito de discordar, mas peço que leiam com um mínimo de atenção, pois estou cansado de fãs xiítas falando idiotices nos comentários.
Acabou o Rock in Rio 2011. A quarta edição do festival – que já tem a próxima edição, em 2013, confirmada – foi uma grande mistura de ritmos e influências, deixando claro que o rock do título já não é mais o grande alvo dos organizadores. Juntar artistas como Claudia Leitte, Ivete Sangalo, Rhyanna, Kate Perry e Shakira com gente do calibre de um Elton John, Stevie Wonder, Red Hot Chili Peppers e Metallica é um convite a uma indigestão musical.
No fim, entre erros e acertos, o saldo musical foi bom, principalmente no Palco Sunset, que teve alguns dos melhores shows do evento (Joss Stone, Erasmo Carlos e Arnaldo Antunes). No Palco Mundo, Elton John, Stevie Wonder, Metallica, Coldplay e os brasileiros Frejat e Skank protagonizaram alguns dos melhores momentos do festival, com ótima participação do público.
Há quem vá dizer que o Guns N’Roses foi uma boa escolha para encerrar o evento, mas a banda é hoje – assim como o Evanescence – está mais para banda cover de si mesma do que um grupo de rock com algum objetivo.
Leia como foi cada dia
O primeiro dia da maratona musical começou com encontros que funcionaram de maneiras distintas. Se Ed Mota, Rui Veloso e Andreas Kisser, tiveram seus momentos, Sandra de Sá e Bebel Gilberto decepcionaram e Paralamas e Titãs não repetiram a boa química que produziu até um CD. Sobre a participação de Milton Nascimento cantando Love of My Life (do Queen) pode-se dizer que se aproximou muito de um bullying musical. Mas o melhor show, musicalmente falando, foi de Sir Elton John, que ficou espremido entre Kate Perry e Rhyanna e acabou deixando o palco sem bis e sem tocar Your Song. Bola fora da organização em colocar um artista desse peso com ídolos teen.
Neste dia os transtornos para conseguir chegar e sair da Cidade do Rock, as enormes filas nas lojas e banheiros e o elevado número de furtos mostraram que a organização havia subdimensionado a estrutura necessária para receber 100 mil pessoas.
Sábado (24/09)
Talvez o dia mais fraco do festival. Com exceção do Red Hot Chili Peppers, nenhum outro artista causou expectativa ou teve uma performance que possa ser considerada boa, apesar do esforço e da boa vontade do público com o Capital Inicial. A diferença de qualidade entre este dia e qualquer outro das edições anteriores foi gritante. No Palco Sunset a confirmação da má forma de Milton Nascimento (uma pena) e o desastre musical de Marcelo Yuka, Cibelle, Karina Buhr e Amora Pêra.
Pano rápido.
O dia mais pesado e mais rock foi aquele que conseguiu reunir a melhor seleção do Rock in Rio. Afinal, Motörhead, Slipknot e Metallica e a junção do Sepultura com Tambours Du Bronx funcionou e resgatou o espírito original do festival: Muitas guitarras, muitos hits e muita adrenalina. Coisa de gente grande, sem os gritinhos e afetações típicas dos adolescentes. Valeu o sufoco.
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Com os problemas de transporte e alimentação resolvidos e um bom reforço no número de seguranças, a multidão se deliciou com a homenagem a Legião Urbana e o histórico show de Stevie Wonder, que levou o público ao delírio ao puxar Garota de Ipanema e Você Abusou. Show de quem é gênio e sabe conquistar uma grande plateia. Outra grande atração da noite foi Joss Stone que, escalada para encerrar o Palco Sunset, teve sua apresentação adiantada para não concorrer com o palco principal, já que havia muito mais gente para ver o show da inglesinha do que as ‘atrações principais’. Outro erro da organização. Joss terá sempre lugar no palco principal de qualquer festival realizado no país.
Shakira e Ivete Sangalo em um festival de rock. O que dizer? A sexta-feira foi mais um dia fraco, no qual Lenny Kravitz se destacou. Mesmo não sendo uma grande novidade no Brasil, o músico levantou o ‘nível de rock’ do dia, que foi totalmente heterogêneo na sua proposta, aparentando muito mais uma falta de foco de quem escalou os artistas.
Sábado (1/10)O penúltimo dia do Rock in Rio talvez tenha sido o mais equilibrado em termos artísticos. Frejat e Skank tornaram a Cidade do Rock em um grande karaokê, com todo mundo cantando os sucessos de duas das mais populares bandas de rock brasileiras. Rock com muitas pitadas pop, claro. Os mexicanos do Maná esbarraram no idioma e no excesso de baladas, o que fez com que o público desse uma esfriada até a entrada do Maroon 5 e do Cold Play, que fez um dos melhores shows de todo o RIR. Assim como os brasileiros, Chris Martine e seus colegas de banda precisaram de pouco mais de 1 hora para provar que música de boa qualidade faz a diferença. No Palco Sunset, o destaque foi o encontro de Erasmo Carlos e Arnaldo Antunes, que teve um público muito grande e serviu para que o Tremendão fizesse as pazes com o Rock in Rio, no qual foi violentamente vaiado em 1985. Aos 70 anos, Erasmo mostra que ainda tem lenha para queimar.
A grande atração era o Guns N’Roses, mas que brilhou mesmo foi o System of a Down. Detonautas, Pitty e Evanescence não foram mal, mas não deram nem para a saída em comparação com o SOAD. No palco secundário, Mutantes e Tom Zé levaram um pouco de psicodelismo para a Cidade do Rock, em uma mistura que nem sempre funcionou bem, mas que proporcionou momentos bonitos, como a participação de Beto Lee (filho da rainha Rita Lee) em Ando Meio Desligado. Teria sido melhor ver Rita com seus ex-companheiros de grupo, mas isso não parece que vai acontecer nessa dimensão.
Já o Guns – hoje uma banda cover de si própria – repetiu sua rotina de atrasos e demorou mais de 1 hora para entrar no palco, por volta das 2h30 desta segunda-feira (3/10). Com a promessa de um setlist de 38 músicas e um show de 3 horas, Axl Rose entrou no palco sob uma chuva torrencial e aplausos de uma legião de fieis fãs. No fim, pouco mais de 2h20 de espetáculo e bem menos que as 38 canções programadas. Chegou ao fim a 4ª edição de um festival que mudou a história dos concertos de rock no Brasil.
No fim das contas, um empate entre boa música e apelo comercial. Espero que 2013 traga atrações de mais peso em sua escalação.
Fotos: Divulgação
Texto publicado originalmente no site do jornal O Fluminense