O vexame do trem-bala e dos metrôs no Brasil

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O Eurostar faz a ligação entre Londres e Paris

O Brasil é mesmo um país com o qual a palavra planejamento não combina. Na maioria das vezes apenas por falta de competência, em outras por ter que ficar abaixo dos interesses político/econômicos de algum grupo de pessoas. O caso do adiamento do leilão para o trem-bala que ligaria Rio e São Paulo é apenas mais um triste capítulo dessa infindável história de falta de visão.

Para começar, este é um projeto que só foi posto para andar por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas, quando todo o transporte ferroviário-metroviário deveria ser a principal prioridade do Governo no que diz respeito a projetos de mobilidade, já que nossas estradas e rodovias, mesmo as privatizadas, já não suportam o fluxo e a demanda de tráfego que passa por elas. Infelizmente, as “prioridades” do Governo mudam toda vez que algum fato novo acontece ou que a pressão de políticos, opinião pública ou empresários vai contra suas ideias iniciais.

mapa-metro-londresO trem-bala já nasceu praticamente morto por conta do seu trajeto e das inimagináveis 11 estações que foram programadas para existir. Pior – pelo jeito essa palavra vai aparecer muitas vezes nesse texto -, com esse novo adiamento, já iremos ter gasto (informação do jornal O Globo) R$ 1 bilhão, mesmo que ele nunca seja saia do papel. Só esse gasto já serve para deixar ainda mais aberta a ferida da desconfiança e da corrupção. Gente: R$ 1 bilhão em estudos de viabilidade?

Só para citar o exemplo mais famoso e próximo da nossa realidade, o Eurostar (que faz a ligação Londres-Paris) tem, além das estações terminais, mais quatro paradas e sua passagem pode sair (dependendo do dia e horário) por pouco mais de R$ 150. Nosso ex-trem teria (segundo estudos) um precinho até mais caro, por um serviço que teria muito menos atrativos do que o Eurostar (lembrando que a Inglaterra é uma ilha e o principal meio de transporte é o avião que, embora mais rápido, tem a desvantagem de sair e chegar a aeroportos bem mais afastados dos centros das capitais do que as gares de trem).

Portanto, bye bye trem bala. Bye bye ligação decente entre o Galeão e qualquer lugar (mesmo que São Paulo).

mapa-metro-paris-francaOs metrôs

Já o caso dos metrôs (e vou me permitir ficar só com os exemplos de Rio e São Paulo) é de chorar. Enquanto os sistemas de Londres e Paris (centenários e, portanto, criados com muito menos tecnologia do que nos dias de hoje) podem ser considerados “organismos vivos” (evoluindo constantemente, até mesmo com o fechamento e abertura de estações em intervalos razoavelmente curtos), nossos sistemas são inacreditavelmente ineficientes e burros, desde a elaboração de seu traçado.

mapa-metro-Rio-de-janeiro-001Quem já viajou sabe que tanto na capital inglesa, quanto na francesa, é possível chegar a praticamente todos os lugares por debaixo da terra e mesmo quando algum acidente ou problema técnico acontece, jamais há um colapso do sistema, como o que vimos no Rio durante a Jornada Mundial da Juventude. A razão? Simples: o traçado das linhas. Na Europa os metrôs foram imaginados em quadrantes (zonas), algo que, com um pouco de boa vontade, pode ser dividido em retângulos onde as diversas linhas se entroncam em vários trechos, impedindo que tudo pare apenas porque a porta de uma composição parou de funcionar, por exemplo. Já no Brasil, foram desenhadas linhas retas, onde qualquer chiclete jogado nos trilhos pode impedir o ir e vir de centenas de milhares de pessoas. Simples, não?

Nossas autoridades, engenheiros, empresários e demais envolvidos nesse projeto parecem usar uma lógica que só pode ser a do lucro (obras mais caras, tarifas mais caras, etc) para que esse modelo se justifique. Uma ligeira comparação nos traçados me deixa com água nos olhos. Isso, sem contar que o Rio é um dos únicos lugares no mundo no qual comprar um bilhete unitário ou bilhetes para vários dias e viagens tem o mesmo custo.

Vou ali enxugar o choro e já volto.

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