Acreditar, ter convicções e objetivos são algumas das razões que nos fazem evoluir, seguir em frente e, em resumo, viver. Mas, apesar da crença popular, não são os sonhos que unem as pessoas. Na verdade, os sonhos são, na maioria das vezes, solitários. Mesmo que alguns ideais sejam compartilhados, é muito difícil que as ideologias e objetivos sejam os mesmos de outro ser vivo. Sempre há alguma pequena diferença que muda bastante o resultado final da coisa. Por outro lado, o sofrimento e a solidariedade nos momentos de dor são os fatores que realmente unem as pessoas.
Em tempos onde os direitos individuais estão turvos, os posicionamentos políticos acerbados e as relações romântico/amorosas colocadas em segundo plano em nome de uma independência pra lá de contestável, fica a sensação de que as pessoas estão cada vez mais indo para longe uma das outras, mesmo quando agrupados em passeatas em prol deste ou daquele posicionamento.
Tenho saudades do tempo nos quais os dias eram apenas dias e não uma data mundial por alguma coisa qualquer – importante ou não -, dos tempos nos quais uma paquera poderia terminar em namoro e não em ação judicial – praticamente determinando a morte do amor à primeira vista -, dos tempos nos quais você podia brincar com seus amigos da maneira que a intimidade permitisse, educar seus filhos utilizando os métodos que achasse necessário ou pudesse andar pelas ruas das cidades e estádios de futebol sem ter o receio de que pode ser agredido por conta de uma preferência pura e exclusivamente pessoal.
Tenho saudades do tempo nos quais as pessoas gostavam de debater com aqueles que tinham pensamentos e posições opostas às deles – uma prática que sempre eleva o nível de qualquer discussão e serve para, muitas vezes, sedimentar a convicção que tínhamos antes do início da conversa.
Não quero que sejamos unidos apenas pela dor de uma perda ou tragédia. Espero que os sonhos possam ressurgir, como nas palavras e pensamentos do reverendo Martin Luther King Jr., cuja morte completa 50 anos e cujos ideais são seguidos por muito pouca gente. Hoje, não há uma ditadura nos termos governamentais, mas há uma série de ditaduras de pensamento que separam cada vez mais as almas e os corpos. Não quero nem tenho a pretensão de fazer um tratado psicológico da sociedade brasileira (ou mundial), mas respeito cada vez mais mentes como a do professor Eugène Lonesco, que muitos devem conhecer apenas por sua obra ligada ao teatro do absurdo, capazes, gostando ou não do trabalho desenvolvido pela pessoa citada, criarem frases e pensamentos que nos façam refletir.