O F(r)ases da Vida, assim como a maioria dos espaços pelos quais sou responsável, é um espaço democrático. Sendo assim, abro espaço para a crônica de uma amiga querida.
Comentem, comentem!
Que PIB, que nada! O negócio é Roberto Ribeiro e Paulo Diniz (**)
Marion Monteiro (*)
Neste sábado cinzento no Rio de Janeiro, depois de uma semana de alta dos juros, de PIB e “robustos” resultados da economia brasileira, nada melhor do que ouvir, com fervor religioso, ou até como ato de contrição, o sambista Roberto Ribeiro, cara e coração do Império Serrano.
Muitos podem discordar, com toda a razão. Entendo pouco de samba, mas considero Roberto Ribeiro o maior sambista de muitos tempos. Uma perda. Morte trágica. Os mais jovens desconhecem a excelência de sua voz, o repertório “robusto”, o cadenciado, o xote, o samba de roda, o pagode, o vozeirão. Um intérprete de primeira linha, mas que anda esquecido atualmente nas rádios e lojas de CDs.
Mas ninguém nunca vai cantar o samba-enredo “Estrela de Madureira”, de Acyr Pimentel e Cardoso, como ele, que não tinha vergonha nenhuma de ser chamado de puxador de samba, pois sempre soube que era bem mais do que isso. Um intérprete magistral do maior samba-enredo de todos os tempos, esse do Império Serrano. (Muita gente pode discordar, porque, digo mais uma vez, não entendo nada de samba, só das pretinhas, não do samba, mas do computador).
Um recado para o blog: continuo mangeirense xiita como você, viu Vicente? Mas ouvir o canto visceral de Roberto Ribeiro em tempos de Selic, de PIB, de casamento de atriz global e de Furacão Ike virou um oásis. Nada mais do que um som que ameniza a fúria. Isso remete a um outro intérprete e compositor genial mais ainda esquecido pelos velhos e novos e pelos seus colegas do meio (ou fim) musical: o piauiense Paulo Diniz. Cadê você?
Há anos, as informações sobre o paradeiro de Diniz davam conta de que ele estaria muito, mas muito doente num hospital em Niterói. Cadê a gravadora? Cadê os amigos? Onde está Paulo Diniz, maravilhoso cantor de voz anasalada e uma cantiga gostosa? Autor, junto com Baiano Odibar (creio eu) de músicas inesquecíveis: “Um chope pra distrair”, ” Pingos de amor” e ” Piri Piri”. Cântico delicioso.
Cadê você, Paulo Diniz? Me emociono sempre quando ouço “Bahia Comigo”, também em parceira com Odibar. Cadê você, Paulo Diniz?
(*) Marion Monteiro é jornalista
(**) Texto originalmente publicado no Blog do Vicente, no jornal Correio Brasiliense em 13/09/08
Taí, pra quem diz nada entender de samba, a articuista mandou muitíssimo bem. Realmente e RR continua sendo a maior expressão do samba e merece todas as considerações. Quanto ao Paulo Diniz, vamos soltar a voz para que se faça como dizia Mestre Nelson Cavaquinho: “se alguém quiser fazer por mim que faça agora”.
valeu, jaraga, gostaria que todos tivessem a sua reflexão e maturidade. obrigada pelas palavras carinhosas. voce é que está de parabéns……vamos ver se alguém neste mundo sabe do paradeiro de paulo diniz
Disse tudo. A música brasileira tem raízes e valores que o tempo não apaga e nem supera. Sempre tem alguém de bom gosto e boa memória para reavivar a lembrança.
Taí o autor de Todo Menino é um Rei, Quitandeiro, Acreditar e outras pérolas que Roberto Ribeiro deixou para nosso deleite. E, realmente cadê o autor de Um chopp pra distrair, Pingos de amor, e O meu amor chorou?
Valeu Marion é muito lembrar de coisas boas…
Quando jovem fui guitarrista de conjuntos musicais (meados de 60 até 75). Em 76 entrei para o BB e naquela época havia uma lei do banco que dizia “funcionário não pode ter outra atividade”. Larguei o conjunto da época para ser bancário e numa passagem por Pinheiro (MA) – terra do Sarney, onde trabalhei 02 anos – numa roda de bar, saquei meu violão e toquei umas 3 ou 4 músicas do Paulo Diniz. Meus amigos, foi sucesso total. As pessoas, naquele fim de mundo, me perguntavam de quem eram aquelas músicas e eu, que sempre que as tocava, me emocionava, contava algumas histórias do Paulo Diniz. Acreditem, um belo dia, numa ida a São Luis (que ficava a 100 km de distâncias, 22 dos quais atravessando a Baía de São Marcos em um barco “gaiola”) recebí diversas encomendas para adquirir discos do Paulo Diniz (ainda não existiam CD’S ). 27 anos depois, no carnaval de 2009, voltei a Pinheiro, numa viagem solitária, de moto, somente para tentar rever os amigos daquela época. Dos quase 60 ou 70 companheiros só reencontrei 6… O restante? morreram, desapareceram, transeriram-se, enfim, tomaram seus rumos. Porém, procurei a dona do bar onde toquei e entoei “pingos de amor”, “piri-piri”. “josé” e outras. Encontrei-a num pequeno restaurante na rodoviária, já basante combalida e tomada por um câncer que lhe corrói o pâncreas, mas, firme e forte, ainda trabalhando. Se eu continuar, as lágrimas vão molhar o teclado e poderão provocar um curto circúito no meu computador. Um abraço a todos.