Mesmo com todas as nossas mazelas o Brasil ainda vai bem em muita coisa.
Começa a funcionar para valer este mês o novo supercomputador brasileiro, instalado na sede do Laboratório Nacional de Computação Científica, no Quitandinha, em Petrópolis-RJ. Batizado de Santos Dumont, ele ocupa 84 metros quadrados e consome R$ 450 mil em eletricidade por mês. E leva o Brasil ao mundo medido em petaflops.
“Era um grande sonho da comunidade científica brasileira, que abre espaço para uma série de desenvolvimentos que exigem performance mais alta. Antes dele ou o pesquisador tinha que pensar pequeno, adaptar seu projeto à capacidade, ou fazer acordos no exterior, o que implica em dividir uma patente, por exemplo”, diz o diretor do LNCC, Pedro Leite Dias.
A fase de testes começou ainda em abril deste ano, quando a máquina encomendada à francesa Atos/Bull ficou pronta. Elas são, na prática, três núcleos distintos com diferentes focos de aplicação à disposição do Sinapad, o Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho que fornece capacidade computacional a universidades e institutos de pesquisa interligados a 100 Gbps.
Por isso o Santos Dumont já está na lista dos 500 maiores supercomputadores do planeta (top500.org), divulgada duas vezes por ano. Liderada pelo chinês Tiahne 2 e seus 33 petaflops, a lista é dominada por equipamentos dos EUA (233 deles), mas onde figuram bem japoneses, europeus, russos e chineses. Em toda a América Latina são sete supercomputadores – e seis deles ficam no Brasil.
O Santos Dumont responde pelos três deles (148º, 178º e 208º. Outro é o Cimatec Yemoja, no Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia do Senai de Salvador (165º), seguido pelo Grifo04, da Petrobras (um Itautec em 285º), pelo Cray do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (347 ). O sétimo supercomputador em terras latinas é o Abacus I, no México (255º).
A mudança é grande. Até aqui, o Sinapad e seus nove centros (UFRGS, Unicamp, UFRJ, UFMG, UFPE, UFCE, INPA e INPE, além do LNCC) reuniam 168 teraflops de pico de capacidade. O mais robusto entre eles também ficava no LNCC e rodava a 60 teraflops. Com capacidade de processamento de até 1 petaflop, o Santos Dumont é até 25 vezes mais rápido.
O projeto original era ainda maior. Pensado a partir de projeções de demandas do Sinapad, ele seria uma supermáquina de R$ 126 milhões – mas o dinheiro sumiu nos cortes orçamentários ainda de 2014. Quando voltou a aparecer, eram R$ 60 milhões. “O Santos Dumont não chegará ao que foi planejado lá atrás, mas é escalável para ter a capacidade ampliada em 40%”, conta o diretor do LNCC.
Ainda assim, o reforço fará diferença especialmente para três grandes aplicações que demandam muita capacidade computacional: modelagem molecular (para desenvolvimento de fármacos), engenharia aplicada à energia (sismografia do pré-sal, mas também em engenharia de materiais) e meteorologia de alta resolução.
Mas não só eles. Para o LNCC, o Santos Dumont também será muito usado em nanotecnologia, química, física, astronomia, meteorologia, oceanografia e geofísica, e a própria computação (leia-se, big data). Na biologia, além dos fármacos há aplicações já existentes por sinal, como em medicina assistida por computação com aplicativos de treinamento de cirurgiões em técnicas de recomposição de aneurismas cerebrais.
Fonte: Convergência Digital