Morreu, na madrugada desta quinta-feira (9/3), aos 90 anos, o maestro, produtor e arranjador dos Beatles, Sir George Martin. Martin, considerado por muitos o Quinto Beatle, foi o responsável por assinar o primeiro contrato de gravação da banda, além de produzir e arranjar praticamente todas as canções do grupo.
Tive o prazer de conhecê-lo e estar com ele em duas oportunidades – uma entrevista e durante o ensaio para o concerto do Projeto Aquarius que ele regeu, em 1993. Ele era um gentleman até mesmo quando reclamava, com razão, de algo (como a falta de vontade da OSB durante o ensaio). Não há como expressar o pesar pela sua morte. Como amante da musica, fico triste em pensar que um dos maiores responsáveis pela melhor música produzida no Século XX (e talvez em todos os séculos) não está mais entre nós. O mundo, e não só a música, fica muito mais pobre.
De 1962 até 1969, Martin foi o responsável por traduzir as ideias do Quarteto de Liverpool em sons. São dele as orquestrações de clássicos como Yesterday, A Day in the Life, Strawberry Fields Forever e I Am the Walrus, além de participar, como músico, de várias gravações da banda. A única orquestração que não foi escrita por ele (She´s Leaving Home, do disco Sgt. Pepper’s), sempre foi citada por ele com uma pontinha de mágoa. Pelo jeito, até mesmo os gentleman podem ser possessivos.
Discos como Revolver (1966) e Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band (1967) não teriam existido sem o talento de Martin. Na verdade, nada que ouvimos hoje existiria. Se Love Me Do e as canções da primeira fase dos Beatles podem soar ingênuas, a maestria com a qual navegou durante a fase psicodélica e cheia de drogas da banda é prova de que ele tinha um talento gigantesco. O próprio John Lennon dizia que sem George Martin, muitos dos sons que imaginou jamais teriam sido traduzidos corretamente.
Além da parceria com John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o produtor trabalhou com nomes como Peter Sellers, America, Jeff Beck, Cheap Trick, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Kenny Rogers, Neil Sedaka, Jimmy Webb, Dire Straits, Earth, Wind and Fire, Peter Gabriel, Elton John e Sting, entre muitos outros, sendo condecorado pela rainha Elizabeth com o título de Sir em 1996, um ano antes que Paul McCartney recebesse a mesma honraria.
Desde a década de 1990 o produtor diminuiu o seu ritmo de trabalho, principalmente por conta de uma perda na audição, passando muito das suas tarefas ao filho, Giles, que, entre outras coisas, trabalhou em vários projetos dos Beatles, inclusive a remasterização do catálogo da banda.
George Martin nasceu no dia 3 de janeiro de 1926, em Highbury, Londres. A causa da morte ainda não foi divulgada.
George Martin no Brasil
Pouca gente pode lembrar, mas em 1993 George Martin esteve no Rio de Janeiro para participar de uma edição especial do Projeto Aquarius, em comemoração aos 30 anos do primeiro single dos Beatles (Love me Do). O concerto, que aconteceu debaixo de muita chuva na Quinta da Boa Vista, acabou por deixar uma marca permanente em Martin. Uma das atrações do show, o coral das Meninas Cantoras de Petrópolis, impressionou tanto o maestro que ele fez com o coral uma versão da música Ticket To Ride, lançada em seu CD In My Life, que também contou com participações de artistas como Celine Dion, Phil Collins e Sean Connery. Em 1997, ele voltou ao Brasil para gravar cenas para um documentário sobre música.
Martin também aproveitou a passagem pelo Rio para conhecer um de seus ídolos, o também maestro Tom Jobim.
Repercussão
Várias personalidades do mundo musical escreveram depoimentos sobre a morte o produtor. Em seu site oficial, Paul McCarney escreveu: “Estou muito triste em ouvir a notícia da morte do querido George Martin. Tenho tantas lembranças maravilhosas desse grande homem e elas vão ficar comigo para sempre. Ele era um verdadeiro cavalheiro e era como um segundo pai para mim. Ele guiou a carreira dos Beatles com tanta habilidade e bom humor que se tornou um grande amigo meu e da minha família. Se alguém mereceu o título de quinto Beatles, esse foi George. Do dia no qual ele deu aos Beatles o nosso primeiro contrato de gravação, até a última vez que o vi, ele foi a pessoa mais generosa, inteligente e musical que eu tive o prazer de conhecer….O mundo perdeu um verdadeiro cavalheiro que deixou uma marca permanente na minha alma e na história da música britânica“.
Ringo Starr, o outro sobrevivente da banda também comentou a morte do amigo através do seu Twitter: ” George fará falta. Obrigado por todo seu amor e gentileza, George. Paz e amor.”
Biografia em vídeo
Quem tiver a curiosidade em conhecer um pouco mais sobre a carreira e o talento de Martin pode procurar o DVD Produced by George Matin. É uma história sobre uma importante parte da música pop do Século XX.