Dúvidas (by segunda a sexta)

Alguns blogs são obrigatórios. Alguns textos são imperdíveis.

Na lista que fica ai do lado direito do blog, há alguns endereços que não podem passar desapercebidos. O segnda a sexta é mantido por cinco coleguinhas e recebe também a colaboração de convidados. Cada semana um tema e vários textos brilhantes pelo mesmo.

Abaixo um exemplo do nível dos textos encontrados por lá.

Será?

Luciene Braga

Ele virou as costas e se foi, depois de acariciar o rosto dela com um afago que ela queria e não permitiria que acabasse.

Saiu pela porta da frente calmamente, enquanto as pernas dela tremiam, mas ela nem notava. Nunca seu olhar foi tão fixo e perdido.

Ele bateu com as mãos fechadas na porta do elevador e até se esqueceu da câmera. Imediatamente transbordou a fúria que jamais deixaria que ela visse. Chorou de tremer nariz, corpo todo e as profundezas da alma dócil de criança, até tapar a boca para não urrar feito animal na jaula. Quando a porta do elevador abriu, suspirou, porque achou que morreria sem ar.

Ela quebrou o telefone com um arremesso olímpico (anos depois, orgulhou-se disso) e só não xingou porque queria uma palavra melhor para levar no espírito ao entrar no quarto e lavar o rosto diante do espelho. Olhar-se virou tarefa estranha. Tentava acompanhar a transformação do rosto para se dizer aquela, mas era duro não ter mais os olhos com brilho.

Ele pisou na rua movimentada de sábado e jurava encontrar chuva, mas o sol queimava anos solares.

Ela titubeou diante da porta. Dura.

Ele corou ao pensar em voltar atrás. Mordeu as falanges da mão, com gosto salgado.

Ela se doeu e caiu no chão do corredor, por onde, de fato, já correra, lembrava-se, dele ou atrás dele, em brincadeira secreta de crianças.

Ele titubeou diante da poça. Sentiria falta do jornaleiro.

Ela abraçou as pernas e mordeu os joelhos. Salgados.

Ele entrou no carro e ligou o rádio. Dolby.

Ela tomou um banho e se perguntou se algum dia deixaria de sentir aquela dor. Alívio.

Ele questionou se um dia voltaria a falar. Tossiu.

Não mudaram de cidade, mas ela havia mudado completamente.

Ela guarda um cartão. Ele, um isqueiro.

Não havia dúvida que não eram feitos um para o outro.

O amor. Não sabem aonde foi pirar.

Um dia, uma cartomante tocou no assunto. Não fosse por isso, ele nem se lembraria. Mas resolveu ligar para ela e contar. Ela estava no teatro e marcou com ele na pizzaria em frente. Estranhou estar tão disponível. Sorte? Azar? Brincadeira? Gincana? Punheta? Arte? Palpite? Euforia? Drogas? Ousadia????

Quando se viram, duvidaram.

One Reply to “Dúvidas (by segunda a sexta)”

  1. Esse texto é sensacional mesmo, Fernando. Esse tema foi muito bacana. O próximo, adianto para você, será música… Também promete. beijos

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