Fui ver Hamlet no domingo. Boa companhia, vários amigos indo fazer o mesmo programa e a certeza de que a escolha seria melhor do que assistir ao jogo entre Brasil e Equador. Para não ser influenciado por nenhuma opinião alheia, decidi não (re)ler nenhuma crítica feita na época da estréia.
Hamlet não é simples e Shakespeare nem sempre é fácil de se fazer palatável para o grande público, necessário para encher um teatro do tamanho do Oi Casa Grande. Por isso, fiquei intrigado ao ver o cenário (??!!) montado. Dois ‘módulos’ de dois andares parecendo andaimes, montados em cada lado do palco. ‘Deve ser uma versão modernosa’, pensei.
Mais espantado fiquei ao ver o figurino dos atores ao entrarem em cena. Pareciam usar roupas de alguma grife, com poucos acessórios. Uma armadura e uns poucos vestidos para as mulheres (alguns bonitos, é verdade). O cenário era complementado por uma poltrona para o Rei, um banquinho e um tapete empoeirado.
A “‘música incidental“‘ (assim mesmo, com aspas triplas), composta por um dos membros daquela banda que tocou no mesmo dia do RadioHead, é lamentável. Um conjunto de riffs e acordes que poderiam servir como introdução para alguma das canções da banda.
Wagner Moura (quase sempre excelente) escorrega em ser over em alguns momentos e tentar acrescentar doses de humor ao personagem, com gritinhos desnecessários. São muitos gestos, pulos e agachadas que não acrescentam nada. Muito melhor quando ele minimaliza sua atuação.
O texto passeia pelo tradicional e o moderno sem conseguir se focar em algum deles de modo satisfatório, dando a impressão de que a direção ficou meio perdida. Até mesmo as frases mais conhecidas sofrem pequenas modificações.
A essa altura já deu para notar que estava achando tudo muito chato, apesar da admiração em ver atores decorando um texto tão longo e complicado (são quase três horas de espetáculo, dividido em dois atos) e de aparecer até um disco dos Beatles como acessório em uma das cenas. Comecei a olhar em volta (ainda no primeiro ato) e contei 5 (CINCO) pessoas dormindo nas quatro primeiras filas. Uma delas nem voltou após o intervalo.
A certeza de que a coisa não foi bem (apesar do teatro lotado) foi quando ao final da peça uma pessoa gritou ‘Bravo!’ e conseguiu chamar a atenção de todos que estavam por perto. Ficou aquela pergunta no ar: ‘Quem é essa louca?’
Decidi não publicar nada no Mistura Interativa, pelo simples fato de que as críticas já foram mais ou menos nesse tom na época da estréia e porque eu sempre procuro ser mais suave, coisa impossível neste caso.
Para quem nunca viu uma montagem de Hamlet e só conhecia o texto (excelente tradução do Millor, à venda em qualquer banca de jornal) achei satisfatório. Faz força para ser moderno, mas é daí?
Sim, o cenário e os figurinos são pobres, mas não fazem diferença. Gostei da idéia de usar uma câmera projetando no fundo do palco cenas ao vivo, do palco e dos bastidores. Funcionou bem na narração do afogamento de Ofélia.
A música funciona, os acordes dissonantes nas passagens são ok. Quanto a isso, o melhor foi a musicalização dos cantos de Ofélia, meio Chico Buarque, descaradamente Los Hermanos.
O que importa é a interpretação, certo? A interpretação é exagerada, concordo. Muita gritaria o tempo todo. E muitas vezes as falas são por demais apressadas, corridas, como para encaixar tudo no tempo da montagem. E quando percebi que a atriz que faz Gertrudes era a mesma que dublava a mãe da Família Dinossaros ficou difícil levar o texto a sério.
No mínimo, valeu por ver Capitão Nascimento e o Baiano num duelo de esgrima.
Já vi essa peça, no Rio… Realmente tinha muita gnt dormindo,eu na metade eu tava quase! Mas gostei do que vi e ofinal foi legal… O maior problema de uma peça de quase 3 horas é que, exatamente pelo tempo, ela acaba se tornando muito cansativa.
Eu achei que os gritinhos eram um pouco de exagero também, mas na hora agnt ri muito ^^’
Acho que mesmo assim vale a pena ver a peça!