A sexta-feira amanheceu ensolarada. Não que as nuvens desaparecessem totalmente, mas o prenúncio de um dia mais seco já era uma boa notícia. Depois da preguiça da manhã, a entrevista com Ron Carter foi confirmada, devendo acabar pouco antes da partida para a praia da Tartaruga, onde Armandinho e Stanley Jordan prometiam surpresas em relação ao show da noite anterior. Tudo correu dentro do esperado. Carter estava solícito e falante. Foram 40 minutos de um bate-papo que você vai ler aqui em breve. Era a hora de Armandinho e Stanley -parte II.
O caminho até a Tartaruga demorou. Eram muitos carros e pessoas nas ruas, dando a sensação de que a audiência seria grande. Não deu outra: lotação máxima. Só caberia mais gente se fosse dentro do mar. As surpresas aconteceram mesmo. Apesar de manter a base da noite anterior, Armandinho atacou de Smooth (hit do guitarrista Santana) e se mostrou bem mais a vontade nos duetos com Jordam. Novamente Eleanor Rigby e Little Wing foram os destaques, além da improvisação de um tema não ensaiado, por conta da insistência do publico, que sofreu com problemas no som, na parte final da apresentação. Mesmo assim, ninguém arredou o pé do lugar.
Volta rápida para o hotel. Banho, jantar e corrida para não perder Ron Carter.
Ron Carter é, guardando as devidas proporções, um Paulinho da Viola do jazz. Elegante, educado, atencioso e com uma música sofisticada, nem sempre recomendada para grandes platéias. Entretanto, o respeito que o senhor de 73 impõe fez com que todos ouvissem atentamente até mesmo os temas mais complicados. Carter disse que tenta contar uma história em cada show. Na desta sexta foi uma bela história. Ponto para o artista e para a organização do evento, que o colocaram para abrir a noite mais cheia do festival. Carter, que estava acompanhado de Russel Malone (só ele, uma estrela com brilho próprio que até já foi uma das atrações do festival) e Mulgrew Miller, deixou o palco com um sorriso de quem teve uma boa noite de trabalho.
Na sequência, subiu ao palco o pianista Joey Calderazzo e sua música mais balançada, com, claro, grandes espaços para seus solos. A platéia, que parecia preparada para longos temas instrumentais, lotava o espaço da Costa Azul e se animava a cada número. Calderazzo fez um set enxuto, mantendo a atenção da grande platéia que se apertava no imenso espaço do palco principal. Os organizadores já calculavam cerca de dez mil pessoas, que poderiam ser bem mais, caso o tempo ruim não tivesse espantado muitos turistas que deixaram de ir até Rio das Ostras.
A penúltima atração da noite foi Michael “Patches” Stewart. O trompetista e sua banda levantaram muita gente das cadeiras, com seu som suingado, bem ao estilo de New Orleans. Já tendo tocado com gente do calibre de Al Jarreou, Stewart dividiu solos com a banda e passeou pelo soul, funk e jazz, claro. Visto do palco, era clara a satisfação dos músicos, que muitas vezes não acreditavam que havia tanto público para sua música em uma pequena cidade do Rio de Janeiro.
Para terminar a noite, como vem acontecendo nas últimas edições do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, a última atração do sábado é um artista que misture jazz, blues e pop, com bastante balanço. Nesta oitava edição, a artista escolhida foi uma veterana do festival. Taryn Szpilman, acompanhada pela Rio Jazz Big Band, grupo formado por seu pai. A bela figura de Taryn, num deslumbrante vestido vermelho, e sua voz potente, passearam por clássicos do blues, soul e pop. Ray Charles, Michael Jaclson, James Brown e Ottis Reading foram lembrados em uma apresentação cheia de carisma. Taryn reafirmou o acerto no repertório do seu primeiro CD, recebendo a mais ruidosa manifestação do público, que ainda teve a oportunidade de ver uma canja de Big Joe Manfra e Jefferson Gonçalves.
Mais um dia acabava depois das 3h. Agora era esperar o sábado, o dia mais blues do festival, com a apresentação de Rod Piazza e da figuraça, já escolhido como o gente boa do evento, T.M. Stevens, que promete unir James Brown com Miles Davis. É esperar para ver.
Fotos: Jo Nunes, Jorge Ronald e Cezar Fernandes
Vídeos: Fernando de Oliveia e Jo Nunes.