Quando subiu ao palco do ‘The Voice Brasil’, no início de setembro do ano passado, a cantora e compositora Ellen Oléria não imaginava que sua vida iria sofrer uma mudança tão grande. Interpretando a canção Carta a Mãe África, do rapper brasiliense GOG, a mulata de óculos gigantes conquistou o público com seu carisma e talento. A potência vocal foi tamanha que os jurados da primeira versão brasileira do programa aplaudiram, elogiaram e disputaram o passe da candidata que, hoje, declara que não imaginava que ganharia a disputa com tantos talentos apresentados.
“Só soube que ganharia quando foi anunciado (risos). Eu falei que a torcida maior era a da Cláudia Leite. Meu olho ficou branco na hora que anunciaram. Minha Iris sumiu”, disse a cantora.
Na ocasião, Ellen disputava o favoritismo com Ludmillah Anjos, quando ganhou com 39% dos votos. Antes disso, ela participou das semifinais com Maria Chrisina, Ju Moraes e Liah Soares.
Sem certeza da vitória, ela revela que a intenção de participar do programa de talentos era a projeção que seu trabalho poderia alcançar. Para ela, a TV é uma vitrine poderosa, como formadora de opinião, porém, não esperava a grande repercussão que suas apresentações geravam.
“Foi brutal. Depois de dois minutos e meio, teve gente que me encontrava, se emocionava nas ruas (e foi bem mais de um) e chorava. Diziam que lembravam da mãe, etc”, revela a artista.
Com escolhas de canções que mexiam com a emoção das pessoas, Ellen seguiu durante o programa como uma das favoritas para o prêmio final. Durante suas apresentações, os telespectadores se manifestavam pelas redes sociais com incentivo e apoio à cantora.
Mas engana-se quem acredita que após o The Voice Brasil, Ellen descansou. Pelo contrário. Além dos preparativos para o primeiro trabalho, a cantora se apresentou, antes mesmo da grande final, na Universidade de Brasília. Como parte do prêmio, ela subiu ao palco do réveillon de Copacabana e fez o show da virada e, mais recentemente, brilhou durante a Parada do Orgulho Gay da capital paulista.
O primeiro CD
Intitulado simplesmente Ellen Oléria, o primeiro trabalho da mais nova voz do Brasil conta com 12 canções, sendo 5 de autoria ou co-autoria da própria artista. O repertório mescla as canções autorais com algumas das músicas que Ellen interpretou no programa.
“Chegamos a esse resultado depois de muita discussão. O repertório acabou ficando muito colorido e muito mais rico do que ficaria se somente eu tivesse escolhido as canções. A coisa ficou cheia de oxigênio, já que as músicas não tinham mais a restrição do tempo de 1min30seg. A gravadora também foi muito gentil em dar espaço para a minha safra autoral e ainda tive a oportunidade de indicar dois compositores da minha cidade – Paulo Djorge e Ricardo Ribeiro, autores da faixa Me Leva.
Como destaques podem ser pinçadas a faixa de abertura – Intuição, de Alceu Valença -, Aqui é o País do Futebol – de Milton Nascimento e Fernando Brant, e que conta com a participação do mentor Carlinhos Brown -, Geminiana – de autoria de Ellen – e a sua excelente versão para o clássico de Hermes de Aquino, Nuvem Passageira.
A colaboração com Carlinhos Brown pode parecer discreta, mas foi fundamental para a finalização do disco.
“Tenho aprendido [com Carlinhos Brown]. Antes mesmo dele me conhecer, eu já andava do lado dele (risos). Com ele eu aprendi a gostar da Marisa Monte, por exemplo. Eu admiro esse “Omelete Man”, por tudo o que ele faz e implementa na sociedade”, diz.
A quantidade de canções conhecidas – Maria, Maria; Taj Mahal, Zumbi, etc – reforçam o caráter interpretativo do CD, que conta com arranjos na medida para dar ainda mais brilho a voz de Ellen, embora o mais importante mesmo seja a força das interpretações. Cada faixa é cheia de personalidade, mostrando uma cantora que nem de longe aparenta ser uma artista de um só momento. Ellen Oléria chegou para ficar e seu disco de estréia já se coloca como um dos melhores lançamentos do ano.
Mais novidades
Para alegrar ainda mais os fãs de Ellen e do The Voice Brasil, a cantora ainda revela que há mais para ser ouvido logo.
“Durante o processo de gravação do disco, eu e o Pedro (Martins) fizemos uma outra canção que vou lançar pela internet e que se chama Mundo Virou. Ela foi escrita em abril e fala desse momento político do país. Foi uma antevisão que fala sobre a felicidade como conceito coletivo e até mesmo de violência policial”.
A letra da canção, disponível no Facebook de Ellen, diz: “Deixo no rosto aquele sorriso/ Porque é preciso felicidade como um conceito coletivo/ Bala, empurrão, fumaça e polícia”. Pelo jeito, a moça é mesmo bem mais do que uma bela voz.
Uma versão desse texto também foi publicada no jornal O Fluminense
Autoria: André Ricardo e Fernando de Oliveira