Remembrance of things past is not necessarily the remembrance of things as they were – Marcel Proust
Lembranças de coisas do passado não são necessariamente lembranças de como elas eram
Se nós nos definimos pelas nossas experiências, é também verdade que nossas memórias vão mudando com o tempo. A frase de Proust sempre me remeteu as pessoas que tem por natureza deturpar o que aconteceu, seja para poder criar uma nova realidade onde sempre apareça como protagonista, seja para apagar as atitudes que poderiam revelar cenas onde qualidades nada boas pudessem estar em primeiro plano.
Para outros, a tática Alzheimer – de lembrar apenas do que lhe deixa bem – serve para apagar pessoas e fatos. Alguns aproveitam ainda a coleção de lembranças falsas para compilar um livro de memórias que acaba nunca fazendo sentido, já que rola aquele Alzheimer do início do parágrafo.
Uma chave jogada ao chão, um diálogo falado com meias palavras, uma fuga de compromissos ou um afastamento para preservar o seu espaço, podem acabar virando um purê de batatas daqueles bem insosso, sem cor, definição de paladar e pior, sem nada para acompanhar.
Não há papa que tenha poder em concretar uma fé que só se manifesta nas manhãs de domingo, da mesma forma que não há ecletismo que possa superar a ditadura da batucada. Martelar semi mentiras realmente tornam tudo em meias verdades na mente de quem precisa afirmar independência.
A faculdade de saber que as lembranças de coisas do passado não são necessariamente lembranças de como elas eram, pode até significar que a felicidade não tenha sido tão feliz, mas também pode significar que o sofrimento foi bem menos (ou mais?) sofrido.
*Esse texto foi escrito alguns anos atrás e resgatado agora, por conta da vinda do papa (assim em caixa baixa).