Considerada a maior banda niteroiense dos anos 60 e 70, o grupo Lobos, está de volta com nova formação, mas fiel à sonoridade psicodélica que os consagrou pelo País
Os que nasceram durante as décadas de 60 e 70 e que acham que a música brasileira da época se resumia ao movimento da jovem guarda, tropicália ou bossa bova, ritmos que encontraram seus principais expoentes no Rio e em São Paulo, podem se surpreender com o nome Os Lobos. Já os mais velhos, que viveram bem essa época, provavelmente vão se alegrar com a lembrança do nome, que é sinônimo de boa música.
Fundada por Cássio Tucunduva, a banda, que já contou em sua formação com nomes como Dalto – aquele Muito Estranho – e que teve grande sucesso com canções como Fanny, Cabine Classe A e Miragem, recentemente foi redescoberta pelos jornalistas Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau, que utilizaram a sua música como tema do casal de protagonistas do filme 1972, volta aos palcos de Niterói com uma apresentação no Theatro Municipal, na próxima sexta-feira, dia 6.
Com um som que mistura, entre outros, Beatles, Byrds e Mutantes, Os Lobos foram (e são), provavelmente, a banda de maior destaque no cenário musical vinda desse lado da Baia de Guanabara, participando de festivais e até defendendo uma canção do então desconhecido Raul Seixas (Eu Sou Eu, Nicori é o Diabo). O grupo gravou alguns singles de sucesso e um LP antológico – Miragem, de 1972 – que, agora, é relançado com faixas bônus pelo selo Discobertas, do pesquisador Marcelo Fróes.
O disco, uma viagem rock-psicodélica por influências tropicalistas, pode ser equiparado ao melhor dos Mutantes, mostrando que já naquela época o rock brasilis made in Niterói era de primeira qualidade, e não merecia todo o tempo em que ficou fora de catálogo. “O que nós fazíamos na época era o que a maioria das bandas fazia (amavam os Beatles e os Stones). Cada um tinha uma influência. Nossas músicas, mesmo as mais rock, tem algo de harmonia que é um pouco diferente, a lá The Mammas & The Papas. E, claro, nós parecemos um puco com Mutantes porque nós somos da mesma época, com algumas letras viajantes, som psicodélico e também tínhamos uma voz feminina”, explica Cássio Tucunduva, guitarrista, vocalista e um dos fundadores do grupo.
Apesar do sucesso nas rádios e da possibilidade de alcançar um prestigio nacional e internacional que rivalizasse com a banda formada por Rita Lee e os irmãos Antunes, Os Lobos se separaram no início dos anos 70, deixando para trás um futuro promissor. Uma reunião ainda aconteceu em 1991, quando o grupo se juntou para gravar um disco e inaugurar o selo Niterói Discos, patrocinado pela prefeitura, mas a volta definitiva só veio mesmo a acontecer em 2013. “Banda de rock sempre briga e com Os Lobos não foi diferente. Houve muita guerra de egos, já que éramos muito jovens e não tínhamos um Brian Epstein (empresário dos Beatles) para segurar a nossa onda. Fizemos discos com repercussão, vários programas da TV com nomes como Elis Regina, etc, mas a gente não se dava conta do que representávamos”, explica Cássio.
A formação que sobe ao palco do Municipal de Niterói conta com dois integrantes originais – Cássio e o vocalista Antonio Quintella – e um apanhado de músicos mais jovens – Denise Pinaud (voz), Rogério Fernandes (baixo), Danielli Espinoso (teclado) e Francesco Nizzardelli (bateria) – que dão sangue novo ao som do grupo, apesar do repertório do show ser quase que totalmente calcado nas canções do álbum Miragem e nos singles anteriores. “Os membros do grupo original já estavam com as profissões consolidadas e foi difícil reunir todo mundo. Escolhemos a dedo os membros da nova banda, conta Antonio Quintella, o outro integrante da primeira formação que subirá ao palco do Municipal.
O espetáculo dessa sexta promete ser uma viagem no tempo, com canções interpretadas com seus arranjos originais, um bom teste para ver se a magia dos Lobos ainda encanta.
“O show vai ser baseado nas músicas antigas, com arranjos originais. Fiz uma versão pra Drive My Car (O Lobo te Ama), dos Beatles, que será a única inédita do show. A intenção é mesmo celebrar a volta e mostrar o som que nos deu destaque no cenário nacional”, diz Cássio.
Mas os planos para a volta dos Lobos são bem mais ambiciosos. No horizonte, existe a ideia de uma grande turnê, além do lançamento de um CD com novas composições.
“Montei um estúdio em casa e pretendo fazer coisas novas e releituras das canções antigas. Tem coisas minhas e do Dalto que não foram lançadas e são boas. Há muito material guardado. Além disso, estamos fazendo contatos com empresários para fazer uma turnê longa no Brasil e exterior” revela Tucunduva.
Serviço
O Teatro Municipal de Niterói fica na Rua XV de Novembro, 35 – Centro de Niterói. Às 21 horas.
Ingresso: R$ 30 inteira e R$ 15 meia entrada.
Censura: Livre.
Telefone: 2620-1624.
Fotos: Evelen Gouvêa
Esse texto também foi publicado no jornal O Fluminense