Aromas e paisagens da infância sempre são procurados pelos adultos. Significam a pureza perdida, os tempos de falta de responsabilidade, de flertes e diabruras nem sempre inofensivas ou inocentes. Outro dia Anthony Bourdain lembrou que sempre pergunta quais aromas lembram a infância dos chefs que entrevista. No seu último programa na Espanha, Bourdain foi até o restaurante Etxebarri, onde o chef Victor Arguinzoniz criou uma série de grelhas especiais para gralhar seus pratos, que levam um tipo de carvão diferente de carvão (também produzido no local), feitos com madeiras diferentes. Tudo para manter intacto os aromas da infância.
Mesmo quem não foi de subir em árvores, comer frutas no pé e outras aventuras naturais, guarda boas lembranças de locais, vistas e perfumes. O espírito fica mais leve, a alma sorri e até o andar fica mais solto.
O que me deixa um pouco surpreso é ler e ouvir pouco sobre os aromas e lembranças que fazem mal. Sim, porque há momentos nos quais o coração aperta, a respiração fica difícil, os olhos enchem de água e você é tomado por náuseas.
Lembranças de algo que não deveria ter acontecido, de um diálogo que nunca deveria ter sido travado ou de uma frieza que jamais pensaria ser possível existir podem fazer
corredores encolherem, dando vontade de correr e sair dali, de um lugar que faz parte da sua vida e que agora é evitado como uma casa mal-assombrada.
Difícil crer que uma xícara de café pode trazer de volta tanta coisa ruim e tornar aquele colírio perfeito para esconder as lágrimas que insistem em cair.
Melhor deixar que os aromas fiquem apenas nas cozinhas de nossas mentes.