Sempre achei que ping-pongs só se sustemtam caso o entrevistado seja realmente relevante. Esse é o caso de Tallis Gomes, o mineiro criador do Easy Taxi, o aplicativo para chamar táxi que está presente em vários países além do Brasil e é extremamente eficiente.
Bom ler algo dito por alguém realmente inovador.
Depois de sofrer pela espera de um táxi em uma noite chuvosa no Rio de Janeiro, veio o insight necessário para enxergar um mercado ainda inexplorado. Foi, então, que o mineiro Tallis Gomes, correu atrás, suou a camisa e lançou o Easy Taxi, um aplicativo pioneiro no serviço móvel de chamada de táxi. O app facilita a conexão entre passageiro e taxista, viabilizando a corrida com apenas alguns cliques, Hoje o app é usado em 23 países, sendo considerado o maior aplicativo mobile de serviços do mundo.
A Easy Taxi já registrou mais de quatro milhões de downloads e recebeu investimentos que ultrapassam a casa de R$ 55 milhões, o que a torna a startup de mobile que mais recebeu investimento na história do país. Mas longe de ter sido fácil. Como parte do especial “2014: o ano da sua startup”, divulgado na edição 24 da revista Administradores, conversamos com Tallis Gomes, que contou todos os detalhes dessa trajetória.
Hoje o sucesso do Easy Taxi é inegável. Mas como surgiu a ideia de fazer esse aplicativo?
A Easy Taxi é a minha quarta empresa, a terceira formal, e eu sempre estive muito envolvido nesse mundo de empreendedorismo. Eu morava no Rio de Janeiro nessa época e, em junho de 2011, ia acontecer um campeonato de startups chamado Startups Weekend. Nessa oportunidade estava um dos top três de gurus de startup, o David McGovern, e eu pensei: ‘bom, quero ir lá, no mínimo, para conhecer o cara’. E na verdade eu estava cansado de fazer empresa de economia real, de serviço, mas que não agregava tanto valor para a sociedade.
E eu sempre tive muita implicância com trânsito. E tive uma ideia de fazer um aplicativo para ônibus, que basicamente funcionava com geo-localização, onde ele apontaria quais ônibus que passariam no local que você estava para o destino que desejaria. Então como os ônibus contêm GPS, então, de fato, daria para acompanhar o ônibus vendo onde ele está e tudo mais. E tive essa ideia no Startup Weekend. Lá é uma competição de três dias em que você cria um protótipo navegável da sua ideia. O David McGovern passou na mesa da minha equipe – eram umas 16 pessoas – e disse: ‘Não faz isso não, pois a Google está fazendo algo parecido e vocês vão perder tempo fazendo isso’. Isso desabou o time, cada um foi para o canto e a maioria falou: “olha, como não tem ideia mais, você era o líder do time, desculpe, mas vou para outro time”. Quando fui ver, ficaram eu e mais três pessoas na mesa, os caras ficaram com pena de mim, e passamos o dia inteiro tendo ideias que tentávamos validar, que era um problema real.
Na hora de ir embora do hotel na sexta-feira, estava chovendo muito, e a gente tentou um taxi para ir embora. Mas não tinha nada de taxi.
Liguei para cooperativa e disseram que em 30 minutos o taxi estava ali. Depois do tempo eles ligam dizendo que não conseguiriam um taxi logo. Eu sai bravo na rua para tentar conseguir um taxi, debaixo de chuva, e foi nesse tempo que veio um insight: “por que eu não uso o mecanismo de geo-localização para poder conseguir um taxi para as pessoas?”. E aí, de fato, as pessoas iam poder diminuir o uso do carro próprio e ter um impacto na diminuição do trânsito. A gente acabou sendo campeões desse campeonato e a Easy Taxi nasceu assim.
E esses outros negócios anteriores que citou? O que você pode falar deles?
Eu comecei a empreender em 1999, com 14 anos. Eu sou de uma pequena cidade de Minas Gerais, chamada Carangola, e sempre tive muito ligado com tecnologia. Eu lembro que quando chegou a internet, e comecei a ver alguns exemplos nos Estados Unidos de jovens ganhando dinheiro com a internet. E eu pensei: “Também quero ganhar dinheiro com internet”, enfim mais não consegui. Mas na época a gente tinha uma banda de Rock e a banda não tinha bateria.
Precisávamos de uma para poder ensaiar e tudo mais. Mas um bando de mineiro quebrado, com 14 anos, não tínhamos dinheiro. Então, tive a ideia de montar um negócio para comprar a bateria. Aí, todo mundo duvidou: ‘Tá bom, monta o negócio aí, que a gente tá esperando’.
Eu fiquei pensando nas possibilidades e coincidiu com o boom de celulares com câmera, todo mundo queria uma. Mas lá no interior não tinha uma loja que vendesse celular assim. E aí eu descobri o Mercado Livre e pensei nele para trazer o celular para a cidade. Como eu não tinha um capital para começar, eu dava print nas ofertas, montei um book com um monte de imagens de celulares usados e comecei a levar para o colégio para mostrar aos professores, como uma revenda. Aí um deles comprou e deu certo. Aí os outros começaram a comprar e isso deu para comprar a bateria da banda.O outro negócio foi algo em 2005 e 2006. Eu trabalhava em uma rede de cinemas. Na época eu fiz uma ação de mídia social que deu muito certo, lotou a sala de cinema – naquele período ninguém pensava em mídia social. Acabei que, depois disso, resolvi explorar o mercado e abri uma agência de game estação de mídia social – a Eletronic Spartan. Obviamente, eu quebrei em seis meses, consegui apenas dois clientes e eles não se mantiveram. Foi minha primeira grande falha e depois disso fui para o mercado: trabalhei na Unilever, como gerente de Marketing da Ortobom também.
Depois resolvi criar a Tech Samurai, agência de desenvolvimento de software, e começou a dar muito certo. Larguei a faculdade de Marketing, na ESPM, e vendi a minha participação na Tech Samurai e veio a Easy Taxi
Eu vi que vocês ganharam várias premiações de startups. Você pode um contar um pouco dessas conquistas?
Fomos muito felizes em premiações. Tudo que foi possível ganhar, a gente já ganhou. Eu sempre entendi que a mídia seria crucial para que o aplicativo funcionasse. Então sempre foi uma área que demos muita atenção, apesar de que os empreendedores tendem a negligenciar isso. Então pensei que para chamar a atenção da mídia tinha que ganhar prêmio e comecei a inscrever a Easy Taxi em todos possíveis.
Para chegar ao aplicativo que está hoje, nós acabamos testando alguns modelos. No início a gente chegou a ter três modelos de Easy Taxi rodando e o engraçado é que acabamos ganhando prêmios em todos os três. Teve o Startup Weekend que foi o primeiro, depois ganhamos o Startup Farm, que é da Microsoft. Depois teve um crucial que foi o IBM Global Smartcamp Brazil, pois tinha investidores do Facebook, muita gente importante e isso foi um boom na mídia.
O consulado americano chegou a publicar que a gente estava mudando o transporte no Brasil. Mas não estava nada, ainda nem tínhamos definido completamente o melhor modelo do produto. Enfim, continuamos a participar de outras premiações e ganhamos também o TNW Awards e Spark Awards como melhor aplicativo mobile da América Latina.
Acho que foi muito disso: buscávamos visibilidade e um dos caminhos que encontramos era através desses campeonatos. Afinal, o app era algo muito novo e sabíamos que teríamos que mudar a cultura das pessoas relacionadas ao uso do taxi. Nada melhor do que um veículo de credibilidade falando sobre isso.
Qual é o alcance de vocês? Quantas cidades e países?
Esse número muda frequentemente, mas hoje são 80 cidades no mundo, em 23 de países diferentes, e quatro continentes.
Quais foram as principais dificuldades? Ou, melhor: quais foram os principais desafios encontrados?
Foram tantos desafios, deixa eu pensar… Acho que o maior de todos foi mudar a cultura de uso das duas partes: dos taxistas e dos passageiros. Nós somos um Marketing Place de serviço. O que é isso? Você imagina os árabes na antiguidade e chegava um espertinho como uma bancada na feira e dizia: ‘eu não tenho produto e nem cliente, mas eu tenho a bancada’. E a bancada era complicada de ter na feira. Então, ele chamava um comerciante que tinha fruta e fazia uma proposta: ‘coloca na minha bancada a fruta e você me dá um percentual na venda para os clientes’. Aí, ele também ajudava e ficava gritando na feira que existia uma bancada na feira vendendo fruta. Isso é Marketing Place. É o que a gente faz adaptando para nossa realidade: fazemos a ponte entre o taxista e o cliente.
Você ter que gerar oferta e demanda e fazer isso de forma equilibrada é hiper complicado. Você tem que trabalhar as duas áreas ao mesmo tempo e que elas cresçam com união, porque se uma área estiver fraca em relação à outra – você ter taxi demais com pouco passageiro – ele vai parar de usar o seu produto ou muito cliente chamando e não ter taxi para atender, o passageiro não vai usar mais porque a experiência não foi boa. Então, esse é um desafio continuo pelo resto da vida.
Mas acho que no início da Easy Taxi o maior desafio de todos foi mudar a cultura dos taxistas cariocas. Você imagina esses caras em 2011, que estava no auge do Nextel e eu falava para eles: “esse Nextel não presta não, cara” e ele: “Como não presta, amigo, isso aqui ajuda de mais”. “Mas a internet é muito boa”, retruncava, e ele: “eu vou querer internet pra que, Doutor, internet é coisa de rico. E eu mal sei mexer no Nextel”. Então, eu tinha que convencer os taxistas e nesse processo enfrentamos uma série de problemas.
Teve um modelo que a gente tentou dar um celular para o taxista. Eu vendi o carro, meu sócio foi pegar empréstimo, mas teve uma hora que acabou o dinheiro e eu disse, a única forma de fazer esse negócio acontecer é fazer com que o taxista compre o seu próprio celular. Temos que mudar a cultura desse público. E eu comecei a ir aos churrascos com os taxistas, comecei a jogar bola com os caras, comecei a ficar amigo dos taxistas que eram chefes de ponto. E a gente foi tentando repassar porque seria útil aderir ao Easy Taxi.
Então, o outro desafio era conseguir que os passageiros passassem a usar o Easy Taxi para gerar corrida para os taxistas. Mas, na época, nem meus amigos usavam o aplicativo (risos).
Enfim, então, eu fui para porta de hotel apresentar o aplicativo para os turistas, principalmente os estrangeiros: ‘Por que você não pega um taxi com a gente, é seguro, você vai pegar taxi na rua e ele vai tentar te enrolar’. E mostrava aos estrangeiros para eles baixarem o aplicativo e usarem. O pessoal ficava maravilhado. ‘Não sabia que tinha isso no Brasil, nunca vi isso no mundo’. E eu ficava o dia inteiro debaixo do sol quente, apresentando o aplicativo, de domingo a domingo, e isso comoçou a dar certo, começou a gerar bastante corrida e volta e meia fazia alguns encontros com os taxistas, tomar uma cerveja e tal. E eles me perguntavam: ‘Mas por que tanto gringo usa esse aplicativo’. Aí, tipo, para dar uma valorizada eu dizia: ‘o Easy Taxi já é um sucesso internacional, está em um monte de país.’ Mas não estava nada. A questão é que isso começou a gerar um boca a boca e mais aderência dos taxistas e dos passageiros.
Em relação aos investimentos obtidos pela Easy Taxi, houve recentemente um forte aporte financeiro de um grupo Alemão. Como surgiu essa proposta? Vocês foram atrás ou existiu um interesse direto deles através das premiações?
Acho que no total a gente recebeu 54, 55 milhões de reais. A gente é hoje a startup brasileira que mais recebeu investimento na história do país. O mobile, sem dúvida. A verdade é que chegou um momento da Easy Taxi que a gente estava com muito fundo de negociação, com muita gente. E eu queria deixar claro isso na entrevista para quem está lendo não cometer os mesmo erros que eu cometi. Eu passei seis meses da minha vida mais procurando investimento do que qualquer outra coisa.
Então, de vez eu fazer o certo, que é o empreendedor executar o negócio, fazer acontecer, eu perdi muito tempo em reunião indo para São Paulo, para Brasília, falando com um bando de investidor e preparando material para apresentar. Foi a maior bobagem que fiz na minha vida, porque investidor ele vai lhe enrolar até você ter um negócio. Um investidor não é ONG. Ele vai investir em você quando você conseguir lhe dar retorno. E eu ficava nesse blá blá blá e nunca acontecia nada. Até que chegou o momento, no final de 2011, que eu resolvi não falar com ninguém mais. Fui focar no meu negócio. Quando saiu o produto e ele funcionou, eu vi que era o momento de voltar a procurar os investimentos e aí começou a surgir novos fundos.
E aí surgiu a Rocket que tinha uma tremenda sinergia conosco, a forma de gerir o negócio. Então, mandei um e-mail para Rocket Alemanha apresentando o Easy. O Rodrigo Sampaio, CEO da Rocket na América Latina, que hoje é meu mentor, respondeu, chamou para conversar e acabou que tudo foi acontecendo até ter o primeiro aporte.
Quais são os próximos passos para o Easy Taxi?
A gente ainda continua nesse game de jogar WAR: de dominação mundial. Ou seja, tem muito que fazer, tem muito país para entrar, operações para melhorar. A ideia é continua expandindo para outras cidades e aperfeiçoar cada vez mais a experiência para o usuário. Estamos lançando também outros produtos, como a carteira virtual, que dá desconto com o uso de cartão de crédito no taxi.
Para encerrar, o que você diria para alguém que deseja começar um startup ou virar um empreendedor de sucesso?
Se ele quer começar uma startup de fato, se não tem nada ainda, eu diria que, ao invés de pensar numa ideia, pense em um problema real. Depois você começa o método de validação: “Será que as pessoas pagariam para resolver esse problema? Quantos eles pagariam? Você conseguiria escalar o produto para resolução desse problema?” Se você conseguir responder sim e positivo para essas três perguntas, com certeza você terá um bom negócio na mão.
Fonte: Administradores
Muy bueno que sugieras y aportes, a mi me lo intente mucho encontrar habitos extraños “publicables” casi siempre si son extraños son muy personales. Un saludo