O mercado global de aplicativos móveis foi um dos temas do painel “A América Latina no cenário mundial de apps móveis”, do 14º Tela Viva Móvel, realizado em São Paulo. O assunto aborda a perspectiva de conectar mais de 3,5 bilhões de pessoas até o ano de 2019, o que expande o potencial do mercado global de aplicativos móveis. Com este potencial em mente, algumas empresas latino-americanas já estão empenhadas em obter uma fatia desse mercado, avaliado na casa dos trilhões de dólares.
O CEO da Movile, Fabrício Bloisi, afirmou que “com 5 bilhões de pessoas conectadas, em dois ou três anos teremos uns dez aplicativos com bilhões de usuários. É uma oportunidade de trilhões de dólares. Estamos falando da criação de um mercado de US$ 1 trilhão a US$ 2 trilhões em até três anos”.
O Playkids é um dos aplicativos de sucesso mundial da Movile. O projeto foi lançado no Brasil há cerca de dois anos, mas para que conseguisse conquistar o mercado mundial, a Movile investiu em um escritório no Vale do Silício, nos Estados Unidos, estudou particularidades de diversos mercados internacionais e hoje está presente em mais de 15 países em cinco idiomas, incluindo a China. O app soma mais de 10 milhões de downloads. De acordo com Bloisi, há um mercado global de 800 milhões de crianças para o consumo de apps.
“Só nos Estados Unidos, 75% das crianças de até 5 anos têm acesso a smartphones ou tablets. Temos um milhão de crianças por dia utilizando nosso aplicativo em média por 30 minutos. É um milhão de livros lidos dentro do PlayKids por 300 mil crianças por dia”, revela o executivo. Menos de 10% dos usuários pagam pelo conteúdo do app, atualmente. No entanto, o tempo de permanência na plataforma supera um ano por usuário.
“É preciso pensar grande para ser uma empresa global. Não é suficiente pensar o que não tem sido feito no Brasil. É preciso estudar o suficiente para entender o que está acontecendo no mundo, quem são os grandes players, como estão se capitalizando, quais são seus números, seus apps, seus benchmarks. É preciso se expor ao mercado internacional”, aconselha.
De acordo com Bloisi, a Movile realizou diversos erros durante sua empreitada com o PlayKids, até conseguir um formato adequado e que fizesse sucesso. “Nossa primeira oferta foi um fracasso total, mas depois de errar muito a gente começa a acertar, e conseguimos montar uma oferta capaz de competir no mundo inteiro”, afirma.
Em 2014, a Movile conseguiu uma quantia significativa em investimentos. A empresa levantou mais de R$ 200 milhões em aportes de investidores, sendo que R$ 125 milhões foi da sul-africana Napster. Bloisi estima que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento girem na casa de R$ 1 milhão por semana.
Outra empresa sul-americana que conseguiu alcance global foi a Etermax, criadora do game social Perguntados. O app conta com cerca de 160 milhões de downloads, sendo que 20 milhões estão no Brasil. “Somos pessoas comuns fazendo coisas extraordinárias, criando coisas a partir do que aprendemos”, conta o CEO da empresa, Máximo Cavazzani.
O aplicativo conseguiu grande sucesso entre os espanhóis, se tornando o terceiro maior mercado em penetração móvel no mundo, com 1,2 milhão de usuários mensais do game e mais de 100 milhões de mensagens entre usuários trocadas dentro da plataforma. Segundo Cavazzani, “a inovação é um processo contínuo, e precisamos oferecer algo diferenciado para o usuário, mas adaptado para cada país. Não é apenas uma questão de idiomas, mas de entender a cultura de cada lugar”.
Um outro bom exemplo de empresa brasileira que conseguiu fama mundial por meio de seu aplicativo é a Easy Taxi. O foco da companhia criada no Rio de Janeiro no final de 2012 foi a expansão para mercados emergentes. O app foi criado para tentar criar um mercado de táxis mais eficiente, lembra o co-CEO da Easy Taxi, Dennis Wang. “Hoje estamos em mais de 400 cidades de mais de 30 países, com mais de 400 mil motoristas cadastrados e quase 18 milhões de downloads”, conta.
O mercado de táxis na América Latina, de acordo com Wang, é estimado em cerca de 40 bilhões de euros, dos quais 15 bilhões se concentram apenas no México. “Desenhamos uma cartilha de como expandir para outros países. Mas como o McDonald’s, que tem sanduíches diferentes em cada país, aprendemos ao longo do tempo que temos que adaptar o serviço a cada lugar. Na Arábia, onde a mulher não pode sair sozinha ou dirigir, exceto de táxi, o foco são exatamente as mulheres — são 75% dos nossos usuários”, conta o coCEO.
A operação no continente asiático obteve muitos desafios como motoristas jovens, sem smartphone e analfabetos nas Filipinas. “Tivemos que dar smartphones, o app utilizou cores para ações como aceitar (verde) ou recusar uma corrida (vermelho) e fizemos acordo de whitelist para não descontar o serviço do plano de dados do taxista. Bloqueamos o Facebook inicialmente porque eles gastavam todo o plano de dados na rede, mas eles fizeram greve”, recorda Wang. O executivo também lembra da importância de ter escalabilidade. Cada um dos usuários traz de 5 a 10 novos e a empresa tem que estar preparada para tal crescimento.
Fonte: Canaltech